Como a dramédia que é, Shameless conseguiu apresentar mais um episódio sensacional, dessa vez focado mais para o riso, mas que não deixou de ter suas partes dramáticas. A única coisa verdadeiramente ruim disso tudo é que depois de domingo, só teremos mais Gallagher em 2012.
É fato que Shameless conseguiu ganhar a simpatia dos fãs já em seu começo, como uma série divertida com personagens mais do que carismáticos. Mas da metade da temporada para cá, a série se consolidou como uma das melhores estreias do ano devido a evolução inegável de seu roteiro. Era o que faltava para a série conseguir dar 100% de si. Os roteiristas conseguem facilmente que nós fãs tenhamos vontade de morar naquela casa, mesmo com o mundo caindo em cima dos Gallagher. Veja por exemplo a cena inicial desse episódio: Steve e Fiona brincando no quarto do que os dois eram capazes de fazer, como dobrar a língua e mexer a orelha. É uma cena bem inútil comparando ao que Daddyz Girl apresentou, mas é um momento de distração de duas pessoas que passam isso com um realismo gigantesco. Quem nunca brincou disso com irmãos, pais, amigos ou qualquer outros? São em momentos pequenos como esses que Shameless se difere. Apresentar tramas chocantes, bons dramas e cenas cômicas muitas outras séries conseguem, mas não são todas que conseguem passar um realismo íntimo familiar que nos remete a nossas próprias vidas e ainda nos incita a querer vivenciá-los com seus personagens.
Muita coisa aconteceu em Daddyz Girl. Foi um episódio cheio de tramas, algumas menos relevantes que outras, mas que numa forma geral conseguiram ter espaço suficiente para serem desenvolvidas. O único plot que achei bem desnecessário foi o de Amy Smart. A atriz entra na trama como Jasmine, uma jovem mãe de três que tem um interesse por Fiona. Foi estranho, foi rápido demais e não conseguiu ganhar minha importância. Jasmine foi entrando na vida familiar dos Gallagher rápido demais, sem contar que suas intenções para com Fiona foram desenvolvidas com pressa. O que ela quer? Um relacionamento homossexual? Não é uma coisa totalmente irreal, porque Fiona irá se decepcionar tanto com Steve como com Tony e pode desenvolver um rápido complexo contra homens e tentar algo novo, explorando sua sexualidade. Claro, caso aconteça, muito disso virá de Jasmine e de seu controle mental em Fiona, incitando a garota que estará vulnerável. Fiona também não é burra e notou algo diferente. Jasmine já foi dando selinhos, passando a mão no corpo de Fiona e aproveitando momentos até para vê-la nua (aliás, corpaço da Emmy Rossum, enquanto Smart anda com barriguinha). No final, não sei se essa trama me interessa muito. Jasmine é estranha. O marido dela é estranho. As intenções dela são estranhas. Então precisamos esperar para ver o que acontecerá, porém, com tantas coisas para serem tratadas na season finale, não acharia estranho Jasmine voltar somente o ano que vem. E nem me importaria mesmo.
Steve e Tony deram um show a parte. Nunca vi nenhum trabalho do ator Tyler Jacob Moore, mas ele esteve ótimo mostrando um lado diferente e perigoso de Tony. Era um confronto que já estávamos esperando há muito tempo. O bom policial versus o charmoso ladrão, mas os roteiristas foram além e complicaram ainda mais a trama. Eu já imaginei que aconteceria algo desse tipo quando vi Lip e Ian usando o carro de Steve, que era o mesmo que Tony estava perseguindo, mas isso não diminuiu o impacto da cena. Incrível que Steve, mesmo na presença de um policial, não baixa a guarda e coloca a raiva para fora, desacatando e subornando uma autoridade. Tony, mesmo agindo pelo amor a Fiona e o ciúmes quanto a Steve, não esteve errado, perseguindo um bandido. A cena no beco foi genial e os dois atores estiveram muito bem. Steve deve desaparecer, ainda mais que tem outras coisas a perder. Quando Fiona ficar sabendo que os irmãos foram presos por estarem andando com um carro roubado, que é de Steve, ficará realmente decepcionada e corre o risco de que Debbie, sentindo a mesma raiva pela prisão dos irmãos, conte sobre a verdadeira família de Steve. De qualquer forma ele estará visto com mals olhos pela namorada, mas também não acho que as coisas serão fáceis para Tony. A culpa de tudo é de Steve por roubar carros, mas Fiona culpará Tony por ter mandado os policiais contra seus irmãos e também não irá querer vê-lo nem pintado de ouro.
