Uma coisa que não se pode negar em Mad Men é sua incrível qualidade técnica. Tudo é sempre muito bem feito: cenários, figurinos, iluminação… Mas uma coisa me incomoda um pouco no roteiro da série: a certa falta de preocupação em conectar ganchos deixados nos episódios anteriores. As duas últimas cenas da 2ª temporada – Peggy e Betty contando a Campbell e Don, respectivamente, sobre seus filhos – não repercutiram praticamente em nada no início dessa nova temporada, e mesmo que a série tenha vários arcos diferentes para tratar, com certeza haveria espaço ali pra que os ganchos deixados fossem retomados.
No caso da Peggy por exemplo: a personagem foi um dos focos principais em Love Among The Ruins, mas sua trama nada tinha a ver com a questão do filho com Pete. O que faz Mad Men se redimir, porém, é que mesmo as histórias mais desconexas são excelentes e conseguem manter o nível que a série apresenta desde o seu começo. O episódio mostrou o deslocamento de Peggy não só na Sterling Cooper, como também em todo o ambiente nova-iorquino em que a garota vive. Enquanto ela tenta encontrar uma nova maneira de atingir o público feminino com a propaganda da Pepsi Diet, o machismo da época fala mais alto e a agência prefere seguir os desejos do cliente: um comercial no estilo Bye Bye Birdie. O engraçado é que, em vez de Peggy manter suas aparências, no final das contas, o que ela resolve fazer é justamente se adaptar àquilo tudo. Assim, ela veste sua máscara de Ann-Margret e vai pra cima de algum garoto qualquer só pra se divertir e tentar entender esse universo mais Joan de ser.
Além da campanha da Patio (nome original da Pepsi Diet), o episódio trouxe à Sterling Cooper os clientes do Madison Square Garden, levantando questões pertinentes até hoje em relação à mídia e como trabalhar com ela. Os empresários enfrentavam forte pressão pública por terem que demolir a tradicional Penn Station pra dar lugar à arena. Depois de uma péssima reunião com Paul Kinsey – que cada vez mais mostra seu comportamento revolucionário – Don ficou pessoalmente encarregado de cuidar dos clientes e deu o conselho mais simples e eficiente que ele podia lhes dar: mudar de assunto. Quando se dá muita atenção às críticas é porque algum sentimento de culpa existe ali.
Seria outra bola dentro do diretor de criação da Sterling Cooper, se Lane Pryce não aparecesse no caminho. A sede inglesa que comprou a agência no final da temporada passada impediu a continuação da campanha por motivos que não ficaram claros nem para o Don. Mas essas motivações específicas não são realmente importantes, já que parece que essa foi só uma prévia das complicações que a venda da Sterling Cooper ainda podem trazer pro restante da temporada.
Outro acontecimento inesperado por Draper no episódio foi a vinda de seu sogro para a cidade. O pai de Betty foi responsável por uma das cenas mais fortes na temporada passada, quando tratou sua filha como se fosse sua mulher. Mas, apesar de Gene não aparentar estar muito mal, também pareceu que “Love Among The Ruins” apenas preparou o terreno pro que poderá acontecer agora que Don vive sob o mesmo teto que o sogro. De certa forma, foi meio repentino o jeito que Don abordou o irmão de Betty pra que o pai de sua esposa morasse em sua casa, mas não é surpresa que as atitudes de Don funcionem desse modo. A complexidade das atitudes do publicitário refletem principalmente na questão do adultério – porém, após Betty descobrir um de seus casos na 2ª temporada, dessa vez as coisas parecem funcionar mais por debaixo das cobertas – com o perdão do trocadilho. No 3×01, Don se relacionou com uma mulher na viagem de negócios que fez, e nesse 3×02, a relação foi muito mais indireta e, ironicamente, muito mais profunda, quando Don sente a necessidade de encostar na mesma grama que a professora de sua filha encosta.
Se essa pequena relação foi mais uma das preparações pro que está por vir, eu já não faço ideia, mas é fato que cada personagem em Mad Men tá sofrendo um grande período de mudanças. O convite de casamento da filha de Roger já denuncia – a data da morte do presidente John F. Kennedy tá cada vez mais perto, e com um dos maiores acontecimentos da década de 60, também tornam-se iminentes os grandes acontecimentos que estão por vir na vida de cada um desses personagens.
