Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Mad Men 4×11 – Chinese Wall

Por: em 11 de outubro de 2010

Mad Men 4×11 – Chinese Wall

Por: em

Mad Men Roger Sterling Lee Garner Jr

Quando Lee Garner Jr. anunciou o fim do contrato da Lucky Strike com a SCDP, Roger chamou a responsabilidade pra si e pediu 30 dias pra tentar reverter a situação e não perder a conta pra BBDO. Fiquei empolgadaço com a ideia de ver um Roger mais agitado, desesperado, tentando ter uma ideia genial pra salvar o futuro da agência. E isso provavelmente aconteceria em uma cacetada de outras séries que colocam um de seus personagens na corda bamba. A TV adora uma história de superação. Acontece que Mad Men não é igual essa cacetada de outras séries e em vez de Chinese Wall jogar um sopro de esperança pra cima de Roger, ele evidenciou a sua decadência. Roger não conseguiu fazer nada e a notícia acabou vindo à tona. E agora não só Sterling, Cooper, Draper e Pryce se encontram em péssimos lençóis. Todos os funcionários vão ter que lutar muito pra deixar a empresa de pé.

Até porque a saída da Lucky Strike causa um prejuízo ainda mais expansivo do que seus 20 e tantos milhões pagavam. O medo de ver a agência definhar e morrer na praia afeta todas as outras contas, que temem o fato de a SCDP encerrar os seus trabalhos mais cedo ou mais tarde. A dificuldade é dupla porque manter essas contas é difícil pra caramba, e conseguir contas novas talvez seja ainda mais complicado. Até gente próxima do pessoal da agência já dá a SCDP como encerrada. Faye falando pro Don que ele é o cara mais contratável da Madison Square e o sogro de Pete o acalmando são provas claras de que quando Pryce insistia que a Lucky Strike era a base de todos os negócios ele tava longe de estar exagerando.

E no meio de todo esse jogo empresarial, a vida pessoal de cada um daqueles personagens não pede pausa. Principalmente com Pete, que justo em um de seus piores dias de vida profissional, tem que dividir as atenções com o nascimento de sua filha. Entre uma morte e um nascimento, Pete se encontra num limbo, porque tanto um quanto o outro é um conjunto de emoções completamente avassalador — e quando se juntam é praticamente impossível manter a postura. Mas o mais incrível é que, de certa forma, ele acaba conseguindo. Ele pode até cochilar na reunião da agência, mas em todo o resto ele manteve o olhar atento. Ele não se encanta gratuitamente com a oferta de Ted Chaough. Ele não segue a passividade conformista de Roger. Ele não cede à gritaria de Don o culpando pela perda da Glo Cloat, e ainda o responde à altura, mostrando com o maior mérito do mundo que ele não é mais o moleque das temporadas anteriores.

“Who the hell do you think you’re talking to?”

Enquanto Pete é agressivo com o intuito de ajudar a SCDP, Roger é agressivo ao defender sua própria inutilidade. É óbvio que ele não ia contar pros sócios que ele tinha uma vantagem de 30 dias pra tentar recuperar a Lucky Strike, mas chegar no ponto de ficar de birra e não querer ir atrás de novos negócios pra agência? Dá uma pena gigante de Sterling quando ele chega em casa e a Jane o mostra a primeira edição de sua auto-biografia, mas não existe ninguém pra culpar por essa pena a não ser ele mesmo. Todo o tempo em que Roger passou gravando suas memórias em vez de dar atenção ao seu trabalho ajudou pouco a pouco pra situação em que a agência se encontra. O livro ganhou um ar ainda mais patético do que parecia quando Don ouviu aquelas fitas. A diferença é que agora não é mais cômico. É trágico.

A única personagem que ainda consegue levantar a cabeça sem tanta preocupação é a Peggy. E é legal pra caramba ver que boa parte disso acontece pela confiança gigantesca que ela tem em relação ao Don. Ela não apenas sabe que Don vai fazer de tudo pra não deixar a agência morrer… Ela realmente acredita que ele vai conseguir. Mas além disso, a certa tranquilidade de Peggy também mostra como aumentou sua auto-confiança. É claro que ela ficou uma pilha de nervos na véspera da sua apresentação. Todo mundo fica. A tranquilidade se mostra presente quando ela termina a apresentação, percebe que o dente tava todo sujo de batom e até se decepciona, mas sabe que o que ela falou e mostrou pros clientes foi bom o suficiente pra superar qualquer outro detalhe. (E convenhamos, Stan pode ter sido escroto pra caramba, mas foi engraçado DEMAIS o cliente passando a língua entre os dentes, e a Peggy toda perdida sem entender que bizarrice era aquela.). Além disso, a relação com Abe, que de fato se estabeleceu como seu namorado, parece muito mais simples do que as outras que ela já teve. Depois de toda aquela paranoia de não querer ficar sozinha, Peggy finalmente parece ter aprendido a não ter tantas expectativas. O casual não é algo ruim.

