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Mad Men 4×12 – Blowing Smoke

Por: em 17 de outubro de 2010

Mad Men 4×12 – Blowing Smoke

Por: em

Mad Men Don Pete Cooper

Essa quarta temporada de Mad Men não teve exatamente um arco que a gente acompanhasse sendo desenvolvido episódio atrás de episódio. Na verdade, nenhuma das temporadas segue muito esse estilo. O que a gente geralmente recebe na tela a cada semana é um estudo dos personagens, o modo sutil como cada um deles vai encarando suas vidas pessoais e profissionais e aos poucos descobrindo quem eles realmente são. O que pode parecer lento pra MUITA gente acaba se tornando uma forma de se contar histórias que, quando chega em seu clímax, torna-se uma das coisas mais recompensadoras do mundo. O fim de contrato da Lucky Strike com a SCDP foi esse clímax, e o que a gente tá acompanhando nesses últimos episódios é a retribuição pela nossa paciência de acompanharmos com calma a vida de cada um desses personagens. Não que a jornada até aqui tenha sido cansativa — pelo contrário — mas o ambiente pesado que infesta a agência com sua enorme chance de falência transforma os episódios em algo ainda mais empolgante do que já era.

De certa forma, o clima de desespero, de tentar fazer algo pra salvar a empresa lembra a última season finale, Shut The Door. Have A Seat. Mas aqui a coisa é menos otimista. Lá, as pessoas fechavam a porta, se sentavam, e ouviam a proposta de um novo negócio, uma chance esperançosa de recomeçar. Agora elas são demitidas. A ideia da Peggy de mudar o nome da agência e tentar construir todo o prestígio de novo não funciona porque eles acabaram de fazer isso. Não existe nem fôlego pros funcionários, nem confiança pros clientes (atuais e em potencial) acreditarem que a empresa irá se reeguer. De novo. O que todo mundo tá esperando é que a SCDP acabe de vez e pronto. Se não acabar, beleza, daqui a 6 meses eles se falam. O difícil é se sustentar por 6 meses de estagnação, e é por isso que a jogada de Don Draper é TÃO legal de se acompanhar.

Não só por ser uma jogada arriscada e inesperada, mas porque o episódio faz com que ela coroe praticamente tudo que Don Draper passou no decorrer de toda a quarta temporada. Who is Don Draper?” Foi essa a primeira frase do primeiro minuto do primeiro episódio. Sozinho, ele tentou encontrar a resposta de diversas maneiras — e com diversas mulheres — e agora o panorama tá bem mais claro. Na essência ele ainda é Dick Whitman, mesmo que a morte de Anna tenha sido um golpe pesado nessa história. Mas a Peggy é quase que uma substituição de Anna. Don sabe que tem pessoas com quem ele pode se abrir verdadeiramente, e ao mesmo tempo ele sabe que abraça o seu trabalho com força porque ele também ama o lado Don Draper de sua personalidade. Afinal, ele roubou essa identidade por desespero enquanto tava em campo de guerra, mas ele a manteve porque ele se identificava com ela e queria vivê-la. Ou seja, agora ele tem Faye (o episódio mostrou muitas vezes a Megan exatamente ENTRE os dois, mas dá pra ver o esforço de Don pra querer manter aquela relação intacta, esquecendo o caso com a secretária da semana passada), tem Peggy — ambas dando vazão ao seu Dick interno — mas também tem o sangue quente e o colhão de, sem consultar ninguém, escrever uma carta aberta ao New York Times tentando salvar o trabalho que ele ama — seu Don interno.

E não só tematicamente Blowing Smoke representou tudo isso, como de maneiras bem mais concretas também. O jeito como foi usado o voice-over mostrou perfeitamente que o recurso de auto-conhecimento em The Summer Man agora pode ser usado pra outras funções. O mesmo com a natação no clube. Até a cumplicidade de Don e Peggy é reafirmada de maneira brilhante quando ela lembra daquele caso lá de Public Relations quando ela usou uma briga entre atrizes pra promover a Sugarberry no jornal. “Eu pensava que você não gostava desse tipo de truque.”

