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Person of Interest 3×10 – Devil’s Share

Por: em 1 de dezembro de 2013

Person of Interest 3×10 – Devil’s Share

Por: em

Ao som da máquina monitorando o ritmo cardíaco de Reese e de Johnny Cash cantando “Hurt”, vemos a despedida de Carter, vemos a máquina dar o número do policial Simmons, vemos pessoas ajudando-o, e alguns dos nossos justiceiros procurando por ele. A música de fundo é triste, nos envolve no sofrimento dos personagens que estão de luto, que foram mudados pela melhor personagem da série. A música é tanto uma reflexão sobre os personagens, sobre como seguirão no caminho que estão, tivemos uma boa amostra de todos eles.

O episódio é marcado por cenas do passado dos (agora) quatro personagens principais, cada bloco começa com um deles conversando com um terapeuta no escuro, falando sobre matar pessoas e sobre responsabilidades. Responsabilidade sobre outras vidas, sobre suas próprias vidas, sobre o caminho que tomaram em frente a adversidades que vida apresenta. Carter é uma pessoa fácil de gostar, com princípios morais bem fortes que influenciou cada um deles. Eles tiveram sorte de ter alguém como ela na vida, nem que seja por poucos anos.  Foram transformados por ela.

A série coloca nossos ‘heróis’ discutindo ética e sentimentos, o que é errado e certo na nossa sociedade. Esse conceito de certo e errado mudou ao longo dos milênios, mas aqui ela é afirmada como fazer o bem a outras pessoas, não importa quem. Todos os personagens passaram por grandes provações, e só a ética os manteve no caminho do bem. Quanta dor pode mudar esse caminho, quanta dor pode ser suportada por alguém? Vingança pode ser um meio mais fácil de passar pelo luto.

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E o “que me tornei?” Johnny Cash Canta. Reese afirmou suas mudanças no episódio passado, Fusco teve neste episódio sua oportunidade de se “declarar” team Carter enquanto enfrentava Simmons. Numa situação bem delicada, que prova sua força de vontade, poucos teriam o controle de não atirar em Simmons, força de vontade frente à vingança e luto é maior do que a gente pode imaginar. Reese foi vencido pela dor, se a arma não tivesse falhado ele teria sucumbido à vingança e desperdiçar a transformação que teve pela Carter. Ele tem habilidades impressionantes, aprimoradas ao redor do mundo, mesmo Quinn admitiu isso. Poderia ganhar dinheiro em qualquer lugar, fazer o mal seria bem mais fácil que o bem, mas ainda assim ele mudou e é isso que faz da sua vida, se dedica a salvar pessoas.

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Luto pode modificar as pessoas de uma maneira tão profunda que ninguém poderia imaginar. Finch só começou o programa para salvar os números irrelevantes depois de sofrer a perda do seu melhor amigo, a única pessoa no mundo que parecia conhecê-lo. Com o luto ele viu que poderia tomar uma grande atitude e mudar o mundo. Ele colocou no mundo uma máquina capaz de prever coisas ruins de acontecerem. Finch pode evitar muitas coisas ruins, e o que vai fazer a respeito? Ignorar? Ele tomou uma atitude, brincar de Deus e salvar vidas. Exatamente o que a terapeuta com quem ele conversa fala que ele não é. Ainda acho que Finch vive com o dilema entre espionar vida alheia e salvar pessoas versus invasão de privacidade.

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À seu próprio modo Shaw também tentou por toda a vida salvar vidas. Em sua primeira opção ela não foi bem aceita por sociopata, mesmo querendo fazer o bem, e sendo uma médica melhor que os outros. Em seus empregos posteriores essa era uma qualidade desejada. Mas de uma forma outra, com números relevantes ou irrelevantes ela tem a chance de fazer o bem e proteger pessoas. Tendo sentimentos ou não. Sentimento deveria bastar para fazer um bom médico? Uma pessoa deve ser julgada pelo que faz, ou pelo que sente, no exercício do seu trabalho?

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Fusco diz no seu depoimentos, na sua consulta, que isso não tem nada a ver com sentimentos, tem a ver com justiça. Ética está acima dos sentimentos? É possível ser uma boa pessoa, ética, sem se importar com quem? As vezes é difícil acreditar nisso, principalmente que somos ensinados a fazer o bem, a amar ao próximo, e mesmo assim vemos tanta maldade no mundo. Ética vem com um conjunto de princípios sociais, um contrato que fazemos para viver nesse mundo, mas nem todo mundo segue nesse caminho. Fusco estava saindo desse caminho, mas teve a sorte de ser parceiro da Carter, que o ensinou a ser melhor, não importa o que aconteça. Ele agora é um policial melhor, um pai, um amigo e alguém em quem as pessoas confiam, mesmo Shaw.

Esse contrato social que temos, Elias não tem. Bandidos não tem. São pessoas que cobram olho por olho, dente por dente. Por alguns segundo pensei que Simmons pudesse fugir do hospital, mas em Person of Interest tem mais uma pessoa que foi salva pela Carter. Se Fusco mudou e foi frio o suficiente para não matar Simmons, para fazer justiça da maneira como a detetive gostaria, Elias não tem esse mesmo senso e precisaria cuidar desse pequeno problema que é o Simmons. Foi muito boa a lembrança da Root que eles não eram os únicos querendo que Simmons morresse. Imagino que tivesse uma fila de pessoas com a mesma intenção.

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Bandidos também tem um senso distorcido do que lealdade é. Todos eles abandonaram algo por dinheiro. Simmons prometeu fidelidade à policia de New York e mesmo assim se juntou à HR e abandonou seus princípios, a mesma coisa vale para o Quinn. A lealdade deles não é algo que podemos entender como ética, mas sim como ganância. Todos eles precisam ler “o livro das pequenas virtudes para crianças”.

Foi um bom desfecho para a HR ser Elias que matasse Simmons. Agora New York se viu “livre” dessa organização, mas Elias se vê livre para sair das sombras. Seus planos a cidade serão renovados, ele e os russos provavelmente entrarão em guerra por domínio de território.

Isso pode acontecer agora, daqui algum tempo, enquanto isso, o que acontecerá com Reese? Ele vai suportar mais um luto?

E Root e Finch? Este foi o melhor episódio da série para mim até agora. Tanto pela possibilidade de diálogo, por conseguir mostrar como cada um está lidando com a dor agora, como lidou com sentimentos e situações conflitantes no passado, por nos fazer pensar em ética e sentimentos em meio a um tiroteio e perseguição. Ainda não estamos na midseason finale e temos episódios dessa qualidade sendo entregue, me pergunto até onde os escritores pretendem ir. Há cura para a dor deles?

Person of Interest está nos permitindo discutir coisas importantes sem perder o caráter de diversão que é, com ação e momentos engraçados para aliviar o clima. Agora talvez estejam planejando maiores discussões sobre privacidade, talvez essa seja a maior guerra deverão lutar.

Talvez para termos o nosso próprio momento de luto, um novo episódio só será exibido no dia 17 de dezembro.

Até lá.


Camila

Mineira, designer, professora que gosta tanto de séries que as utiliza como material didático.

Belo Horizonte/MG

Série Favorita: Fringe

Não assiste de jeito nenhum: Supernatural

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