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United States of Tara – 3×09 Bryce Will Play

Por: em 28 de maio de 2011

United States of Tara – 3×09 Bryce Will Play

Por: em

De tempos em tempos aparecem pessoas em nossas vidas com o objetivo de nos ajudarem a crescer. Isso fica ainda mais significativo quando podemos fazer o mesmo, criando uma relação de reciprocidade, que mesmo acabando algum dia, ficará em nossas memórias para sempre. É o que aconteceu com Tara e Dr. Hattaras.

Essas situações podem acontecer não só com pessoas. Nós viciados em séries sabemos que algumas de nossas preferidas nos ajudam a crescer, pensar diferente, tentar mudar. Quando chegamos nesse “estágio” de relacionamento com um seriado, no qual apenas a questão dele ir ao ar toda semana nos deixa com um sorriso no rosto, é porque ele é especial. Não precisa ser o melhor em termos de roteiro, produção, atuações e tudo que se refere a a séries. Pode ser simplesmente o que nos motiva a ir para a frente da TV e assistir, degustar, opinar, escrever. Essa relação eu tenho com United States of Tara. A série que eu mais amo assistir. Infelizmente só me restam três episódios. Quando anunciado o cancelamento da série e a renovação de Nurse Jackie tomei um choque. Não porque o cancelamento era algo irreal. Semana passada comentei aqui com vocês diversos motivos pelos quais a série poderia estar em sua reta final. O choque se deve a renovação de Nurse Jackie e que fica muito bem explicado nesse pequeno e rápido comentário do crítico Alan Sepinwall:

“Sim, “Jackie” (uma série que, assim como outras do Showtime, se contenta em repetir sua fórmula a todo momento, ad nauseum, com nenhuma consequência significativa para seus personagens ou mudanças na estrutura) vive, enquanto “Tara” (uma série que, independente dos erros que teve, está disposta a tentar novas coisas e colocar seus personagens em novos cenários) morre.”

O cancelamento de United States of Tara trás de volta a velha discussão do que é importante nessa indústria: dinheiro!! Apesar de ganhar alguns prêmios (de grande mesmo um Emmy e um Globo de Ouro para Toni Collette), Tara não é uma série comercial. Ela não vende como Nurse Jackie (que além do Emmy de Edie Falco, consegue pelo menos concorrer a melhor série). Por isso, mesmo com os esforços dos mais devotos fãs para renovarem a série e ameaçarem cancelar a assinatura do Showtime, não valerá a pena. O número de pessoas que assinam o canal para ver Tara é muito pequeno comparando a qualquer outra série. Jackie não vai bem na audiência, mas seus episódios têm, geralmente, 250.000 telespectadores a mais do que Tara, conseguindo facilmente ficar acima dos 0.430 milhões, enquanto Tara não passou dos 0.410 nessa temporada. Para isso a única coisa a comentar é o que Sepinwall disse, e que você pode ler mais sobre a opinião dele nesse ótimo artigo. A preguiça dos americanos para acompanhar uma série que foge do senso comum é imensa. E agora chegamos ao ponto que nem mesmo nos canais a cabo nossas séries estão seguras. Para que acompanhar uma série sobre uma mulher com transtorno dissociativo de identidade, cuja história está em seu auge, mostrando drama, comédia, suspense com roteiros inteligentes e atuações impecáveis, enquanto eu tenho dramas procedurais, médicos e de advogados que (em sua maioria) tendem a usar a mesma fórmula?

Entre tanta injustiça e tristeza, tiramos algumas coisas boas. Todos os críticos que já viram os três episódios finais, garantem que, apesar de claramente o final não ter sido planejado como series finale, funciona perfeitamente como um. Ou seja, United States of Tara terá um final decente, sem cliffhangers abertos, além daqueles básicos sem grande importância. Todos eles, assim como eu comentei semana passada, também concordam que o cancelamento pode ser uma coisa boa. Estamos no auge da história da série. Tara está enfrentando o maior vilão de sua vida. É esperado que até o final da temporada, ela consiga vencer o alter Bryce e, se assim for, seus problemas terão acabado. Então quais seriam as chances de novas temporadas com tramas tão boas, arriscadas e chocantes? A única coisa que poderiam fazer era reinventar a série, dar um novo propósito, e isso poderia levar Tara a um fracasso tremendo, o mesmo que ficaria manchado na história da série. É triste? É. Mas ao mesmo tempo United States of Tara está indo embora em grande estilo, com uma evolução tremenda, e isso, por si só, é motivo suficiente para ficar orgulhoso e ser grato por ter sido capaz  de acompanhar essa produção. Agora…vamos ao episódio.

