Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Sex and the City 2 – Crítica por uma fã da série

Por: em 29 de maio de 2010

Sex and the City 2 – Crítica por uma fã da série

Por: em

Quando Sex and the City começou, nos indos de 1998, eu tinha dezesseis anos e nenhuma tv à cabo. Então só fui propriamente apresentada a Carrie, Miranda, Charlotte e Samantha em 2002, o que não poderia ter sido mais propício… Já que numa sociedade ainda assustadoramente machista como a nossa, é sempre bom, no início da nossa vida sexual, encontrar mulheres que nos sirvam de modelo, que nos digam que não há nada de errado em transar no primeiro encontro e ainda assim acreditar no amor.

Foi assim que a tão querida Carrie conheceu e se apaixonou por Big e até hoje, inacreditavelmente, centenas de mulheres são julgadas por fazerem coisas simples como essa. Sex and the City, a série, representa toda uma geração de mulheres, seja nos Estados Unidos ou no Brasil, mulheres que estudam, trabalham, se apaixonam, traem, são traídas, casam, se separam, e tornam a se apaixonar. E no meio disso tudo, quem sabe, ainda tem que lidar com o crescimento dos seus filhos, a inconstância dos próprios hormônios e, principalmente, o preconceito da sociedade frente a sua libertação sexual. Quem não se lembra dos olhares superiores que as amigas casadas de Carrie sempre lhe lançaram?

Sex and the City, a série, é um marco para as mulheres da minha geração. E me deixa imensamente triste que o mesmo não possa ser dito dos filmes. Torço pra que pouquíssimas pessoas conheçam as nossas garotas apenas por esses dois longas. Carrie, Miranda, Charlotte e Samantha são, e representam, muito mais do que tem sido mostrado nos filmes, e todos deveriam saber disso.

Para fãs como eu, claro, é sempre bom matar a saudade das garotas. Mas a verdade é que a marca Sex and the City, como referência que tem sido desde a sua estreia, tem se enfraquecido a cada filme que chega aos cinemas.

Sex and the City 2

Feito o desabafo, vamos a crítica desse segundo filme que, sinceramente, eu ainda não consegui me decidir se gostei ou não. Ao contrário de muitos fãs, gosto do primeiro que, embora não esteja à altura da série, pelo menos mantém muito do seu espírito. Espírito esse que, infelizmente, não consigo ver nesse segundo longa. Não posso, de forma alguma dizer que me arrependi de tê-lo visto, afinal é sempre bom matar a saudade das garotas, principalmente quando tudo é regado a uma boa dose de piadas. Mas vou ter que torcer pra que o boca-a-boca não derrube a bilheteria, e o filme lucre o suficiente para garantir a produção de um terceiro. Afinal, uma história como a de Sex and the City não pode terminar assim, tão mais ou menos.

E se você ainda não foi ao cinema, lhe peço, por favor, que pare por aqui e pule para o final desse texto. Não pouparei spoilers e garanto que ir ao cinema completamente no escuro trará algumas surpresas muito bem-vindas.

E, para falar de um filme tão atípico, indevido representante de uma série tão apaixonante, só há uma forma possível: dividindo-o em três partes.

1° Matando a saudade das garotas

É até engraçado que, de certa forma, os longas tenham criado sua própria abertura: New York ao som de Labels or Love. E como é bom voltar a ver a big apple aos olhos de Carrie! E aposto meu futuro primeiro par de Manolos que muito fã vai sentir um arrepio nostálgico ao ver um pedacinho do começo da amizade daquelas quatro quarentonas (ou cinquentonas?), quando ainda não passavam de desconjuntadas moças de vinte e poucos anos.

Todo o começo do filme é uma festa, e o casamento de Stanford e Anthony só vem para coroar esse clima. Como Carrie diz a Big, não é só um casamento gay, e sim a celebração do amor de duas pessoas que transformaram o ódio em amor, dois personagens que também conhecemos há anos, e que ficamos felizes em ver ganhando um destaque maior nessa sequência. E o casamento dos dois acabou sendo tudo o que o de Big e Carrie poderia ter sido, com um pouco mais de purpurina, é claro. O que dizer de Liza Minelli como celebrante daquele casório? Uma divertida surpresa, que acabou por gerar os cinco minutos mais divertidos de todo o filme. Depois de uma tirada inspiradíssima de Miranda (“É uma lei da física, quando há tanta energia gay reunida, Liza Minelli simplesmente se manifesta.”), somos premiados com uma performance já histórica da diva cantando o hit de 2009, Single Ladies (Beyonce). O áudio, claro, já está no Youtube.

