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House – 8×11 Nobody’s Fault

Por: em 8 de fevereiro de 2012

House – 8×11 Nobody’s Fault

Por: em

David Shore e cia. tornaram a não fazer mudanças significativas na dinâmica da série neste mais novo episódio-evento de House, e isso continua funcionando para mim. Mesmo que esta precaução tenha tornado Nobody’s Fault bem menos interessante do que ele poderia ter sido, é injustiça dizer que ele não tenha passado de um filler ou de um episódio perdido. Na verdade, é por episódios desse nível que acompanhar a série continua valendo a pena. Ainda que não tenha sido um episódio perfeito, Nobody’s Fault é o tipo de material que esperamos de House – ainda mais depois de um desastre como o da semana passada.

Como disse na última review, já faz tempo que House não é o ponto alto da minha semana, no que diz respeito a entretenimento, e quero muito um encerramento nesta temporada. Mas são episódios como Nobody’s Fault que me fazem pensar no quanto esse seriado é único e na falta que ele vai fazer quando terminar.

Quando li sobre o episódio dessa semana, ele me pareceu forçado, gratuito, previsível e  genérico (ER, Grey’s, CSI e mais um punhado de dramas já fizeram algo nesse sentido – além de Three Stories, da primeira temporada da própria House, e Two Stories, da sétima, que tiveram a mesma estrutura, e The Mistake, da segunda temporada, que teve um plot parecido). Talvez exatamente por minhas baixas expectativas o episódio tenha me agradado tanto, mas o fato é que eu encontrei em Nobody’s Fault o feeling que sinto que a série perdeu ao longo dos anos.

Desde o início da divulgação do material promocional, os produtores foram muito honestos em relação a este episódio. Quem assistiu-o esperando mudanças definitivas iludiu-se por si só; o intuito de Nobody’s sempre foi simplesmente dar uma sacudida na temporada. E isso, ninguém pode dizer que este episódio não fez.

O clima pesado era transmitido pelas atuações e pela fotografia, que enfatizava a transição entre os flashbacks e as cenas da interrogação, trazendo uma imersividade capaz de mexer com o telespectador, mesmo que ele pudesse prever o desfecho. O que desperta interesse em Nobody’s não é a dúvida; se Chase ia morrer/ficar paraplégico ou não, se alguém seria demitido ou não, e sim a maneira como tudo foi apresentado – exatamente o contrário do que a série andava fazendo; antes, não sabíamos se o paciente da semana ia morrer ou não, mas o caso era trabalhado de modo tão sem graça que não nos importávamos.

O episódio também conseguiu brincar com a fórmula da série, mesmo seguindo-a passo a passo: House propondo um diagnóstico diferencial enquanto um personagem fixo estava entre a vida e a morte, o próprio Chase se auto-diagnosticando, numa das cenas mais fortes e representativas desta temporada, House tentando salvar o paciente por intermédio de sua mulher… quem estava cansado de casos insossos que em nada acrescentavam à série não tem o que reclamar. A exemplo de outras séries de longa duração, House encontrou uma rotina confortável para seguir (voltando ao esquema das primeiras temporadas, sem modificar demais seu status quo) e, mesmo que eu não seja contra essa desacelerada, um revitalizador como este episódio reascende o gosto de se acompanhar à série.

Felizmente, ao contrário dos delírios narrativos das temporadas recentes de Grey’s Anatomy (me perdoe quem gosta deles), House consegue utilizar episódios que fogem de sua estrutura usual para trabalhar seus personagens (e vamos esquecer aquele Last Resort da quinta temporada). Em Nobody’s Fault, House novamente sente-se culpado e faz de tudo para ser punido pelo que fez, como na situação com Cuddy. Gosto quando eles procuram humanizar o personagem e ainda mantê-lo como um canalha sem coração, mas achei que pesaram a mão nas cenas com Chase (o próprio diz: “ele não queria ser acusado de se importar comigo“. Por quê? Esse tipo de comportamento é infantil demais, e nem mesmo condiz mais com a maneira como House trata sua equipe – vide Thirteen). Falando em Chase, gostei muito deles terem colocado o personagem em evidência de novo. A posição de Foreman em relação à House ficou mais interessante agora que entendemos o quanto um deslize de House poderia custar para ele. Gosto muito de quando a série mostra que existe um elo forte de companheirismo entre aquelas pessoas que agem de maneira tão fria e profissional uns com os outros, e a reação da equipe ao acidente de Chase foi muito acertada. Além disso, Taub não teve seu momento Parenthood, Chi Park teve algumas falas e Adams não estava irritante. Que episódio marcante.

Só acho que um pouquinho mais de ousadia não faria mal. Os métodos de House foram questionados (sorte que eles não tiveram que invadir a casa do paciente), diversas perguntas que os fãs sempre se fizeram foram feitas pelo mentor de Foreman, personagem do Jeffrey Wright (que eu achei que poderia ter sido muito melhor)… bacana. Mas eu queria ter visto toda a atmosfera absurda da série sendo questionada, e pensei que era isso que veríamos do ponto de vista de alguém que vê aquilo tudo de fora, e eu não senti isso. Eles até tentaram, mas tudo ainda funcionava dentro da lógica da série, portanto essa lógica não foi tocada.

A conclusão fácil também deixou a desejar. Pensei que o neurologista que estava julgando o caso fosse irredutível, ético, que ele visse aquela situação sem encantar-se com a genialidade de House ou com a eficiência de seus métodos. A mulher do paciente entra na sala, fala meia dúzia de palavras e ele muda de opinião no ato? Isso me cheirou a preguiça dos roteiristas. Pensei que Foreman conhecia algum podre dele e ia chantageá-lo (o que já não seria um desfecho muito bem arquitetado), mas nem isso. Nada que estrague o episódio, mas a pergunta que ficava para o telespectador não era se House seria absolvido, e sim como, e ela foi respondida com pouca inspiração.

Queria poder terminar essa review dizendo que episódios como esse mostram que House ainda tem fôlego para mais, mas todos nós sabemos que isso não é verdade. Mas continuo defendendo que a série não se encontra em um estado tão deplorável ou sem volta quanto dizem, e que ela ainda pode terminar bem (como Friends ou The X Files, que perderam o gás em suas últimas temporadas, mas nem por isso deixaram de ser clássicas). De qualquer maneira, enquanto a série permanecer no ar, são episódios tão sólidos quanto Nobody’s Fault que eu espero dela, mesmo sabendo que vou me decepcionar vez ou outra.

Ao longo da série, diversos personagens já mostraram estar ficando cada vez mais parecidos com House, e muitos se distanciaram dele exatamente por medo disso acontecer. Atualmente, considerando os acontecimentos de Nobody’s Fault, quem você acha que está mais próximo de se tornar o novo ranzinza do PPTHForeman, Taub ou Chase?

P.S.: A vida profissional de House passando por uma crise dessas e o Wilson nem dá as caras? Os roteiristas querem que a gente desapegue do personagem? Porque se for isso, está funcionando.


João Miguel

Bela Vista do Paraíso - PR

Série Favorita: Arquivo X

Não assiste de jeito nenhum: Reality Shows

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