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Rubicon: A primeira temporada e sua reta final

Por: em 20 de outubro de 2010

Rubicon: A primeira temporada e sua reta final

Por: em

Rubicon Will Travers

Rubicon talvez tenha sido a série com maior curva de crescimento comigo. Eu me amarrei no piloto, gostei de todo o clima de conspiração, do ritmo lento, da Nova York bem característica da série, de tudo. Mas nas semanas seguintes eu passei a me decepcionar pra caramba porque, mesmo que eu goste de uma porrada de séries que desenvolvam suas histórias com calma, dentro da lentidão de Rubicon eu não enxergava muita coisa que me fizesse ter certeza de que valia a pena encarar tudo aquilo. Foi quando eu me atualizei em uns 3 episódios atrasados de uma vez só que o fogo da série se reacendeu pra mim. No 1×07, no 1×08 e no 1×09, a conspiração passou a me empolgar — e o principal: eu já tava acostumado o suficiente com os personagens pra me importar com eles e com o dia-a-dia do API. Do dia pra noite, Rubicon passou a ser uma das minhas séries favoritas dessa safra recente, e o que essa reta final fez pode ser nivelado acima de uma cacetada de séries exibidas atualmente.

O engraçado é que o que me decepcionou e o que voltou a me empolgar tem a ver com a mesma pessoa. Henry Bromell. Bromell assumiu o posto de showrunner da série logo após o piloto, quando Jason Horwitch, criador e idealizador da série pulou pra fora do barco. A ideia no primeiro episódio era básica: montar uma história de conspiração interessante de ser acompanhada. O foco era esse, a história. Mas Bromell discordava. Ele pegou a conspiração e deixou no plano de fundo, dando uma continuidade muito maior a vida dos personagens do que àquilo que acontecia em volta deles. E se por um lado, o dia-a-dia de um analista de inteligência não me parecia lá muito interessante no começo da temporada, a construção que foi feita a partir desse lado mais comum na vida de todos eles foi o que me deixou realmente investido na história quando a conspiração pegou fogo. Eu não ia me importar com ela se eu não tivesse esse envolvimento maior com Will, Miles, Tanya, Grant, Kale, e principalmente, com Truxton Spangler.

Truxton Spangler é o vilão moderno. Ele é o cara de terno e gravata que comanda tudo, e ao mesmo tempo parece que não comanda nada, porque esconde tão bem, é sempre tão cínico. E dentro do API, ele é respeitado, porque DE FATO é uma pessoa que sabe o que faz e que merece estar naquela posição. Logo no começo da série, ele leva Will a uma reunião de possíveis clientes e dá um discurso incrível sobre como é mais confiável trabalhar pra quem você não conhece do que o contrário. Se a gente para pra pensar, o argumento é meio que duvidoso até, mas a forma como Spangler o entrega é encantadora. Persuasivo e intimidador, ele consegue o que quer com pouquíssimas palavras. É assim com Grant, que cai na aba dele na maior facilidade do mundo em busca de uma posição melhor no trabalho. O colarinho branco de Truxton é a sua arma mais perigosa e se torna um dos melhores elementos de Rubicon não só pela sutileza com que os intuitos do personagem são revelados, mas também pela maneira espetacular que Michael Cristofer o interpreta.

Na verdade, todos os atores na série mandam bem pra caramba. Isso se mostra bem principalmente pelo fato de que muitas vezes eles não precisam (nem podem) falar nada. A forma como Will trabalha, por exemplo, é praticamente toda através do que se passa na cabeça dele. É tudo pensamento. Olhando coisas, analisando, sempre no silêncio. É por isso que geralmente a coisa fica mais empolgante quando ele demonstra paranoia, já que aí se torna bem mais fácil criar uma relação com o personagem. A gente se envolve com a vulnerabilidade dele. Foi assim que a Andy, sua vizinha, foi conquistada. O que eu mais gostava nela era o fato de não fazer parte do mundo que Will e os outros personagens vivem. Na temporada inteira, ela era a que menos sabia — até menos do que a gente. Acompanhar como alguém pode se envolver com Will mesmo com todo aquele mistério o envolvendo trouxe um elemento novo pra série e mostra os escopos diversos que Rubicon pode alcançar.

