Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Mad Men 4×02 – Christmas Comes But Once A Year

Por: em 5 de agosto de 2010

Mad Men 4×02 – Christmas Comes But Once A Year

Por: em

Eu amo Natal. Amo a época de Natal, o clima de Natal, o cheiro de Natal. Sou fanboy do Papai Noel e vejo com maus olhos quem não compartilha da opinião. Mas tô abrindo uma exceção pro Natal de 1964. Final de dezembro é data de festa, mas muita gente na Sterling Cooper Draper Pryce não tinha motivo nenhum pra comemorar.

Mad Men Don Draper Lee Garner Jr

O Don, por exemplo. Ele não é uma boa pessoa — e isso não é novidade. Eu não saberia contar quantas vezes a gente já assistiu ao cara traindo a Betty. Mas o que ele fez com a sua secretária nesse episódio conseguiu ir um pouco além de qualquer problema conjugal que ele já tenha causado. A imagem que ele tanto repudiava (e que tanto julgou na relação do Roger com a Jane), foi justamente a que ele desenhou pra si mesmo com Allison. Don tá sozinho, longe dos filhos… blá, blá blá. Como sempre. Ainda existem várias brechas que deixam as ações de Don muito mais compreensíveis do que deveriam ser, mas as desculpas habituais já não colam como antes.

No começo do episódio, ele paga de Papai Noel com a carta escrita pelas crianças — e o pedido de Sally pra que Don apareça na manhã de Natal, mesmo sabendo que isso é impossível, é de apertar o coração. O problema é que no final dos 40 e tantos minutos, o presente do bom velhinho pra Allison é um cartão frio com duas notas de $50 que parecem muito mais um pagamento pra noite anterior do que um bônus pro trabalho da secretária. Fica difícil a imagem de canalha não sobressair sobre a de homem-solitário-que-sofreu-na-infância-e-nunca-conseguiu-encontrar-sua-verdadeira-personalidade. Foi mal, Don, mas dessa vez não tem como se salvar.

Outra que insiste em tomar péssimas decisões em sua vida pessoal é a Peggy. O que não é surpresa se a gente reparar na relação dela com o Don durante toda a série, e que, nesse episódio, se mostrou bem presente. Além de ter sido a única a receber um ‘feliz natal’ do cara (um ‘feliz natal’ verdadeiro, pelo menos), Peggy provavelmente também foi a única que realmente entendeu porque Don fugiu do questionário da empresa de pesquisa de mercado. Os dois compartilham de uma sinceridade marcante não só por sofrerem problemas parecidos, como também por cometerem erros parecidos. O medo de Peggy de ficar sozinha faz com que ela brinque com Mark. Ela inventa a virgindade, e quanto Freddy a aconselha a não enrolar demais o namorado, ela cede a ‘primeira vez’ ao garoto só pra ter alguém com quem passar o ano novo… Dá pra ver pela sua cara que ela sabe que Mark não é o homem certo, e que, no final das contas, esse relacionamento não vai a lugar algum.

E apesar de tudo isso, foi na SCDP que o episódio pegou fogo. Mais do que qualquer Don Draper, Lee Garner Jr. é a definição mais perfeita no universo praquele palavrão que vocês sabem que eu tô pensando. A Lucky Strike representa 70% dos negócios da agência, e não existe solução pra manter a empresa de pé a não ser babar ovo do cara e aceitar de cabeça baixa todas as humilhações que ele exige — principalmente depois do problema com o Sal na temporada passada. É claro que eu morri de rir do Harry pedindo mil desculpas pro Roger enquanto ele sentava em seu colo pra tirar a foto. O problema é saber que esse tipo de pessoa existe MESMO. Eu convivi bem pouco com clientes na minha vida (que nem eram lá tão ruins), mas pra quem é da área, provavelmente não existe nada mais certo do que aquilo que Sterling-pai costumava dizer: This is the greatest job in the world, except for the clients. Bem capaz que esses mesmos clientes sejam os responsáveis pelo crescimento na taxa de sucídios na época de fim de ano — como disse a nova vizinha de Don, Dr. Reed.

Que, por sinal, já é uma das CINCO (?) novas opções de Don nessa temporada. Isso sem contar a Betty, que praticamente não apareceu no episódio — só serviu de coadjuvante pra trama da filha, que vem ganhando um destaque cada vez maior e que muito me agrada. Vai ser interessante acompanhar um pouco do universo de Mad Men visto pela perspectiva de Sally, e a revolta dela com o divórcio dos pais unida ao relacionamento com um garoto também revoltado me deixa torcendo pra que as coisas esquentem mais do que ovos e farinha espalhados pela casa.

Mad Men Sally Draper

Sabem aquelas listas de final de ano que reúnem os melhores episódios de Natal das séries? Pois é, esqueçam. Esse episódio não se encaixa nelas. O Natal de Christmas Comes But Once A Year é um Natal triste, melancólico. É um Natal em agosto. Mad Men pegou a felicidade de uma noite natalina pra contrastar com as dificuldades que a maioria dos personagens tá vivendo. O episódio pode até ter sido beeem divertido, mas a vida daquela galera não tá muito não. Parece que nos anos 60 o Papai Noel esqueceu de sair do Pólo Norte.

_____

P.S.: Confesso: eu mal lembrava porque Freddy tinha sido demitido da Sterling Cooper. Googlando rápido me envergonhei de ter esquecido da cena excelente em que ele se mija nas calças. Preciso rever a segunda temporada.

P.S. 2: A cena da reunião com a galera de pesquisa de mercado foi o resumo perfeito de quem é Harry Crane. Ele fica receoso de pegar os biscoitos, quando pega, enche a mão, e quando vai preencher o questionário, tenta esconder o que tá escrevendo. Ansioso, inseguro e guloso.

P.S. 3: “- Is somebody in the house? (…) – Maybe it’s a bear!” Bobby Draper cada vez mais legal.

P.S. 4: Curiosidade do dia: o Glen — que antes do envolvimento com Sally nesse episódio, foi obcecado pela Betty na 2ª temporada — é interpretado pelo filho do Matthew Weiner, criador de Mad Men.


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

×