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Shameless – 1×09 But at Last Came a Knock

Por: em 10 de março de 2011

Shameless – 1×09 But at Last Came a Knock

Por: em

Uau!! Facilmente o melhor episódio da ainda curta vida da série, But at Last Came a Knock não só emociona e faz rir, mas choca com uma história surpreendente e que com as atuações de um elenco fenomenal prova de uma vez por todas a credibilidade de Shameless como evolução de trama e desenvolvimento dramático na vida de personagens sólidos.

Em seus primeiros episódios, Shameless ia seguindo o formato “caso da semana” enquanto desenvolvia seus personagens, cada qual com suas tramas pessoais. De uns episódios para cá, a série construiu um arco maior no qual todos eles estão inseridos e já bem mais maduros. Se essa era a intenção, parabéns roteiristas, vocês conseguiram. A chegada de Monica reuniu todos os Gallaghers e agregados em uma trama explosiva, cheia de sentimentos conflitantes, brigas e desabafos. Agora duvido alguém atirar a primeira pedra contra o Frank. Bêbado, drogado, insensível, seja lá o que ele for, nunca deixou seus filhos realmente. Seja quais foram suas motivações, se boas ou ruins, (e já vimos ele agindo sem segundas intenções) Frank sempre esteve por perto, mesmo reclamando e deixando a casa e os filhos por conta da mais velha, mas o que acaba pesando na vida dessas crianças (sim, todos foram crianças por um episódio) é que Frank NÃO os abandonou. Monica, por outro lado, largou o marido e seus seis filhos sem nenhuma explicação. Nem ela sabe direito porque foi embora. Frank bateu nela? Ela também bateu nele. Frank, com seu jeito de ser a deixou mal? Vimos claramente que Monica também é bem fora da casinha. Então quais foram os verdadeiros motivos da separação acho que nunca iremos saber, porque ambos são “perdidos” e visivelmente não estavam preparados para o que lhes aconteceu…seis fantásticas crianças.

O confronto mãe e filhos foi tão bem construído que toda a bagunça não incomodou. Do contrário, com aqueles personagens, ela era necessária. Vejam, todos aqueles ali buscam por uma mãe, buscam por alguém que os entenda, que os faça rir, que os faça feliz. O abandono de Monica deixou um vazio sentimental tremendo nos filhos, algo que eles buscam intensamente preencher, mas que nunca será a mesma coisa. Ela nem imagina o estrago que causou na vida de seus filhos, mesmo Fiona tendo feito o melhor que pode com o que tinha nas mãos.  Ela mesma é a mais insegura de todos. Fiona desconfia, luta para dar o braço a torcer, mas eventualmente aceita porque ela PRECISA de alguém para lhe dar colo. Todo o trabalho que a garota teve cuidando dos irmãos e da casa é algo que ninguém deveria passar na vida, muito menos com sua idade. Fiona precisa de uma mãe, que cuide dela e permita que nem tudo seja sua obrigação. Steve é essa “mãe”, que vem cortejando a namorada e por muitas vezes tomando o controle da situação, permitindo que Fiona respire e que alguém tome conta dela. Mas não é nada fácil sua mãe voltar do nada e exigir levar um dos filhos com ela…pedir que Fiona deixe ela tentar novamente com Carl e Debbie. Eu entendo 100% a revolta de Fiona. Mas também entendo duas crianças que precisam de uma mãe verdadeira, mesmo que não sejam capazes de distinguir que Monica nunca será o que eles querem.

Também não posso deixar de concordar com Debbie sobre os problemas que as mentiras de Steve podem causar na irmã. Quem não teve vontade de abraçar a pequena Gallagher em quase todas as cenas desse episódio? A bravura da criança em confrontar o namorado da irmã em sua possível traição e descobrir que ele vive uma mentira foi lindo de assistir. O problema é que Debbie nada mais é do que apenas uma criança. Ela pode ser muito esperta e madura para sua idade, mas não deixa de ter os sentimentos de qualquer menina dessa idade. Então quanto Steve enrola e não conta toda a verdade, (ninguém acreditou no “não quero ser como minha família, por isso minto para eles e para Fiona, trabalhando como ladrão de carros”, certo?) rapidamente apelando para as distrações que uma garota teria interesse, não tem como não acreditar. A nova casa ao lado; novos utensílios para cozinhar com Sheila; roupas e qualquer outra coisa que Steve oferecer pelo silêncio, Debbie irá aceitar, até porque ela não teria outros motivos para não acreditar na história de Steve e no fato de que ele ama Fiona (algo que eu mesmo acredito). A garotinha não é burra, somente é uma…garotinha. Por isso é fácil entender o abraço dela e de Carl na mãe com a promessa de um novo começo e de, enfim, uma mãe, biologicamente falando, porque Fiona já vinha fazendo esse papel. Porém, os dois irmãos se assustaram com Fiona largando tudo e indo morar com Steve, deixando todas as responsabilidades para Monica, então acho que o fato da mãe ter separado-os da irmã e do bebê Liam fará com que fiquem com mais raiva de Monica.

