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The Walking Dead – 2×07 Pretty Much Dead Already

Por: em 4 de dezembro de 2011

The Walking Dead – 2×07 Pretty Much Dead Already

Por: em

Depois de uma preocupante sequência de episódios, The Walking Dead reconquista sua audiência ao fazer o que ela vinha pedindo desde o início da temporada: ousar. Insistindo em seu ritmo mal arquitetado, a série continua liberando muito pouco de sua trama, mas dessa vez, a promessa de grandes acontecimentos na próxima metade da temporada e a revelação de seu ambicioso clímax para a storyline que serviu de espinha dorsal para estes sete episódios foram suficiente para trazer novo fôlego ao telespectador, que começa a ver sua paciência sendo recompensada.

Logo no começo do episódio, com Glenn revelando a situação do celeiro ao restante do grupo, já deu para perceber que aqui, a atitude de The Walking Dead em relação à sua trama seria diferente daquela adotada nos episódios anteriores. A tensão entre o grupo e a sensação de agitação, de algo-está-prestes-a-acontecer, demonstravam a consciência que os roteiristas tinham da expectativa que foi criada em cima deste momento. Midseason finale não é hora para rodeios, não só pela responsabilidade que o episódio carrega, mas, no caso dessa série, pelo que ela construiu com tanta calma durante os outros seis episódios: a função de Pretty Much era colher os frutos plantados por seus antecessores, e se não o fizesse, seria a maior frustração já proporcionada pelo seriado.

O episódio todo seguiu este compasso alterado, mas que nunca deixava de aludir aos monótonos momentos de Secrets ou Chupacabra. É como se esse seriado nunca conseguisse contornar completamente seus problemas de ritmo e seu texto mediano. Passamos por momentos de certa mediocridade, como as cenas que estabeleceram de uma vez por todas o antagonismo entre Shane e Dale (ele roubou as armas e foi esconder no mato? E ninguém disse “gente, espera lá” quando essa ideia foi sugerida na sala de roteiristas?) ou a conversa vazia entre Shane e Lori (o próprio roteiro – cujo objetivo era exatamente o contrário – trata esse triângulo com imparcialidade, não dá pra se envolver), intercaladas em meio a cenas de qualidade dramática superior à que costumamos ver na série.

Os conflitos, entretanto, ainda não pareciam fortes o suficiente. Zumbis no celeiro? Contanto que continuem lá, tudo bem.Hershel queria o grupo de Rick fora? Dez pessoas saudáveis, com experiência em sobrevivência e combate, que poderiam trabalhar para ele e defendê-lo de eventuais ataques: por que mandá-los embora? Conflito Rick-Shane-Lori? Que conflito, se Lori não quer voltar com Shane e Rick aceitou criar a criança que pode não ser dele? Maggie está chateada com Glenn? Isso não é relevante o suficiente para entrar na lista de conflitos. Tudo sempre um tanto vago, sem aquele elemento que torna tudo mais crítico, mais volátil, mais tenso. E The Walking Dead encontrou este elemento no drama.

Neste contexto, três personagens ganham destaque. São eles Shane, Hershel e Rick.

O primeiro, que praticamente protagonizou este episódio, teve reações que a princípio não me agradaram. O objetivo do “Shane da TV” era, de certa forma, redimir o personagem da graphic novel, mostrá-lo como um incompreendido, alguém que não era intrinsecamente mau, apesar de atitudes que poderiam indicar o contrário. Aí ele sai fazendo bullying com velhinhos e organizando arruaças. Mas o interessante foi que, conforme o episódio progrediu, Shane alcançou uma posição anti-heroica que contrasta o perfil de Rick, mas, sob alguns pontos de vista, estava coberto de razão em tudo o que fez. A cada cena, tomar o partido do rebelde parecia cada vez mais uma atitude sensata. Suas motivações e métodos podem ter sido imorais, mas as ideias que ele defendeu são plausíveis. E sem ele, Pretty Much não seria nem metade do que foi.