Não sei como Lip e Ian se livrarão da prisão, mas imagino que Tony acabe ajudando. Porém isso é assunto para semana que vem. Não me canso nunca da dinâmica dos dois na série. Jeremy Allen White e Cameron Monaghan conseguem passar um relacionamento muito verdadeiro entre irmãos e isso só faz as cenas dos dois ficarem ainda melhores. Claro, não teve como não rir da tentativa de achar o verdadeiro pai de Ian. Primeiro Nana Gallagher deu show na prisão. Ri demais com seus comentários sobre a vida em cárcere e de saber que ela foi parar lá depois da explosão de um laboratório de metanfetamina que matou dois garotos!! Sem Wyatt na disputa já que a vida na marinha lhe tirou a chance de ser pai, sobravam os tios Jerry e Clayton. E quem imaginava que Frank tem um irmão gêmeo? Ninguém sabe de nada sobre a família. Frank não sabe onde os irmãos estão, Fiona não sabe os nomes dos tios…uma família realmente perdida. E depois do trabalho duplo de William H. Macy, conhecemos finalmente o pai de Ian. Clayton é a cara do filho, sem por nem tirar nada. E tudo isso foi interessante para mostrar que na verdade era Lip que queria estar no lugar do irmão. É ele que tem maior desgosto por Frank e desejaria ter uma outra chance, uma outra família. Não acho que ele também trocaria tudo, mas iria tirar algum proveito disso, financeiro ou emocional. Ian ama a família do jeito que ela é e não quer trocar. Afinal, o ruim dessa vida é mesmo Frank, mas tirando ele, ter irmãos como Fiona, Lip, Carl, Debbie e Liam, que mesmo aos tropeços formam uma família e o fazem feliz, é algo difícil de trocar.
Frank continua abusando dos filhos. Pelo menos dos que caem em suas conversas. Também foi hilário acompanhar sua busca por um trabalho perigoso que o permitiria receber dinheiro do estado novamente. O cara é pirado demais, e mais ainda eram seus colegas de trabalho, principalmente aquele necessitado de relação humana, protegendo Frank prestes a escorregar. Antes de esperar anos e ter uma doença pela inalação da fumaça, ele preferiu pregar a mão. É interessante acompanhar Debbie e Carl junto dele. O garoto é alheio a tudo e todos, e acaba não se importando se o pai está perto ou não, mas Debbie tem um amor gigante pelo pai e aproveita os minutos que tem para passar perto dele. Lá no fundo os sentimentos da garota devem travar uma batalha. Ao mesmo tempo que sonha em ter um verdadeiro pai Frank, ela reconhece a realidade de que ele nunca dará bola para os filhos. Apesar do traste que é e com a ajuda de seu egoísmo, Frank sempre foi cuidadoso em algumas questões. Depois que Eddie voltou para casa, vimos que Karen começou a provocar Frank, porém, ele sempre rejeitou. Mesmo com desejo, sabia que isso acabaria com sua vida, perderia o carinho de Sheila – não que isso fosse importante – mas junto disso perderia casa, comida e roupa lavada, sem falar que facilmente poderia ir preso. Então vou dar alguns créditos ao patriarca, que estava bem anestesiado e visivelmente gostaria de fugir daquela situação, e jogar toda e qualquer culpa na fantástica Karen.
Transtornada!! Karen literalmente pirou depois de ser chamada de puta pelo pai no baile de re-purificação. Não comentei semana passada, mas alguém pode culpar Eddie? O cara também é um traste e ninguém deveria tratar a filha daquela forma, naquela situação, mas ele não estava errado. Karen passou dos limites faz tempo, e até Lip admitiu isso nesse episódio. A garota não tem escrúpulos e agora está mentalmente perturbada buscando vingança. Tirando essa parte psicológica da personagem e comentando o visual, Laura Slade Wiggins deu show novamente. Agora morena, com piercing, tatuagem e um vlog onde mostra toda sua raiva, a nova Karen tocou o terror e tudo isso devido a ótima atuação de Slade Wiggins. Só que Karen não imagina que em seu último ato de rebeldia, ela não só destruirá o pai totalmente, como a vida de Frank e qualquer chance de um relacionamento com Lip. A cena final da personagem foi chocante, aproveitando de um anestesiado Frank para mostrar seu ato sexual com o novo pai. As consequências desse vídeo serão absurdas e me deixou realmente ansioso para a season finale. Agora me pergunto: onde estava Sheila? Lip disse que ela o deixou entrar, então ela estava em casa, mas ficaria tão alheia de tudo ao seu redor e não perceberia a fúria da filha? Ou então resolveram que a personagem agora consegue sair de casa sem mais problemas como se a doença tivesse parado de existir? Espero mesmo que não seja essa última opção.
Mesmo sentindo falta de Sheila, Kev e Veronica, o episódio foi ótimo e a espera pelo último da temporada é sofrível. Não sei mesmo como tudo irá se encaixar no final. Só sei que já estou com saudades da família disfuncional mais amada do mundo dos seriados.
P.S.1: Nana: “My goodness. Would you look at you two? I have never seen apple and spice looking so nice.” Ian: “Thanks, Grammy.” Lip: “How’s it going in there?” Nana: “Well, the food’s not so great, but the pussy’s pretty good. Never thought I’d be the type. Oh, this dump ain’t so bad. I can get blow anytime I like.”
P.S.2: Carl: “Come to work with your dad?” Garota: “No school. Budget cuts.” Carl: “Yeah, me, too…Want to go out sometime?” Garota: “I’m only 12.” Carl: “It’s cool. I’m into older women.”
