Eu sou um fã recente de Mad Men. De cara, me apaixonei pela série e assisti à primeira temporada toda num ritmo incansável. Engatei na segunda, mas diferente de muita gente, não consegui ver o mesmo nível de qualidade que a temporada de estreia nos trouxe. Achei algumas histórias desconexas e relativamente mal aproveitadas – o que só me deixou com um sorriso no rosto ainda maior ao ver um arco de tramas aparentemente mais coeso e mais espontâneo nessa terceira season premiere da série.

E que fique claro, eu gostei da segunda temporada, ela tem momentos memoráveis dignos das indicações que recebeu novamente ao Emmy desse ano, mas eu achei ela muito subdividida em tramas de personagens que eu nem achava tão interessantes assim. Pra mim, faltou um foco principal, que destacasse a temporada de uma maneira mais ampla. E, apesar dos meus elogios à estreia dessa terceira temproada, também não consegui pegar nela algum sinal de que o terceiro ano de Mad Men terá algum carro-chefe que possa carregar a maioria das pequenas histórias espalhadas pelos episódios.

Falando do episódio em si, o formato da série continua o mesmo. O que eu achei estranho foi o espaço de tempo entre o final da temporada passada e o início dessa. Eu tinha lido em algum canto que a intenção de Matthew Weiner, criador da série, era fazer com que a história de cada uma das temporadas tivesse um intervalo de 2 anos, percorrendo toda a década de 60. Como eu comecei a assistir a Mad Men faz pouco tempo, não acompanhei muito as últimas notícias da série. Talvez os planos tenham mudado, mas o que importa aqui é que não passou nem um ano desde a season finale da 2ª temporada, já que Betty Draper ainda nem teve seu terceiro filho (ou filha?) com Don.

Por sinal, o outro filho de Don, Robert, mudou de intérprete mais uma vez. Já é a terceira criança que vive na pele do personagem, e mesmo que ele nunca participe de alguma trama importante, esse troca-troca só desfavorece pra que isso algum dia aconteça. É só pegar de exemplo o caso da outra filha do casal, Sally. A atriz tá na série desde o começo e sempre consegue ganhar um destaque maior, até pelo bom trabalho que a garotinha consegue fazer.

Mas deixa eu retomar minha concentração, porque em Out Of Town aconteceram outras coisas mais interessantes, como o passado de Don o atormentando novamente. A sequência inicial do episódio com ele olhando de frente pro seu nascimento e pras condições que sua mãe (uma prostituta) viveu e morreu foi fantástica. Dick, nome verdadeiro de Don, nada mais é do que a tradução mais vulgar que essa palavra pode ter. No parto de seu filho, a mãe de Don repetiu várias vezes a frase que se dirigia ao pai da criança: I’m gonna cut his dick off and boil it in hot fat (Eu vou cortar o pau dele e cozinhá-lo em gordura fervente). É claro que o Don aquecendo o leite e retirando a sua gordura no final dessa sequência não podia ser coincidência.

Outro ponto chave do episódio foi a questão da homossexualidade de Salvatore. A série já havia explororado num dos melhores episódios da 2ª temporada (The Gold Violin) a dificuldade de assumir essa opção sexual em plena América machista dos anos 60, mas foi aqui que vimos o italiano, de fato, efetivar seus desejos. Ou pelo menos um pouco deles, porque logo eles foram interrompidos por um incêndio no hotel – uma eventualidade metafórica não menos sutil do que a cena do leite, e mais uma vez incrível de ver como os roteiristas executam essas ligações sem serem didáticos. O fogo, aliás, também serviu como desculpa pra que encaixassem o Don no quarto de Salvatore, descendo pela escada de segurança. Uma coisa é certa, porém: com ele os seus segredos vão estar bem guardados. Prova disso é no avião, quando, de volta da viagem de negócios, o próprio Salvatore achou que Don iria tocar nessa questão, mas o diretor de criação da Sterling Cooper apenas queria compartilhar sua ideia pra nova campanha da London Fog: o oportuníssimo slogan Limit your exposure.

Como o texto já tá grande e eu não queria deixar passar em branco, vale fazer uma menção rápida ao novo personagem da série: Mr. Price (Jarred Harris). Além de ter feito uma excelente participação em Fringe recentemente como Mr. Jones, o ator também pareceu se encaixar muito bem com o seu novo papel. O novo diretor financeiro da Sterling Cooper já levantou uma disputa interessante na agência, dividindo o cargo de diretor de contas entre Peter Campbell e Ken Cosgrove. O primeiro, ao receber a notícia do cargo dividido, só mostra o quanto o personagem ainda é imaturo, enquanto Ken traz o contraponto de sua tranquilidade habitual. Vai ser muito bom ver como Campbell irá lidar com isso e quais serão as suas tentativas na ambição de conquistar o cargo só pra si.

Enfim, de maneira geral, achei o episódio ótimo. Mad Men não é uma série difícil de se acompanhar: é, sim, uma série difícil de se gostar. Esse 3×01 prova como o ritmo dos episódios só é lento se você não concordar em mergulhar naqueles 40 e tantos minutos, observando cada detalhe, encontrando cada ligação que o roteiro sutilmente nos mostra, aproveitando a oportunidade de ver como alguns valores mudaram completamente – e outros não mudaram em nada. Fico na torcida pra que essa terceira temporada encontre uma boa história para manter um foco principal, deixando não apenas mais rica, mas mais harmônica a experiência de se acompanhar a complexidade das vidas que passam por essa Madison Avenue dos anos 60.