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The Walking Dead – 2×05 Chupacabra e 2×06 Secrets

Por: em 1 de dezembro de 2011

The Walking Dead – 2×05 Chupacabra e 2×06 Secrets

Por: em

Fica cada vez mais difícil de interpretar o que The Walking Dead está tentando construir. É estranho – e preocupante – o fato de chegarmos à metade da segunda temporada neste completo marasmo, apesar das diversas tramas que está desenvolvendo. A série anda sofrendo de sérios problemas de ritmo e coesão que estão tornando-a desinteressante para a audiência e boba aos olhos da crítica: uma das estreias mais promissoras do ano passado decepciona com seu drama fraco e sua ação cada vez mais escassa, e tudo o que os fãs podem esperar é que isso não passe de uma má fase.

Mais uma vez, desculpo-me pelos atrasos e faço uma review dupla para compensá-los, a começar por Chupacabra.

Ficou difícil de defender The Walking Dead. Após um bom episódio que muita gente achou pacato e escasso em acontecimentos, a série apresenta quarenta minutos completamente descartáveis, segurando uma revelação de pouco impacto até a última cena e preenchendo o resto do episódio com situações desnecessárias e que pouco acrescentarão à história. Passo a me perguntar se é isso que os roteiristas querem: que nos acostumamos com esse desenvolvimento vago e mal planejado e com essa economia sem sentido do conteúdo original, pois talvez sejam estes os planos deles para o futuro da série.

E este, que foi provavelmente o pior episódio desta temporada, começou promissor. O agrupamento dos sobreviventes que acompanhamos hoje, o marido abusivo de Carol, o bombardeio de Atlanta e a atmosfera desesperadora que justifica o início tão rápido do relacionamento amoroso de Shane e Lori foram os alicerces de mais um ótimo flashback, que cumpriu muito bem sua função (até a Sophia apareceu), repetindo-se o acerto de Bombshell. Aliás, um episódio mostrando a vida dos sobreviventes antes dos walkers e contrastando-a com a situação deles hoje seria muito bacana. Através dos quadrinhos, pouco ficamos sabendo da vida pré-apocalipse da maioria dos personagens, e a série cresce muito quando apresenta-se como um complemento à história da HQ e não uma simples adaptação do material, aproveitando as possibilidades de storytelling que a televisão oferece.

O problema foi o que veio a partir daí.

Entendo qual o objetivo desse formato que a série adotou, rejeitando saltos temporais significativos (de What Lies Ahead a Cherokee Rose, só passaram-se três dias): essa sensação de que estamos acompanhando cada passo dado pelos personagens, de que não seremos poupados de nada, é fundamental na graphic novel e na TV vinha mostrando-se muito bem-vinda. Mas, talvez para evitar a sensação inverossímil que passaria se muita coisa relevante acontecesse em tão curto espaço de tempo, The Walking Dead escolhe uma alternativa ainda mais questionável, “brincando” de construir subplots-castelos de areia e destruí-los ao final de cada episódio, deixando para o telespectador a tarefa de garimpar a meia dúzia de informações realmente importantes para a continuidade da trama em meio a tanta futilidade.

Se no episódio passado os roteiristas recorreram à papagaiada do zumbi no poço para trazer alguma ação à trama estagnada, em Chupacabra a vítima da vez foi Daryl, personagem favorito de dez entre dez telespectadores (porque ele não chora, não morre, não mata personagens potencialmente legais, não é chato, não fica grávido, não é idiota, não coloca a vida de ninguém em risco quando leva um tiro e é um dos poucos personagens que já passaram pela série que age de acordo com a calamidade que a raça humana está enfrentando, e não como se estivesse em One Tree Hill). Mas, ao contrário das boas sequências de Cherokee Rose, este filler mostrou-se um belo de um tiro no pé: se o personagem morresse, seria a pior decisão criativa do universo (iam ter que contratar o elenco de Os Mercenários para compensar o desfalque). Se sobrevivesse, mas não encontrasse Sophia/Merle/um novo abrigo/nada de útil acontecesse, seria a enrolação mais sem vergonha da história da série. E, como o princípio de um filler é exatamente não alterar a história significativamente, a segunda opção foi a escolhida (e não me venha com “mas ele achou a boneca“).

Não que essa história não tenha rendido boas cenas. A luta pela sobrevivência de Daryl, utilizando a figura do irmão tanto para propósitos motivacionais quanto para lembrá-lo de que ele não pertence realmente àquele grupo, foi espetacular (ele fez um colar com orelhas em uma série onde a maioria dos personagens passa os episódios sentada/choramingando) – apesar de eu não ter entendido por que o zumbi começou a comê-lo pela bota -, Andrea tomando atitudes foi ótimo (mesmo que ela só tenha feito cagada, já é um começo), um indício de um possível envolvimento entre Daryl e Carol me pareceu meio forçado no começo, mas já estou aceitando a idei… mas não deu. Vinte minutos de episódio em cima de um acidente de cavalo provocado por uma cobra (em pleno apocalipse zumbi!) é demais. E a cena do Daryl sendo confundido com um zumbi e levando um tiro depois de tudo o que passou pareceu ter se inspirado na franquia Todo Mundo Em Pânico.

O episódio teve seus méritos, como o levantamento de algumas questões que já eram debatidas pelo fandom (a “hierarquia” do grupo, a possibilidade de Sophia estar morta, vida deles antes disso tudo começar, etc.), uma melhora na qualidade do roteiro (vide a discussão entre Rick e Shane), mas no geral foi bem mediano. Tome por exemplo o silêncio na cena do jantar: a intenção era que a tensão construída entre o grupo de Atlanta e os residentes da casa falasse por si, deixando o clima carregado. Como essa tensão é quase que completamente injustificada, o que obteve-se foi uma cena tediosa cujo único alívio foi a desajeitada troca de bilhetes entre Maggie e Glenn. Sem uma boa história para sustentá-la, não há hype que sustente The Walking Dead (e eu não estou falando de números, e sim de qualidade). Ao final, a revelação do celeiro (revelação ou exposição, já que 80% da audiência já esperava isso, seja através da HQ, de spoilers ou de simples deduções) foi muito bem feita, mas não pareceu forte o suficiente para justificar o episódio.

Chupacabra é a prova de que a única maneira comprovadamente eficiente de agradar um fã da franquia The Walking Dead é trazendo evoluções significativas à história. Não adianta vir com distrações baratas – um dia elas param de funcionar. E o pior é que estas evoluções estão acontecendo, mas o ritmo que a série escolheu acabam desperdiçando revelações de peso e avanços importantes nas tramas, que poderiam reascender o interesse do telespectador, mas acabam perdidas em meio a tantas cenas desnecessárias, mais ou menos quando você compra um pastel de vento e, quando finalmente chega no recheio, sua insatisfação sobrepõe o sabor.

E se um filler é necessário e dois é demais, três extrapola os limites do bom senso. Secrets foi o terceiro episódio consecutivo desta temporada em que, apesar de alguns (poucos) bons momentos e dos desdobramentos de alguns plots, nada parece ter acontecido. Esse tipo de desenvolvimento lento, com ênfase nos personagens, pode funcionar muito bem em grandes dramas como Six Feet Under,  mas The Walking Dead não é um grande drama. Aqui, isso só serve para deixar o telespectador com a sensação de que existe muita pouca história para ser contada. Existem zumbis dentro do celeiro, uma criança perdida em uma floresta cheia de zumbis, um assassinato sendo mascarado como acidente, uma gravidez carregada de potencial dramático… por que é que a série não está empolgante?!

Secrets foi um pouco menos cretino que Chupacabra no quesito encheção de linguiça. Aqui, o roteiro apostou na repercussão das revelações dos episódios anteriores, ao invés de introduzir uma nova situação apenas para queimar screentime, o que seria perfeito, se o episódio tivesse servido para desenvolver essas tramas. Não foi o que aconteceu. Excetuando-se os dez minutos finais (cliffhanger é de lei na série, e isso eles sabem fazer muito bem) e uma ou outra cena no meio do episódio, ele contentou-se em ficar remoendo o ponto da história no qual chegamos. Isso faria sentido se os episódios anteriores tivessem sido tão bombásticos que a audiência precisasse de um tempo para digeri-los (a tempestade depois da calmaria), mas, novamente, não foi o caso. Secrets foi arrastado porque eles não tinham nada além daquilo para mostrar essa semana, e é isso.

O levantamento de questões pertinentes como a do aborto (que ganha uma nova dimensão no contexto da série) e a da real condição de um zumbi (pessoas doentes ou monstros canibais?) foi muito superficial. Não que eu esperasse que os personagens fossem antropólogos e sociólogos brilhantes, mas já que é para pautar determinado assunto, que paute direito. Não que eu espere que a série vire Dawson’s Creek, mas se é para criar desfechos dramáticos de grandes proporções (e de grande antecipação), que as falas pareçam críveis. The Walking Dead não consegue ser boa naquilo que se propõe a fazer.