Mad Men Roger Sterling Lee Garner Jr

A surpresa do episódio foi ver como a Megan tem exatamente a ambição que a Peggy já teve quando estava em sua posição. Mas a forma como cada uma trabalha é tão diferente. É incrível descobrir que Megan é formada em literatura, que já trabalhou com artes, pintura, atuação… Mas mesmo assim ela anda de cabeça baixa, sempre se culpando pelos erros que acontecem com Don, nunca dando corpo ao potencial que ela nos contou aqui. Era o jeito como a coisa geralmente funcionava lá pelos anos 60. Só que o que pensar disso tudo quando ela se joga pra cima do Don? Paixão pelo chefe ou teste do sofá? Não importa qual sejam as intenções de Megan, a situação em que Don foi jogado é infeliz em qualquer um dos casos. Depois de tudo o que ele construiu com a Faye, dá pra ver que ele tenta resistir às tentanções que a Megan o impõe, mas é cruel ver como ele acaba cedendo. E pior, com Faye o esperando na porta de sua casa, disposta a sacrificar a ética de seu trabalho em prol das dificuldades que Don tá passando na agência.

No final da segunda temporada, a crise dos misseis de Cuba montava uma tensão enorme entre os personagens, já que a qualquer hora o mundo podia simplesmente explodir pelos ares. Mas os livros de história esqueceram de soltar o spoiler alert e nos contaram que o mundo ia continuar intacto em seu lugar. No final da quarta temporada, a saída da Lucky Strike da SCDP monta uma tensão enorme entre os personagens, já que a qualquer hora aquele mundo pode simplesmente explodir pelos ares. Mas dessa vez, os livros de história não vão nos contar nada, e a nossa tensão é a mesma de Don, Roger, Pete, de todo mundo. Não dá pra prever o que vai acontecer. Mas depois de uma temporada praticamente impecável como essa, é justíssimo dar o voto de confiança a Mad Men e acreditar que o defescho vai ser espetacular.

Dá pra acreditar que só faltam dois?

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P.S.: É de certa forma compreensível que Don e Pete se aproveitem da morte de David Montgomery pra tentar impedir que a vida profissional deles próprios também morresse, mas não tem como não sentir um certo remorso quando, no memorial, boa parte do que Montgomery fez — aparentemente — foi com sua filha em mente. Afinal, o que importa mais? A resposta é óbvia, mas o jeito de colocá-la em prática nem sempre é. Don muitas vezes é negligente com Sally, e Pete acabou dando prioridade ao trabalho em vez do nascimento da filha. (O lado de Pete pelo menos é mais tranquilo de se aceitar. A questão no trabalho era urgente — e sem o trabalho, como sustentar a recém-nascida?)

P.S. 2: Apesar do clima pesado da saída da Lucky Strike, o episódio teve vários momentos engraçados. Stan e Danny comentando sobre a Peggy supostamente subindo nas paredes, Danny levantando a mão pra fazer perguntas e ninguém vendo, a cena (já comentada) da Peggy fazendo a apresentação toda borrada e o cliente passando a língua entre os dentes… Nesse episódio, esse núcleo substituiu bem o alívio cômico que a Mrs. Blankership proporcionava.

P.S. 3: O sogro de Ken é interpretado por Ray Wise, famoso pelo papel de Leland Palmer em Twin Peaks (e mais recentemente, como o Diabo em Reaper). Acho meio complicado encontrar uma relevância pro personagem, mas ao mesmo tempo é estranho ver um ator desse nível fazendo só essa ponta, mal tendo uma fala.

P.S. 4: Antes de escrever a review de semana passada, eu já tinha assistido a esse episódio. Foi complicado responder os comentários do Felipe e da Camila sobre os olhares de Don pra Megan sem soltar nenhum spoiler ahahaha

P.S. 5: E falando dos comentários, a maior dúvida que surgiu no post anterior foi sobre a gravidez da Joan. A ambiguidade continuou firme e forte nesse episódio.

P.S. 6: Meu 100º post aqui no Apaixonados! 🙂


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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