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Mad Men 4×05 – The Chrysanthemum and the Sword

Por: em 1 de setembro de 2010

Mad Men 4×05 – The Chrysanthemum and the Sword

Por: em

Mad Men

Nenhuma obra sobre o Japão conseguiu narrar com tanta profundidade e a partir de tantos aspectos o desenvolvimento da ideologia dos japoneses, como ela se revela nas maneiras e costumes da vida diária. Este clássico reconhecido da antropologia cultural é de interesse duradouro como contribuição à história do pensamento humano, e é de primária importância como elucidação da causa e da condução da Segunda Guerra Mundial. O Crisântemo e a Espada abrange a idéia de vida do povo japonês e sua visão multifacetada de si mesmos.

Eu não conhecia O Crisântemo e a Espada, nunca li nenhum livro de antropologia, e pra falar a verdade, nunca tive muita vontade de me aprofundar no assunto. Mas Don Draper é uma pessoa mais interessada do que eu, e sua leitura rápida no livro de Ruth Benedict foi essencial pra que ele orquestrasse a jogada fantástica pra conquistar a atenção da Honda e, de quebra, dar um chega-pra-lá nos concorrentes chatos da CGC. Don pode não estar comandando muito bem a sua vida pessoal, mas no ambiente de trabalho… Ele ainda é o cara.

Mad Men Pete Campbell

The Chrysanthemum and the Sword foi um episódio mais focado na publicidade, no trabalho da SCDP — até em pequenos detalhes, tipo o grupão reunido na mesa de Peggy pra ver como o brinquedo do pato (?) funcionava. O que não quer dizer que o desenvolvimento pessoal dos personagens tenha sido deixado de lado. Um dos mais interessantes foi o de Roger Sterling, que não vinha ganhando tanto destaque nessa quarta temporada, mas recebeu um showcase legal essa semana. Roger tem as suas razões pra odiar a conta com a Honda — e por mais que pareça algo MUITO distante pra gente agora em 2010, talvez em 1965, vinte anos ainda não eram suficientes pra esquecer a rivalidade dos campos de batalha no Pacífico.

Since when is forgiveness a better quality than loyalty?

O que não elimina o fato de Pete também estar certo quando aponta o dedo na cara de Roger e fala que a única utilidade dele na agência é a conta com a Lucky Strike. Roger cada vez mais se torna dispensável na empresa, e esse é um assunto que não vem de hoje. Já no começo da terceira temporada, quando a Sterling Cooper foi vendida pra empresa britânica, o novo organograma montado colocava Roger de fora do jogo. Não porque esqueceram dele nem nada, mas simplesmente porque seu trabalho não faz mais diferença nenhuma ali. A Lucky Strike pode representar mais da metade dos negócios da SCDP, mas vestir fantasia de Papai Noel e puxar o saco do Lee Garner Jr. não é exatamente uma coisa que SÓ o Roger saiba fazer.

Já com Don Draper, a coisa é completamente diferente. Ele continua sendo indispensável. A ideia dele de fingir que a SCDP tava gravando um comercial pros japoneses me deixou quase na mesma empolgação da season finale da temporada passada. Eu amo o jeito como Mad Men dá tempo pra que a gente contemple com calma a vida de cada um dos seus personagens, mas às vezes faz falta essa adrenalina do trabalho corrido e competitivo da publicidade. Dá um ritmo mais rápido ao episódio, e mostra que apesar de Don Draper e cia. não serem as melhores pessoas do mundo, pelo menos dentro do escritório eles sabem fazer a coisa certa. E até por isso que The Chrysanthemum and the Sword é um título que funciona tão bem. A espada é o Don publicitário, que corta a concorrência (me matem por esse trocadilho). Já o crisântemo, a flor dos funerais, é o Don que não sabe o que fazer com a sua própria vida e cava um buraco cada vez maior pra si mesmo. (Me matem de novo e me enterrem por esse outro trocadilho).

Mad Men Don Draper Betty Sally Bobby

É incrível como em uma das únicas noites que Don tem pra passar com os filhos, ele decide deixá-los com a vizinha e jantar com uma garota com quem ele nem se importa muito. É só mais uma. Resultado: Sally começa a dar cada vez mais problemas. Só que a culpa não é toda do Don. Quando chega em casa de cabelo cortado, a primeira coisa que Sally recebe da mãe é um tapa na cara. O único que parece sensato na história ao tratar com as crianças é o Henry, mas o jeitão bonzinho e certinho dele contrasta tanto com os podres do casal (e de todos os outros personagens da série), que eu acabo me irritando com o cara. Tudo o que ele fez até agora, apesar de gentil, só afasta mais a Betty dos holofotes principais.

Até porque ela pode não ser a personagem mais carismática do mundo, mas Betty é uma pessoa interessante pra caramba de se assistir. A conversa rápida com a psicóloga da Sally prova como é ela mesma que precisa muito mais de ajuda profissional do que a filha; a ajuda que Sally precisa de verdade é a dos pais. Pena que do jeito que as coisas estão, quando (e se) Don e Betty se reestabelecerem (não como um casal, mas como boas pessoas mesmo), provavelmente já vai ser tarde demais. A única coisa que me assusta um pouco nessa trama é que, apesar de ser legal pra caramba acompanhar essas consequências na Sally, eu imagino que tipo de instrução é dada a Kiernan Shipka numa cena igual àquela em que ela se masturba. A atriz também tem só dez anos, ok, Matthew Wheiner?

I know that the man pees inside the woman.
(AHAHAHA)

As duas histórias do episódio, da Sally e da Honda, não combinam exatamente, não comunicam muito entre si. Mas também é assim com americanos e japoneses. Com Don Draper e Betty Draper. Com crisântemos e espadas. Com Mad Men e derrota-no-Emmy. The Chrysanthemum and the Sword pode ter mostrado duas tramas que não se encaixam muito bem — como em The Good News —, mas diferente do 4×03, dessa vez eu me empolguei com ambas.

No ritmo que essa 4ª temporada vai seguindo, não duvidem de um tetracampeonato de Mad Men no Emmy do ano que vem.

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P.S.: Me amarro nas exclamações que o Pete solta quando tá irritado. Nessa temporada já teve uma que eu não lembro, mas ano passado foi “JESUS, MARY AND JOSEPH!“, e nesse episódio, ainda melhor: “CHRIST ON A CRACKER!

P.S. 2: Quero ver se em “O Crisântemo e a Espada” tem alguma parte que fale da sutiliza dos japoneses. A Joan ia adorar ler esse capítulo.

P.S. 3: A secretária do Don tá transformando essa temporada na mais engraçada de Mad Men.

P.S. 4: Bobby chamando a irmã de mongolóide <3


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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