Os outros dois garotos também procuram sua mãe no que conseguem, e assim como Fiona, encontram nos seus relacionamentos. Lip está se apaixonando por Karen, uma garota que faz tudo para conseguir o que quer, seja “recuperar” a virgindade por um carro e participar do grupo de celibato do pai que ela odeia. Ela não é a garota para Lip, mas desde o final do episódio passado pudemos perceber que a paixão cresce a cada dia, mesmo que ele diga que sejam apenas melhores amigos. Ele encontrou em Karen a atenção, o afeto, e até, porque não, as imperfeições de uma mãe. Karen, mesmo que pobremente, preenche o vazio sentimental de Monica em Lip, alguém que está ali por ele…ou finge, porque sabemos que Karen não é flor que se cheire, afinal, até hoje não sei dizer se ela realmente gosta de Lip ou não. Já Ian desconta toda a frustração da falta de uma mãe, tendo problemas em firmar um relacionamento explorando sua sexualidade. Achei que Mickey estava mudando, pois quando Ian parou em sua porta, o garoto pareceu sinceramente preocupado e logo correu atrás dele no mercado, apesar dos dois acabarem transando. Claro, a descoberta do romance por Kash era algo que todos esperavam e apesar de interessante, a trama ficou encoberta pela volta de Monica. Mickey voltou a roubar chantageando Kash e levou um tiro na perna. Não sei como será daqui para frente, mas pelo que penso, Ian não tem mais chance com nenhum dos dois. Ele é um tanto diferente, gosta de estar no controle da situação, mas também quer ser protegido, o que o bobão do Kash não conseguia fazer e algo que Mickey não faria, mesmo Ian se apaixonando por ele.

Apesar de toda a extrema carga dramática, tivemos boas risadas nesse episódio. Sheila, coitada, sofreu com tanta bagunça em sua casa. Sério, o que foi Frank e Kev chegando correndo e ela largando a tigela e gritando “WHAT IS HAPPENING?”. Sheila deu show mais uma vez em todas as suas cenas, seja fazendo aquele telefonema para Monica, ou se assustando com a “surpresa” de Frank no closet, ou mesmo tristonha chorando debaixo do cobertor. Ela, do contrário, precisa ser mãe. Karen já não tem mais idade para que Sheila fique cuidando o tempo todo, por isso ela tem Frank e decidiu engravidar. Sheila gosta de responsabilidade e deixar tudo sob controle. As pessoas possuem vários aspectos de suas personalidades juntas e bem misturadas, mas Sheila possui esses aspectos soltos, agindo separadamente e no auge de suas emoções. Ela tem o aspecto materno, o aspecto responsável, o aspecto infantil, o aspecto sexual…e tudo isso resulta em uma personagem sensacional que vale cada segundo em cena.

Também ri muito com Monica e sua namorada. Antes de todo o lado emocional tomar conta, não teve como não dar gargalhadas com uma Monica infantil, e como eu disse, bem fora da casinha, triste por não ter ganho o urso na loja. Tivemos várias participações especiais que valeram a pena nesse episódio. Primeiro foi Simon, o garotinho geek que tem uma queda por Debbie e cuja cena resultou em uma referência a Harry Potter, que com certeza entrará nos P.S.’s lá em baixo. Depois tivemos a atriz Carolyn Hennesy fazendo o mesmo papel que faz em Cougar Town, a quarentona pegadora, para quem Lip faz alguns trabalhos. Conhecemos a divertida e pirada mãe de Steve que me fez rir alto com suas falas; e por último, com um trabalho excelente, a atriz Carlease Burke como Roberta, ou Bob para os não íntimos, a namorada de Monica. Conheço a atriz pelas diversas participações pequenas em outros seriados, e dessa vez ela arrasou, metendo medo em todo mundo e até dando um discurso moralista sobre pessoas negras que devem criar crianças negras. O fato é que Liam nem de Frank é, e como geralmente favorecem as mães, em uma ação judicial, Monica e Roberta acabariam tendo mais chance de ficar com o bebê, até porque devem ter uma renda para criar o garoto, algo que os Gallagher não tem.

Kev e Veronica apareceram muito pouco, mas também fizeram rir, querendo adotar o filho de Ethel. O que fez esse episódio ficar fantástico foi o conjunto da obra. O ótimo roteiro adaptado de Alex Borstein (que também apareceu no episódio como a divertida advogada de Frank) e a ótima direção de Mark Mylod, o mesmo responsável pelo piloto. A trilha sonora esteve impecável e a fotografia, principalmente na cena final e na da conversa de Steve com Debbie, mostrou do que a série é capaz. Mas dou todos os créditos ao elenco. Emmy Rossum detonou no confronto com a mãe e mesmo ainda descrente, essa mulher precisa ser indicada a algum prêmio. H. Macy continuou ridiculamente hilário com seus planos e diálogos infundados. Emma Kenney merece todos os aplausos possíveis por sua pequena Debbie, que nesse episódio fez o que muitos atores adultos não conseguiriam; Monaghan e Allen White continuam mandando bem, com destaque ao primeiro e suas cenas após saber da volta da mãe; e claro, Joan Cusack, que só merece elogios pela sua interpretação esplendorosa como Sheila e suas corridinhas engraçadas.

Faltando 3 episódios para o fim de sua excelente primeira temporada, Shameless promete demais e depois de But at Last Came a Knock, consegue deixar nós, fãs apaixonados, mais ansiosos impossível. E você ainda tinha alguma dúvida de que Shameless era worth watching?

P.S.1: Lip: “Liam is officially asleep.” Ian: “That was fast.” Lip: “Yeah, well, three pages from Deb’s Eat, Pray, Love and he’s out.” Ian: “And if James Franco wasn’t in the movie, I would’ve nodded off, too.”

P.S.2: Simon: “I got a signed first edition of Harry Potter.” Debbie: “Overrated. Made a better movie than a book. And now with all those kid actors grown up, they’re scarier looking than the villains.”

P.S.3: Monica olhando espantada para os filhos. Veronica: “It’s all right. I’m not one of yours. Just came to rubberneck.”


Caio Mello

São Bento do Sul – SC

Série Favorita: Lost

Não assiste de jeito nenhum: Séries policiais

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