Bryce Will Play foi excelente. Facilmente um dos melhores episódios da série, com cenas bizarras que chegaram a assustar. Do ponto de vista médico, o que Tara está passando se chama alter abusivo. Como já havia sugerido, Bryce é o alter que a própria doença de Tara criou como um mecanismo de defesa, baseando-se no que a levou a desenvolver TDI. Lutar com ele será complicado. Toni Collette fez em Bryce Will Play, um de seus melhores trabalhos como um adolescente de 14 anos, mentalmente perturbado com distúrbio sexual. Para vencê-lo Tara precisa de ajuda profissional, e agora irá para Boston atrás de um médico que realmente pode ajudar. Será? Será mesmo que Bryce irá deixar? Quando Collette “veste” Bryce, fica irreconhecível…o novo alter vomita os remédios que Tara tenta tomar para domar as personalidades; não se preocupa com a segurança de ninguém; tentou matar Dr. Hattaras e sumiu com três personalidades!! Se não bastasse darmos adeus a Chicken, Bryce matou Shoshana e Gimme. É tudo simbólico, afinal elas também são personalidades, mas para a doença de Tara, esses três alters deixaram de existir. Ficamos agora com os três que acompanhamos desde o começo, e confesso que se precisar assistir a morte de Alice, Buck e T, será realmente doloroso. Para matar Chicken, Bryce foi simples e destruiu um bicho de pelúcia, algo que lembrasse a infância de Tara, já que o alter era baseado nela aos cinco anos de idade. Mas para matar os outros dois, ele foi mais longe.

Obviamente quando falo isso é sobre a força das cenas. Foram momentos em que os roteiristas e os atores envolvidos deram o melhor de si e fugiram de qualquer senso comum. Qual é, em que outra série você assiste Toni Collette como um psicopata de 14 anos com uma abóbora na cabeça esfaqueando uma capa de chuva presa em uma mesa de tênis, para logo depois acompanhar a mesma “fazendo sexo” com a abóbora? A morte de Shoshana não foi tão chocante. Bryce acabou com ela ao queimar o livro que fez Tara criar o alter. Mas a morte de Gimme foi realmente assustadora. Bryce não é um bully, alguém fácil de entender e então poder enfrentar. Ele é um assassino…não só de personalidades. Tentou tirar a vida do Dr. Hattaras para provar que não está de brincadeira e que vai acabar com quem estiver pela frente, até que sobre ele e Tara, e então…só assistindo. Afinal, não dá para entender se Bryce tem conhecimento de que matando Tara, ele também deixará de existir, e quando questionado sobre isso, ficou agressivo, mas Tara conseguiu tomar o controle antes dele fazer qualquer coisa.

O triste disso tudo foi acompanhar a perfeita atuação de Eddie Izzard e a tristeza de Jack Hattaras. Ele tomou Tara como objeto de estudo, mas com o passar do tempo, ao perceber que a coisa era perigosa, ele começou a se preocupar genuinamente com a aluna. A relação dos dois nesse episódio foi fantástica. Ele ficou com ela até Tara dormir; correu atrás de Bryce quando precisou, e pediu ajuda a seu supervisor. Porém, Hattaras não tem o que é necessário para curar Tara, ou pelo menos ajudá-la nesse momento. Suas tentativas foram em vão, pois Bryce consegue ser mais esperto que ele. A despedida dos dois no final do episódio foi de cortar o coração. Ainda mais com o professor falando que agora acredita em TDI graças a Tara. Sem saber o que estava acontecendo, Charmaine e Kate ainda atrapalharam mais a situação, deixando Tara nervosa ao ficarem insistindo na história do affair entre ela e Hattaras. Porém, não consegui ficar bravo com Charmaine após assistir Bryce se insinuando para ela. Não é só com Tara que Bryce pode acabar, mas sim com Charmaine…e por que não, com a família toda.

Apesar de concordar com Marshall que a família pode se despedaçar com a doença de Tara e que tudo terá consequência, quem é ele para julgas as decisões do pai? O filme denegriu a imagem de Max e da família Gregson, como uma metáfora de que todos eles acabem tendo problemas pela vida que levam com a mãe. Mas Max escolheu isso tudo, e não se arrepende. Ele ama Tara, e vai cuidar da esposa em todos os momentos, até tudo ter terminado. Marshall, se não aguenta, que saia de casa, mas é o cúmulo ele questionar as decisões do pai. Disse amar a mãe, e não duvido que o faça, mas amar não significa ajudar? Não significa aceitar tudo de boca fechada, então por que não se reúnem, intervenham, coloquem a mãe em algum lugar que pode ajudá-la. Sei que Tara também não se esforça muito para isso (até porque, apesar de terem sido os remédios falando, Tara pelo menos pensa que Bryce pode ajudá-la a se livrar dos seus “amigos”), mas alguém precisa tomar o primeiro passo, ou todos vão cair juntos. No mais, as cenas dos dois em New York foram bem válidas, tando os momentos felizes (com a atuação cada vez melhor de John Corbett), assim como os momentos dramáticos.

O que sobrou do episódio não teve tanto impacto quanto a trama principal. Kate continua uma ótima personagem, e ri muito da reação dela quando um casal fica olhando assustado, como se ela fosse mãe de Monty. Charmaine e o clube do livro, que na verdade são bebidas alcoólicas, foi a parte mais sem graça do episódio. Ela não teve muito o que fazer nesses últimos dois e inventaram esse plot desinteressante. Mas com Bryce no comando, fazendo Charmaine relembrar dos medos da infância, aposto que darão momentos para Rosemarie DeWitt brilhar.

Infelizmente a série fará uma pausa, voltando com o episódio 3×10 no dia 6 de Junho. Felizmente, sei que o que vem pela frente recompensará qualquer cancelamento. Vida longa a United States of Tara, mesmo que seja rever, rever e rever.


Caio Mello

São Bento do Sul – SC

Série Favorita: Lost

Não assiste de jeito nenhum: Séries policiais

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