Em contrapartida, o sempre bom moço Rick ganha dilemas mais graves do que seu relacionamento com Lori. Ao mesmo tempo que ele não rejeita a posição de líder dos sobreviventes, não sabe muito bem como administrá-la, ora clamando pela compaixão de Hershel ora agindo como um de seus empregados. A doentia cena em que ele retira aquele casal de zumbis do rio a mando de Hershel ilustra as difíceis decisões que ele está tendo que tomar em nome do restante do grupo, nomeadamente Carl e Lori: ele vai contra tudo o que sabe sobre aquelas criaturas para atender aos desejos daquele que pode oferecer a seus protegidos a segurança que ele falhou em prover.

A propósito, a maneira como os walkers foram retratados neste episódio fez toda a diferença. A maquiagem e os efeitos, invariavelmente pontos altos em qualquer episódio, tiveram destaque em Pretty Much ao reforçar com uma inigualável eficiência gráfica a natureza dos mortos-vivos: não são parentes ou vizinhos, e sim novos inimigos naturais pestilentos e asquerosos que eventualmente te farão escolher entre a sua vida ou a existência deles. The Walking Dead erra tanto a mão em alguns quesitos e ao mesmo tempo atinge a perfeição em outros.

Voltando ao golden trio do episódio, Hershel sofreu com a pouca exploração de sua natureza e de seus pontos de vista (e não foi por falta de screentime disponível). O personagem, que deveria representar as pessoas que escolhem uma visão conservadora e enebriada por conceitos religiosos na realidade hipotética que a série retrata, chegou muito perto de soar caricato e senil, e muito do sucesso de suas cenas é mérito de Scott Wilson, que desde Bloodletting já compensava as imperfeições do roteiro com uma atuação de encher os olhos. A última cena, entretanto, conseguiu redimir essa falha cometida com o personagem – e muitos outros tropeços da série até aqui.

Aquele ato final foi desolador. O contraste da explosiva atitude de Shane com a chaga emocional que ela abria em especial nos habitantes originais da fazenda foi o casamento perfeito entre os dois pilares de sustentação do seriado: ação e drama. O primeiro ele sempre soube fazer, no segundo ele sempre foi falho, mas aqui tudo funcionou perfeitamente. A fisionomia dos personagens enquanto atiravam, a desesperada perplexidade de Hershel, Rick de mãos atadas… nunca uma sequência que colocou os sobreviventes contra os walkers foi tão intensa e teve tanto impacto no telespectador.

Então, talvez pela primeira vez em todo o seriado, sentimos junto com os personagens a dor deste mundo novo em sua plenitude. O potencial dramático de uma infestação zumbi poucas vezes foi tão bem explorado quanto na cena em que a recém-transformada Sophia, agora um bicho sórdido com propósitos canibais, se arrastava em direção à pessoas que tantas esperanças alimentavam em relação a seu destino. O grito de Carol, Lori protegendo seu filho daquilo, as reações de cada um, silenciosamente compreendendo Hershel, Rick reassumindo seu posto de autoridade absoluta, a alusão à primeira cena do piloto… elementos que construíram um poderoso momento da teledramaturgia (quem diria, hein, The Walking Dead).

A série tem agora algo de muito grande em suas mãos, e as alternativas de desenvolvimento a partir daqui são numerosas e promissoras. Pretty Much Dead Already não foi um episódio perfeito (e se algum dia a série já teve um, foi Days Gone Bye), mas, mesmo antes de seu final, apresentou sinais de melhora em relação aos que o precederam. E justiça seja feita: apesar de suas falhas, a genial conclusão que apresentara às duas principais tramas da primeira parte da temporada faz dele uma referência a ser seguida ano que vem. Em entrevista, o criador da graphic novel prometeu episódios mais sombrios e concentrados no desenvolvimento da história em 2012, e agora, com confiança renovada, espero da série episódios como este, em que seus inquestionáveis acertos sobrepunham seus defeitos.

Até Fevereiro! 

P.S.: E Carol e Daryl? Tão gostando?

P.P.S.: Prometo menos atrasos para o ano que vem nas reviews. A começar pela de Nebraska, que vai ao ar em 12/02 (assista ao promo)


João Miguel

Bela Vista do Paraíso - PR

Série Favorita: Arquivo X

Não assiste de jeito nenhum: Reality Shows

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