Rubicon Truxton Spangler

Mas aí veio a season finale e me jogou um balde de água fria na cabeça. Foi a única reviravolta que eu realmente não gostei. Tudo o que Andy representava não valeu de nada, porque trabalhando como vigia de Will e de Katherine, a série tá voltando a valorizar mais a conspiração do que os personagens. Não condiz com o que Henry Bromell fez quando pegou a série pra si. E não foi só isso que me fez fechar a cara durante o episódio. A season finale precisava fechar a trama principal da temporada e sugerir continuidades pra um eventual segundo ano, mas algumas coisas acabaram não funcionando tããão bem. A ausência de Kale Ingram foi uma delas. O personagem carregava um ar de mistério gigantesco no começo da série e acompanhar o gradual apoio às buscas de Will foi legal pra caramba. Mas acabou que o personagem ficou deslocado em You Never Can Win. Foi uma pena que não tenham pensado em uma importância pra ele logo no último episódio. Tematicamente, o certo sumiço faz sentido, porque como ele mesmo diz, tá na hora de recuar — a batalha foi perdida, não a guerra —, mas na prática, acabou ficando um gosto meio amargo.

É diferente de Katherine Rhumor, por exemplo, que além de não ter tido muita importância nessa season finale, foi inútil durante toda a temporada. Ela provavelmente foi enfiada no buraco que se formou quando a série trocou de showrunners. Ainda mais sendo uma atriz no nível de Miranda Richardson no papel; é impossível que a intenção inicial fosse essa que acabou sendo desenvolvida. Andando de um lado pra cá, ela nunca ganhou uma trama muito interessante, e até quando surgiu o mistério do DVD, o desfecho não foi tão empolgante porque o vídeo gravado no meio do filme não revelava nada que a gente não pudesse ou deduzir ou descobrir de formas mais legais. O melhor de Rhumor foi justamente a sua morte, que foi filmada de uma maneira que resume perfeitamente o que Rubicon é. Você pode olhar pra todos os lados e ter todo o cuidado do mundo, mas naquele universo de conspiração, é impossível prestar atenção em todos os detalhes ao mesmo tempo. O perigo pode surgir de qualquer canto.

Até mesmo de dentro de cada um. É assim com Tanya. A paranoia dela não é por causa da conspiração, porque tem gente a seguindo, ou nada do tipo. Ela é inquieta porque morre de medo do que aquele trabalho faz com sua vida. O seu vício em comprimidos, em bebida e em drogas é elevado à décima potência e acaba ficando impossível de ser controlado no meio de toda aquela tensão. Eu vou ficar triste pra caramba se a personagem sumir da série depois do seu pedido de demissão, mas a provável saída de Tanya faz total sentido. Afinal, até que ponto vale a pena trabalhar sob toda aquela pressão? Pra Miles, vale a pena porque é ali que ele foge de sua vida pessoal. Recém-divorciado, além de poder esquecer um pouco da infelicidade de casa se afundando em trabalho, é no próprio instituto que ele encontra um pouco de alegria com Julia. De um jeito ou de outro, porém, é sempre bom assistir ao seu jeitão desengonçado em tela. Provavelmente era ele o personagem que mais me divertia. No sentido tradicional da palavra.

No sentido bizarro, Rubicon me diverte mostrando a realidade cruel de que nada adianta ser feito. Quem manda vai continuar mandando, não importa o que eles façam. A forma como a organização de Spangler e cia. orquestrou o acidente no porto provocado por Kateb é genial porque direciona a culpa pra um alvo completamente alheio a eles. Will, Kale e mais sei lá quantos podem saber da verdade, mas não podem fazer nada pra mudá-la. O que acontece daí pra frente? Não faço ideia. E esse é o mais empolgante de Rubicon, porque por mais que você planeje e desvende qualquer conspiração, sempre vai ter alguém alguns passos a sua frente, e daí em diante, qualquer coisa pode acontecer. No final das contas, a maior pergunta que fica é: por que diverte tanto assistir a algo tão pessimista? A resposta até que é fácil.

Porque é muito, muito, muito bom. Simples assim.

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P.S.: Tá complicado descobrir se a AMC vai resolver dar uma segunda temporada pra série, mas eu espero absurdamente que sim. Rubicon cresceu muito em mim e vê-la sendo cancelada logo agora seria pior do que qualquer palavra rouca e cruel de Truxton Spangler.

P.S. 2: A finale deixou uma dúvida enome a respeito de Truxton. O trevo no terraço do prédio na última cena com o Will me deu muita impressão de que ele pensa em se matar, assim como o marido de Katherine. Mas mesmo que ele não esteja pensando em nada disso, os dias dele também tão contados por que a organização já não o suporta mais — e aliás, a cena da reunião foi perfeita com aquele ambiente completamente dark, ameaçador, meio absurdo, mas eficaz demais ao expressar o poder do grupo.

P.S. 3: Esqueci completamente de falar da Maggie no meio do texto, até porque ela seguiu um pouco da inutilidade da Katherine Rhumor. Mas ela parece ter ambição de crescer no API (dá pra perceber isso pelo envolvimento com o Kale e pelo episódio que mostra ela estudando línguas estrangeiras), então agora que a conspiração tá praticamente resolvida, as tramas dela numa segunda temporada talvez acabem ficando mais interessantes.


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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