Mas a maneira mais interessante que o episódio nos mostrou como Don Draper de fato passou a se conhecer foi através de uma personagem muito anterior a Public Relations. E como eu senti pena de Midge. O mais triste não é nem descobrir o seu vício em heroína, mas ver como ela reconhece a decadência que a droga a trouxe e, mesmo assim, simplesmente não consegue voltar atrás. Ela não tem nem como depositar um cheque. Midge se afundou por conta própria e agora não consegue se levantar. Don não quer o mesmo pra si. Ninguém quer. Mesmo que Don já soubesse disso, agora provavelmente ele tem certeza das decisões que deve tomar. O relacionamento estável com Faye. A diminuída nas bebidas. E até a dignidade de finalmente reconhecer tudo o que Pete fez por ele e pagar a sua parte no contrato da agência.

Mad Men Sally Glen

O que falta é a maneira como ele lida com os filhos. Não que a Sally já não tenha assunto o suficiente só com a mãe ao seu lado. É bizarro ver como ela adquiriu uma maturidade tão maior do que a de Betty. Com a psiquiatra — e até mesmo com Glen — Sally aprendeu a jogar com a mãe, fingindo que tá sendo controlada, quando muitas vezes é ela que tá com a coleira na mão. “She doesn’t care what the truth is as long as I do as she says.” Aprendendo a controlar o seu universo, Sally conseguiu encontrar tranquilidade. Os encontros com Glen são escondidos, mas são tão inocentes. É só conversa jogada fora. É claro que tem algo a mais ali, mas por enquanto os dois sabem da posição que ocupam e a relação deles se torna muito mais sincera do que a de Betty e Henry, por exemplo.

O lado ruim é que mesmo que eles entendam tão bem tudo isso que tá acontecendo ao redor deles (chega a ser quase pretencioso quando Sally solta uma frase profunda como “When I think about forever, I get upset“, mas Kiernan Shipka entrega com tanta naturalidade que soa extremamente descompromissado) são os pais que ainda têm a voz final. E é cruel pra caramba ver Betty, mesmo sem perceber, tentando apagar todo o progresso de Sally finalmente querendo se mudar. É ela quem precisa de ajuda da psiquiatra — e ela mesma sabe bem disso — mas Betty sempre joga tão na defensiva que as coisas nunca funcionam facilmente. Ela tenta fazer com que a ideia das sessões sejam sugestão da Dr. Edna, ela nunca consegue assumir as suas próprias fraquezas. E é a partir desse mar de falsidades que ela prejudica tanto a vida de Sally. São em momentos assim que a gente consegue ver como a separação de Betty e Don afetam de maneiras tão diferentes a vida de cada um, porque enquanto Don em seu auto-conhecimento teve seu mundo virado de cabeça pra baixo, Betty em seu novo casamento permaneceu com seu mundo intacto. A mudança tem que ser de dentro pra fora e não de fora pra dentro.

Foi mais ou menos isso que Don fez com a Sterling Draper Pryce, sem Cooper agora. Mudando a filosofia da empresa — mesmo que só como uma estratégia, sem ninguém acreditar de fato naquele discurso sobre cigarro — Don conseguiu com que a agência se transformasse e, a partir disso, a percepção de todo o mundo sobre ela também. Se isso de fato vai funcionar, eu não faço ideia, mas tô muito, muito, muito ansioso pra descobrir qual o desfecho Matthew Weiner e cia. vão nos mostrar hoje à noite.

Já tô triste em ter que me despedir dessa temporada.

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P.S.: Assim como The Rejected, esse episódio também foi dirigido pelo John Slattery. E gostei pra caramba de novo. Ele tem um jeitão bem dinâmico de conduzir as coisas.

P.S. 2: Esse episódio foi CHEIO de frases de impacto. Além de algumas que eu já soltei no meio texto, as minhas favoritas: “We’re creative, the least important most important thing there is.” – Don. “Don saved the company. Now go get rid of half of it.” – Pete.

P.S. 3: Trudy mandando na casa dos Campbell. Cool.

P.S. 4: Muito legal a cena da Faye se despedindo da Peggy. Acho que as duas nunca tinham dividido um momento juntas, só delas, mas elas tem tanto em comum que foi um toque excelente colocá-las contracenando.


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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