Every life matters.
Transformando horror em poesia, como há muito não fazia, True Blood entregou, às vésperas de mais um season finale, um dos melhores episódios da série.
O episódio intercalou, sem que em momento algum houvesse um encontro, duas linhas narrativas distintas. De um lado, tínhamos praticamente todo o elenco humano da série no velório de Terry. Do outro, a jornada sangrenta de Eric e Bill no acampamento vampiro. Há quem questione tanto tempo de tela, em um penúltimo episódio, gasto com flashbacks sobre o Terry e sua relação com Sam, Andy e cia. Sim, ele não era realmente o personagem mais importante da série, mas como alguém que fez parte da história de True Blood desde sua primeira temporada, não dá pra dizer que tenha sido injusto da parte do roteiro dar tanto screentime ao seu adeus.
O que as diversas cenas mudam na mitologia da série? Sim, de fato, praticamente nada. Mas foi uma forma singela de se despedir com honrarias a um personagem que por mais que não estivesse envolvido nas principais histórias da série, funcionava muita vezes como um eficiente alívio cômico. Alguns momentos no velório também foram interessantes de acompanhar, como Sookie falando sobre ser uma telepata, uma citação,ainda que rápida, a Hoyt e os depoimentos emocionados de Andy e Sam.
Além de tudo, fica um pouco claro que a função destas sequências era conferir ao episódio o ritmo adequado, já que enquanto Bon Temps chorava a morte de seu morador, Eric e Bill faziam com que o núcleo da prisão se desenvolvesse de uma forma assustadoramente rápida e, porque não dizer, trash? No bom sentido, claro. Fazia tempo que eu virava os olhos para uma cena de True Blood e fiz isso duas vezes em Life Matters: Quando Eric arranca o pênis do cientista e o deixa agonizando e minutos depois, quando Bill esmaga a cabeça do mesmo cientista. Foram momentos assim que ajudaram a consagrar a série no passado e a despeito de meu estômago fraco, foi bom ver que os roteiristas ainda conseguem entregar essas sequências.
Antes de passar de vez para o núcleo do acampamento, é preciso comentar também que a primeira cena do episódio, quando Sookie expulsa Bill do país das fadas com a luz após uma acalorada discussão, me fez repensar o que falei anteriormente, sobre os dois poderem um dia voltar a conviver civilizadamente, já que um retorno romântico eu acho quase impossível.
Já é um pouco característico de True Blood adiantar o final de suas principais tramas para o penúltimo episódio da temporada, enquanto o finale em si funciona mais como um “acertar das peças” e uma grande introdução à próxima temporada (uma série que faz algo parecido é Game of Thrones). Assim, vimos a trama dos “campos de concentração” chegar praticamente ao fim, depois do verdadeiro massacre promovido por um Eric fortificado após quase ter drenado Warlow até a morte. A morte de Nora foi o catalisador para que tudo em Eric se transformasse em fúria desmedida e desejo de vingança. E é bacana ver que, apesar disso, Eric ainda é capaz de bons gestos para os humanos, como salvar a vida de Jason. Óbvio que ali havia também o desejo de encontrar Pam e Willa, mas a atitude foi válida. A cena que encerra o episódio com ele e Pam é linda e carrega uma incerteza quanto ao caminho do vampiro viking que angustia um pouco.
Entre atitudes louváveis, contudo, destaca-se a de Bill. O momento onde ele deixa todos os vampiros que estavam condenados a queimar se alimentarem simultaneamente de seu sangue é um dos mais fortes do episódio. Stephen Moyer teve a chance de brilhar novamente nesta temporada e não a deixou passar. Encontrava-se estampado nos olhos de Bill um misto de medo, dor e, ao mesmo, satisfação de ter concluído com êxito aquilo que tinha ido fazer ali: Salvar o quanto pudesse de sua raça.
Desta trama, fica a curiosidade de como Bill sobreviveu. Teorias? Por mais que ele seja um dos protagonistas da série, toda a sequência de Life Matters apontava facilmente para uma morte dele, desde a grande quantidade de sangue que ele doou para os seus até o modo como ele ficou jogado ao chão após o “jantar”, com as servas de Lilith se aproximando dele. Agora, mais do que nunca, Bill é uma espécie de deus para os vampiros. Seu sangue fez com que eles nascessem de novo e vai ser interessante conferir a nova dinâmica. E aqui eu falo não apenas do panorama de Bill com os vampiros, mas também deles, que beberam o sangue, com os humanos, já que agora eles podem andar sob a luz do sol.
E foi graças a essa nova habilidade que ganhamos cenas que se situam no limiar entre o mórbido e o poético, com os vampiros dançando após sobreviverem, aclamando ao sol e saindo a luz do dia, sorrindo e comemorando a “nova vida” e a destruição em massa dos lotes de Tru Blood contaminados.
E, vejam só. Jason, que passou a temporada inteira apagado, apresentou aqui o que acredito ser sua cena mais poderosa na série. Ele e Sarah tinham assuntos inacabados há algum tempo e, cedo ou tarde, esse acerto de contas iria acontecer. O irmão da Sookie é o personagem mais torto da série e todo o discurso de ódio aos vampiros já estava cansando. Ao mesmo tempo em que Sarah não merecia fugir ilesa, seria contrária a personalidade de Jason cometer um assassinato. A sequência, de qualquer forma, valeu pela explosão do rapaz. E a curiosidade a respeito do destino de Sarah fica (ou não) para o season finale.
Semana que vem a temporada se encerra com Radioactive. Ansiosos? Confira o trailer do episódio abaixo:
