Second Chance é um seriado que, constantemente, apresenta os personagens remoendo o passado. Esperado, visto sua temática. Já havia um tempo que esperava por algo relacionado aos pais dos irmãos Goodwin, e valeu a pena esperar. Apesar de poder retornar a vida, não há a opção efetiva de voltar no tempo. Enquanto Pritchard tem a chance de atenuar suas atitudes com a família, isso não pode ser dito em relação a Otto, que, com certeza, seria um indivíduo mais agradável se não fosse o acidente de seus pais, do qual ele se responsabiliza. E com isso vem a possibilidade de não terem seu presente nesse passado reconstituído. Porém, não há “se” na história.
Aparentemente, não é só Pritchard que rejuvenesceu. Descobrimos que Alexa recebeu a mesma dádiva, e que Connor não é apenas um bilionário com um interesse banal por trás, já que ele é o responsável pela jovem Alexa. No entanto, Alexa possui objetivos bem diferentes de Pritchard. No ritmo do “fins justificam os meios”, está disposta a trair a confiança de Mary para rejuvenescer seu marido. Não há como julgar motivações de uma 2ª vida. Por mais que esse “retorno” tire certo peso de toda uma primeira existência, ele não o elimina no todo. Não é um “eterno retorno” Nietzscheano, mas, no caso de Alexa, transforma a vida dela com o marido meio leve demais. Por mais que não se realizem os mesmos atos, a nova possibilidade termina por eliminar o diferencial de toda uma vida em casal. Esse é o diferencial de nosso Xerife. Talvez sua liberdade de escolha se realize justamente por não ter um desejo que crie sobre si uma responsabilidade por outros. E, sim, ele possui uma responsabilidade de corrigir suas falhas familiares do passado, mas isso está num grau completamente diferente. Por enquanto, não há como saber o que se sucederá com a leve responsabilidade de Pritchard.
Otto não tem nenhuma das duas oportunidades de responsabilidade. E, não há dúvidas, ele gostaria de ter. Agora que entendemos melhor seu pavor em ficar sozinho, não há como reclamar desse ponto do jovem. As responsabilidades de Alexa e Jimmy não chegam perto daquela que Otto criou para si. E quem não sabe o que é remoer seu próprio passado? Se culpabilizar por algo? No caso de jovem gênio, passa uma sensação de penúria em nós por ele. A bendita e maldita alteridade. De forma alguma há culpa da morte de seus pais, muito pelo contrário. Se a culpa é de alguém, é de seu pai. Mesmo assim, não é assim que funciona nosso subconsciente, ainda mais o de uma criança. E só quem cria para si uma culpa de tamanha magnitude consegue compreender tal trauma.
Talvez a pior sensação possível seja a que Otto sente. Criar algo como o retorno a vida, mas não poder reparar seus erros. Ver alheios terem uma segunda chance graças a seu intelecto, mas não receber o mesmo presente. E se, sim, a humanidade funciona dessa forma, deve ser ainda mais doloroso saber que conseguiu fugir a uma das regras elementares, mas ser pego em uma tão banal quanto a ideia de produzir para o futuro. Possibilitou sua imortalidade na história, mas não venceu o peso de sua própria existência. Afinal, os erros ainda o mantêm atrelado ao passado de uma maneira incorrigível.
E o que vocês acham sobre o peso da existência? Comentem!