“Manhunt” é um episódio que vem para desconstruir o clima de união que começou a ser esboçado em “The Fire. Em circunstâncias normais, um homem emocionalmente descontrolado não causaria tantos problemas, mas a clausura em que Chester’s Mill se encontra é o suficiente para exaltar os ânimos e fazer os conflitos aflorarem, e é claro que isso é só o começo da grande tormenta pela qual a cidade está prestes a passar.
A reação inicial dos moradores de Chester’s Mill à redoma foi extremamente calma diante do problema que eles enfrentam, por isso o comportamento de Paul foi tão contrastante com o do restante da cidade. Claramente a morte de seu companheiro foi um acidente, mas no meio de toda a tensão, o assassinato foi uma válvula de escape oportuna para que a população tivesse um inimigo em comum para descarregar suas aflições ainda não liberadas.
A caçada a Paul marcou o início de uma aproximação entre Jim e Barbie, e ainda é difícil decifrar se o vereador vê o forasteiro como um possível aliado ou apenas quer manter por perto um provável inimigo. Seja como for, as cenas entre os dois foram as mais interessantes de se acompanhar, por isso cheguei a lamentar que Paul interrompesse a conversa com mais um de seus ataques. Estava bem óbvio que ele não mataria ninguém, mas a chegada de Linda para resolver toda a situação sem relutar foi uma surpresa considerando tudo o que vimos da policial anteriormente.
Linda sem dúvidas foi a personagem que mais sofreu as consequências dos acontecimentos recentes, sendo separada de seu noivo, perdendo seus parceiros e se vendo obrigada a matar um deles. A imagem frágil e ingênua da nova Xerife vai sendo derrubada a cada cena, dando lugar a uma mulher muito mais forte, que na verdade sempre existiu (ou ela não teria escolhido uma carreira na polícia), mas talvez nem ela mesma conhecesse por nunca ter enfrentado desafios como os que precisa encarrar agora.
A cena em que ela retira os nomes de seus colegas dos armários é comovente, e Natalie Martinez realizou um ótimo trabalho sem palavras ao fazer com que o espectador tivesse vontade de coloca-la no colo e oferecer um pouco de conforto. Agora ela tem uma nova função e vai precisar de toda a força para cuidar sozinha da cidade.
No núcleo adolescente, temos um grande tempo gasto para mostrar o nível de alienação dos jovens de Chester’s Mill. É até difícil acreditar que uma das únicas casas com um gerador no local é usada para… carregar celulares. Quer dizer, não é como uma queda de energia que as pessoas sabem que está sendo reparada pela companhia de eletricidade, é um fenômeno sobrenatural que ninguém sabe se um dia irá embora e em vez de otimizar o uso dos recursos, eles simplesmente acham ok gastar tudo de uma vez até explodir uma das únicas fontes de energia disponíveis. Joe, por sua vez, só demonstrou um pouco de atitude quando a garota em quem estava de olho ficou ameaçada por um valentão qualquer. Aliás, nada mais romântico que tocar a mão de seu pretendente e embarcar junto com ele em uma convulsão, não é?
Junior segue em sua obsessão por Angie e vai atrás de uma saída da cidade pelo subsolo. A tentativa é frustrada, é claro, mas rende uma boa interação com Julia, suficiente para nos mostrar um pouco mais dos dois personagens e também para colocar na cabeça da jornalista uma desconfiança sobre Barbie. Está certo que o psicopata inverteu os papéis na história que contou, mas Barbie também esconde seus segredos e uma ponta de desconfiança será o suficiente para levar a curiosidade da repórter até o fim. Ela já se mostra cautelosa ao tentar buscar pistas em vez de partir para o interrogatório de costume, então é de supor que, pelo menos por enquanto, o forasteiro ainda terá um teto na cidade.
O episódio foi bem mais interessante que o anterior, embora não tenha investido em grandes cenas de ação. Se o desenrolar das parcerias esboçadas em “Manhunt” for tão bom quanto seu início, ainda teremos ótimos momentos entre Barbie e Jim e Junior e Julia, além do crescimento pessoal de Linda, que tem sido um dos pontos fortes nesse início de série.
