Ok…está na hora de enfrentarmos a realidade de que Misfits não é o que já foi algum dia. Na verdade, a série não está ruim, longe disso. Mas perdeu seu brilho nessa temporada, enquanto tenta brincar de diversos elementos narrativos, tentando encontrar uma forma boa para continuar.
De quem é a culpa? É difícil dizer. Em suas duas primeiras temporadas, Misfits só teve um roteirista: o criador Howard Overman. Esses dois episódios – ironicamente – foram os primeiros que Overman não escreveu. E acabou que saíram dois episódios bastante simpáticos, com seus atores no máximo das atuações, e situações bizarras do jeito que Misfits gosta. Porém, Overman já provou que sabe o que faz. Então a direção, talvez? Novamente: nos dois primeiros anos, a série teve apenas três diretores: Tom Green, Tom Harper e Owen Harris. Nenhum deles dirigiu algum episódio nessa 3ª temporada, e nem vai. Foi contratado todo um novo time de diretores, que dividiram a direção de episódios, algo inédito na série até o final da 2ª temporada. Na verdade o pior está sendo a dificuldade de definir a temporada. O que será? Viagens no tempo? A jornada de SuperHoodie? Ou simplesmente casos bizarros a cada semana, como tivemos na 1ª temporada? Se for, ótimo, mas a série está atirando para todos os lados.
Nesses dois episódios, o lado dramático lutou com o cômico. Enquanto um deles nos forçava a torcer por Kelly e ficar triste com ela; o outro nos fez dar gargalhadas de Rudy e sua preocupação…peniana. Foram mais fundo no que esses poderes trazem de drástico ou extraordinário para os personagens, das duas formas que já comentei. Foram, enfim, dois capítulos tranquilos, mas significativos para o que eles entendem que é o plot da temporada: a busca de Seth pela namorada. Apesar de estar um pouco tarde para fixar esse arco, as promessas de tramas que podem ser criadas com isso é excelente. Essa demora e dificuldade também afetou a audiência que vem decaindo desde a season premire. Chega a ser preocupante? De forma alguma, a audiência ainda é espetacular e deixa o canal E4 em 1º lugar todos os domingos a noite, mas já é uma mostra de que os fãs sentiram essa queda de qualidade.
Mas por mais estranho que pareça, achei que o sentido de grupo nunca esteve tão forte quanto nesses dois episódios. O próprio roteiro brincou com isso. Rudy, Simon, Alisha e Curtis discutem sobre Seth ser um deles agora, e ele realmente virou um da turma, ajudando-os sempre que possível e até emprestando a chave do carro para que eles terminem seus afazeres. E quanto Curtis conta para Rudy que está grávido, o garoto fica todo feliz e diz à Simon: “nosso Curtis está grávido”. Arrisco-me a dizer que foi Rudy que trouxe esse lado mais família para o grupo do serviço comunitário. Ele os chama para comprar sorvete e tenta se dar bem com todos. Não posso negar: Joseph Gilgun é um ator excelente. Ele permaneceu fiel ao que lhe foi dado desde o princípio. Hoje acho que o problema foi com nós mesmos, os fãs, que estávamos ligados ao Nathan e equiparamos o novo personagem ao antigo. Rudy é engraçado e faz piadas parecidas, mas tem uma personalidade própria, ainda mais pelo fato dele poder se duplicar. Nesses dois episódios ele foi a cola que uniu o grupo, por mais que tenha sido pelas suas atividades extravagantes. Fez uma ótima parceria com Simon, com Curtis, com Kelly (quando ela era Jen e ele apenas Sad Ruddy). Ele tem um estilo único e está agradando.
A história da garota que tinha o poder de apodrecer as partes genitais das pessoas foi super divertida. Com ela, pudemos acompanhar Rudy e Simon encontrando pessoas diferentes e engraçadas. O mais importante disso foi a evolução de Rudy como personagem. Quem falou na bancada do DJ, assumindo tratar mulheres como objetos e desabafando o seu medo de compromisso e de que as pessoas não gostem dele, era apenas Happy Rudy, a parte que está sempre feliz e continua sendo irônico e extravagante. Então mesmo sem Sad Rudy ele conseguiu cometer tal bravura e conseguiu que seu órgão genital ficasse intacto. Gostaria mesmo de ver ele e essa tal de Leah juntos. Após a confissão, os dois formaram um casal ligeiramente simpático. Claro, ele não mudou completamente, e isso seria irreal e uma saída preguiçosa do roteiro. Ficou provado que ele ainda tem muito a crescer, afinal, deixou Sad Rudy na delegacia.
E se Gilgun está excelente, o que falar de Lauren Socha? Facilmente a alma de Misfits atualmente. Iwan Rheon não tem espaço, e quando teve, não conseguiu manter o bom nível, enquanto Nathan Stewart-Jarrett e Antonia Thomas nunca foram bons o tempo todo. Lauren está fazendo um trabalho magnífico como Kelly. Lembrem-se dela no começo da série, aquela garota malaca, cheia de palavrões, sotaque estranho e modos nada gentis… ela conseguiu evoluir para uma pessoa bem mais querida e simpática, mas sem deixar de xingar ou chutar bundas. Ou seja, Lauren conseguiu manter a personalidade de sua personagem, mas aperfeiçoando os aspectos psicológicos de Kelly quando o roteiro exige. O romance Kelly e Seth é facilmente o melhor da série até agora. O casal passa mais realismo até que Simon e Alisha – que já são muito bons juntos. O sorriso de Kelly, sua expressão de tristeza, sua dor…Lauren Socha passa isso com maestria, simplesmente com o olhar. Não me surpreenderia se viesse mais um BAFTA pela frente.
A história da garota Jen foi bem bizarra estilo Misfits, mas não posso mentir: eu simplesmente adorei a forma que misturaram o bizarro com o dramático. Você sentia a dor de Jen quando o namorado Dom não a queria. E mais ainda, o ator Nick Blood me fez lacrimejar ao dar adeus e desligar os aparelhos da namorada. Nada disso seria possível se Seth não estivesse apaixonado. Ok, ele ainda ama a ex-namorada e a quer de volta, mas por pensar que não conseguiria o poder, resolveu dar uma chance a vida, e por que não? Claro, foi extremamente triste vê-lo abandonar Kelly para pegar o poder de ressureição. Não duvido que ele ame Kelly, mas seu primeiro grande amor pode voltar a vida…não é difícil de entender quando nos colocamos em seu lugar.
Toda esse arco da temporada, com Seth se tornando da turma dos misfits, o relacionamento com Kelly, e a busca do poder para trazer Shannon de volta a vida, só foi possível com o surgimento de outra trama, rápida, mas divertida: Curtis grávido!! Na hora que fez o teste de gravidez, tentei lembrar das pessoas com as quais Melissa tinha feito sexo, mas ela só teve um caso com a amiga de corrida. Ok, a desculpa pela gravidez é crível, mas estranha. Novamente não posso mentir para vocês: tenho gostado cada vez mais de Curtis com todo esse lado dramático que está sendo explorado com o personagem. Posso não ter sido fã quando teve todo o episódio 3×02 focado nele, mas agora entendo. Kehinde Fadipe fez um trabalho tão bom como Melissa, especialmente nesse último episódio que cheguei a fantasiar uma história onde Melissa dava luz ao bebê e então voltava a alternar de sexo, criando a criança. Mas para o bem da história, o bebê precisava ir embora, assim como Melissa, e Seth trocou o poder, desde que Curtis trouxesse Shannon de volta a vida, mesmo que isso machucasse totalmente sua amiga Kelly.
Mesmo com todos os pormenores, o roteiro fez bem ao matar Shaun. Com isso, eles não terão que se preocupar com serviço comunitário. Pelo promo do próximo episódio, as coisas ficarão totalmente fora do controle devido a storyarc de Seth, e assim eles podem enfrentar essas situações sem afazeres. Shaun foi o que mais durou, e sua morte foi acidental, e um tanto quanto triste. Jen o matou, mas pensariam que foi Kelly, o que não poderia acontecer. Os misfits assistiram Shaun morrer e contaram sobre os poderes. Pois é, com isso, Shaun é o terceiro agente da condicional a morrer, após Tony e Sally. Será que vem um novo por aí, ou irão esperar para uma possível 4ª temporada?
Acredito que com esses dois episódios Misfits consiga voltar a ser o que era e seguir um caminho único, sem tentativas desnecessárias que acabam estragando o roteiro. Agora uma curiosidade: logo após a exibição do episódio 3×06, o site do canal E4 disponibilizou online um segundo webisódio de Misfits. Ele conta a história de Erazer, o personagem responsável pelos grafites nas paredes perto dos lugares onde os misfits andam. Os grafites já apareceram várias vezes na série e foram mencionados pelos personagens em suas contas no twitter. O webisódio mostra quem é Erazer e tem uma trama com Rudy se apaixonando por uma garota que Erazer criou em seu universo paralelo de grafites. Infelizmente o episódio ainda não está disponível no You Tube para nós brasileiros, mas pode ser encontrado em outros sites.
