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Mad Men 4×07 – The Suitcase

Por: em 8 de setembro de 2010

Mad Men 4×07 – The Suitcase

Por: em

Mad Men Don Draper Peggy Olson

Quando Muhammad Ali subiu no ringue pra defender seu cinturão contra Sonny Liston, ninguém esperava que em 20 segundos a luta estaria decidida. Quando eu sentei no sofá pra defender minha paixão por essa 4ª temporada de Mad Men, eu também não esperava que em 40 minutos eu ficaria do jeito que eu fiquei. Porra, Don. Porra, Peggy.

É chover no molhado falar como esses dois personagens são fantásticos, como eles ganham boa parte das melhores histórias da série, como eles têm uma química imensa, blá blá blá. Isso todo mundo já sabe faz tempo. The Suitcase se sobressai porque o episódio INTEIRO foi sobre eles. Tudo o que a gente aprendeu na série inteira sobre Don e Peggy se reuniu num turbilhão de cenas arrebatadoras que reafirmaram a cumplicidade e a sinceridade gigantescas que um tem com o outro. Quando Don conta pra Peggy sobre a morte da “única pessoa que realmente o conhecia”, ela responde como isso não é verdade. E ela tá TÃO certa. Peggy pode não saber que Don Draper se chama Dick Whitman, mas por outro lado, Don também não sabe que é o Pete quem carrega o parentesco do filho da Peggy. Eles não precisam saber de todos os detalhes pra se conhecerem de verdade. A conexão entre eles é muito mais profunda.

E o mais legal é que a série nunca tratou disso através de uma tensão sexual entre os dois. Don e Peggy não é o casal que se complementa, que tá destinado a passar a vida junto, mas ainda assim, um é o espelho do outro. Dependendo do dia, dependendo do ângulo, dependendo da humor, eles podem ver o que há de melhor e o que há de pior em si mesmos. Eles podem até ter seus desentendimentos de vez em quando, mas eles têm tanto em comum, eles funcionam em tanta sincronia, que não não tem como as eventuais brigas não se dissolverem e darem lugar a um carinho enorme que não existe em muitas outras relações da série. E de novo: não precisa existir uma relação sexual. A relação simplesmente interpessoal já é suficiente — e talvez até mais proveitosa do que seria se algum dia Don e Peggy fossem pra cama juntos. Don e Anna é o exemplo perfeito de como isso é verdade. Por outro lado, Pete e Peggy também.

Até no jeito como eles enfrentam os seus problemas, os dois acabam se espelhando. Assim como Don, Peggy passou o episódio inteiro desviando das consequências de um telefonema se afogando no trabalho. Mas será que pra Peggy isso adianta de alguma coisa, se na cena em que ela desabafa sobre a camapanha da Glo-Coat, Don responde com um tapa na cara gigantesco sobre a dinâmica da agência? É fugir de uma dor de cabeça pra dar de cara com outra… Mas no final das contas, é claro que adianta, porque em vez de ser uma dor de cabeça destrutiva como a do namorado, o esporro monumental do Don serve muito mais pra abrir a sua visão. É tipo esporro de mãe. O sangue esquenta e a gente morre de raiva, mas logo depois a gente tá pronto pra dar risada junto. (E é o que o Don e Peggy fazem mesmo. Leiam só o P.S. 4.)

Mad Men Don Draper Peggy Olson

E não só pra dar risada, mas com o tempo dá pra perceber que esse tipo de briga também sempre é construtivo. Quando Peggy reclama que Don nunca a agradece pela ajuda nas campanhas — principalmente na da Glo-Coat — Don pode parecer o cara mais escroto do mundo ao gritar “THAT’S WHAT THE MONEY IS FOR!”. Ele foi grosso, mas ele não mentiu. É esse tipo de coisa que vai fazer com que Peggy pare de se encantar com gente igual ao Duck. É óbvio que o cara é um bêbado canalha. Mas Peggy tremeu na temporada passada quando ele ofereceu um emprego na Grey. E tremeu de novo nesse episódio quando recebeu os cartões de visita com seu nome pra fachada da nova agência. Com Don, Peggy aos poucos vai aprendendo o jeito certo de caminhar sozinha, e enquanto ele estiver ao seu lado, esse tipo de ajuda sempre vai existir. Mesmo que seja disfarçada em uma conversa forte e dolorosa.

Pena que a luta entre Don e Duck também não tenha sido tão dolorosa assim. Um mais bêbado que o outro, acabou que ninguém acertou ninguém. Mas Muhammad Ali já tinha ensinado alguns momentos antes que um soco invisível já era suficiente pra ganhar uma luta. Don pode ter ficado por baixo, mas foi ele quem ganhou o colo de Peggy pra passar uma das noites mais difíceis de sua vida, porque foi nela em que ele descobriu sobre a morte de Anna.

O recurso da aparição do fantasma dela poderia ter sido brega pra caramba, mas foi sutil porque combinou com a estrutura e a estética da série. Não foi a primeira vez que Don teve algum tipo de visão (primeira cena da temporada passada: Don tendo uma visão de seu nascimento), e ainda juntando as duas maiores preocupações que ele tinha na cabeça — o telefonema e a Samsonite — faz todo o sentido do mundo Don ter tido aquela espécie de sonho com a Anna carregando uma mala. A escuridão da cena e o silêncio como forma de luto ainda ditam o clima perfeitamente e deixam o ambiente pesado o suficiente pra que, na sequência seguinte, o impacto seja ainda maior quando Don finalmente faz a ligação e desaba em lágrimas de um jeito que a gente nunca tinha visto em Mad Men.

E o fato de que era a Peggy ali do lado presenciando tudo, pronta pra reconfortá-lo, reafirma da maneira mais perfeita possível toda essa relação tão sincera que os dois compartilham. Quando um rato aleatório aparece e some de vista em determinado momento do episódio, Don comenta: “There’s a way out of this room we don’t know about.” O reconfortante em The Suitcase é saber que Don e Peggy não precisam encontrar esse caminho sozinhos.

Definitivamente, eles vão sempre estar juntos.

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P.S.: Open or closed? Pra Peggy, claro que é sempre aberta, mas pro resto do mundo, ainda tenho lá minhas dúvidas se um dia a porta vai deixar de ser fechada.

P.S. 2: Preciso comentar das atuações de Jon Hamm e Elisabeth Moss? Não.

P.S. 3: Absolutamente GENIAL ver a Trudy comentando que ama “esportes sanguentos”. “I want a rare steak and I want to see those two men pound each other!”

P.S. 4: Ri demais das gravações da biografia cheia de revelações do Roger: Bert Cooper não tem testículos e o Roger aparentemente já pegou a atual secretária do Don — que lá pelos anos 30, era toda soltinha HAHAHA

P.S. 5: Pra não passar em branco: Feliz Aniversário, Peggy 🙂

P.S. 6: A luta é famosa, mas se alguém nunca viu, olhem só os 20 segundos da vitória de Muhammad Ali (Na época conhecido Cassius Clay) contra Sonny Liston:



Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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