Já outros conflitos não são interessantes nem em teoria – como Glenn contando tudo para o Dale: no que isso vai enriquecer a série? No que isso fará a história deslanchar? Por acaso ele vai assumir o filho da Lori ou começar uma campanha anti-zumbifobia? Dale não consegue satisfazer o estereótipo de velho sábio concelheiro e conciliador, em outro fracasso do roteiro. Lembrando que a situação do celeiro, por mais tensa que possa parecer, está controlada, e não chega nem perto do perigo que o mundo exterior representa agora. Quando não se tem muito o que desenvolver, faz-se uma tempestade em copo d’água para manter o telespectador acordado. Só não entendo por que eles continuam catando migalhas de histórias fracas, quando têm mais de noventa edições de quadrinhos com as quais trabalhar.

Mas o episódio não foi de todo ruim: ver Carl e particularmente Andrea se desenvolvendo é ótimo. O garoto, porque é o personagem mais interessante da HQ e o que mostra de maneira mais crível os efeitos de crescer e desenvolver-se em meio a uma situação tão caótica, storyline que eu não via a hora de ver na TV. E a moça porque não tava dando para aguentá-la desde a morte da irmã (excetuando-se o momento em que ela mata o zumbi com golpes de chave de fenda). Esses dois personagens só têm a ganhar ao aproximarem-se de suas contrapartes na graphic novel, aproveitando as mudanças exclusivas da trama televisiva (o envolvimento de Andrea e Shane ficou bastante orgânico, e a influência do mesmo parece afetar também a Carl). Só achei meio desnecessária as cenas no subúrbio (a essa altura, acho que ninguém espera mais que eles saiam em uma dessas expedições em busca de Sophia e alguém exclame “aí está você, sua danadinha”, então não vejo por que perder tempo com elas).

Entre as boas cenas, encontram-se também as que envolvem o casal Glenn e Maggie e a sincera conversa entre Rick e Lori, cujo relacionamento parece ter resistido aos espinhosos segredos que vinham sendo cultivados desde o início da série (me sinto comentando A Vida da Gente). A reação de Rick foi muito melhor e mais verossímil do que eu esperava (seria a cara desse seriado se ele tivesse um acesso de fúria) e acho que, das cenas dramáticas do episódio, esta foi a única que realmente atingiu o objetivo traçado pelos roteiristas  – mas ainda não vejo motivo para o tratamento superficial que esse plot ganhou neste episódio, indicando que um desenvolvimento real ainda está por vir. Eles têm tanta história para contar, para que amarrar o jegue nesse impasse que não consumiu nem uma edição inteira dos quadrinhos, se não vai dar a ele um tratamento mais apurado?

É triste o fato de The Walking Dead ter tudo para dar certo, e mesmo assim continuar com esse desempenho tão aquém do esperado. Seu roteiro nunca foi um ponto particularmente forte e várias mudanças em relação à graphic novel levaram a resultados questionáveis logo na primeira temporada, mas agora a abordagem da graphic novel escolhida pelos roteiristas da adaptação está mostrando-se prejudicial à história. Existe, entretanto, a possibilidade das decisões tomadas por eles levarem a uma inteligente condução da trama na TV, que respeite tanto a obra original quanto a mídia com a qual eles estão trabalhando.

Então tá, roteiristas. Chegamos ao ponto em que vocês queriam. Triângulo amoroso estabelecido, gravidez revelada, segredo do celeiro descoberto, Carl recuperado, natureza de Shane sendo exposta aos outros membros do grupo, personalidade de Andrea se transformando, dúvidas quanto à morte de Otis surgindo, relacionamento de Maggie e Glenn bem delineado. Agora podem começar a temporada pra valer. O que for mostrado a partir daqui pode mudar a avaliação geral desse segundo ano ou estabelecer a série como uma insossa adaptação que não faz jus à HQ (já que a primeira temporada também não foi grande coisa). Eu realmente espero que a primeira hipótese se concretize, mas devido à essa desestimulante sequência de episódios, estou mantendo minhas expectativas baixas. Espero ser positivamente surpreendido por Pretty Much Dead Already, o mid-season finale que foi ao ar domingo (se bem que o promo não me animou muito, não). A review do mesmo sai amanhã, assim que eu assisti-lo.

E você, também anda insatisfeito com a segunda temporada de The Walking Dead?


João Miguel

Bela Vista do Paraíso - PR

Série Favorita: Arquivo X

Não assiste de jeito nenhum: Reality Shows

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