O ponto alto do segundo filme é, sem sombra de dúvidas, a comédia. Não tenho riso fácil e me diverti em diversas cenas, principalmente nesse primeiro terço da história. Big e Miranda, sempre mais sarcásticos, são a cereja no bolo para humores negros como o meu, e Samantha, mesmo mais exagerada e estereotipada do que em qualquer episódio de toda a série, garante algumas risadas fáceis. Aqui vale uma observação: será que em todo filme, Michael Patrick King (diretor e roteirista) vai escolher uma das personagens para carregar nas tintas?  Se no primeiro vimos uma desnorteada Charlotte, que soltava gritinhos vergonhosos numa descaracterização completa da personagem; aqui é a vez de Samantha, que se tornou uma louca obcecada por hormônios.

Mas, se o objetivo dessa primeira parte é elogiar os pontos positivos, é necessário um elogio ao desenvolvimento de Charlotte e a atuação de Kristin Davis. A trama criada para a Sra. Goldenblat é extremamente fiel a personagem que aprendemos a amar nos seis anos da série. A maternidade, sempre seu maior sonho, finalmente chegou para Charlotte, e com ela veio a realidade, a dura realidade de ter um bebê chorando 24 horas por dia enquanto você tem que tomar conta de outra filha, também ainda criança. Não deve ser fácil pra ninguém, e com certeza não seria diferente com a nossa Charlotte, sempre tão comprometida com a família.

Mas o fio condutor da trama é sempre ela, Carrie (Sarah Jessica Parker), que infelizmente retorna para essa sequência aparantemente tão perdida quanto nos primeiros anos em que a conhecemos. Ela buscou o amor, o encontrou em Big, lutou por ele, e agora que o tem… Não tem certeza se aquilo era mesmo tudo o que ela imaginava ser. Um pouco descompensada? Talvez. Mas, verdade seja dita, Carrie nunca foi uma heróina típica, de caráter e moral inabaláveis. A Srta. Bradshaw sempre teve seus altos e baixos, muitas vezes mais baixos, e talvez seja justamente por isso que gostemos tanto dela. Falível, como nós, pobres mortais.

Um pouco insatisfeita com o casamento, Carrie tem aquela idéia dos “dois dias separados” que, é claro, não poderia dar certo. Tenho certeza que, ao ouvir isso no cinema, eu não devo ter sido a única a pensar “Ah, Carrie, se Big lhe pedisse isso você surtava!”. Dito e feito, o indefectível Mr.Big (Chris Noth) mais uma vez não nos deixou na mão, e dez minutos depois vimos a mesma proposta sair da boca dele, e Carrie, é claro, surtou. Faz algum sentido? Não, mas Carrie nunca fez mesmo muito sentido.

2° Torcendo por (ou contra) Aidan

Afinal, se houvesse algum sentido naquela mente louca, nunca teríamos nos separado de Aidan (John Corbett). Quem, em sã consciência, deixa um homem daqueles passar? Na vida real, os Bigs não se casam, e é com homens como Aindan que construímos nossas vidas. Mas, claro, Sex and the City, não é um parâmetro fiel da realidade, e na segunda e terceira temporada da série vimos Carrie não só traí-lo, como também pedir seu perdão para em seguida largá-lo novamente depois de uma tentativa frustrada de engatar um noivado.

Entre os fãs da série, sempre houve aqueles que torciam contra ou a favor de Aidan, mas tenho certeza que a grande maioria ficou feliz em revê-lo. Você pode até não achá-lo o par ideal para a transloucada Carrie, mas há de concordar que é um personagem importante na história e que merecia um retorno. E que retorno! O reaparecimento de Aidan foi tratado, nos trailers, como o grande evento desse segundo filme. O problema é que não dá pra construir um grande evento, definidor do clímax de toda a narrativa, em apenas duas ou três cenas tão breves.

E quem conhece a história de Carrie e Big sabe, se ele surtasse e criasse uma briga monstra a partir desse único beijo, então teria enlouquecido. O amor dos dois é muito maior e muito mais complicado do que um simples beijo trocado num momento de fraqueza com um ex-namorado. Eu perdoaria uma traição dessas? Jamais. Mas eu não me chamo Carrie, nem John, e a história dos dois é muito mais complexa do que um simples momento de fraqueza no Oriente Médio.

Muito mais interessante que o momento-flashback de Aidan e Carrie foi a sincera conversa sobre maternidade entre Miranda (a sempre inspirada Cynthia Nixon) e Charlotte. Sinto que esse segundo filme não tenha dado o destaque merecido a Miranda e Steve (David Eingenberg), mas talvez os dois já tenham sofrido em demasiado no primeiro longa. Agora é a vez dela consolar a amiga, que jamais se imaginaria tão perdida ao cuidar de suas duas filhas. Foi um dos poucos momentos em que pôde-se ver, claramente, aquelas duas personagens sendo fiéis a tudo que passaram desde 1998 até aqui.

3° Morrendo de vergonha em Abu Dhabi

É a partir do momento que Carrie retorna ao hotel e interrompe a conversa de Miranda e Charlotte, com a notícia da sua escapulida, que o filme vai ladeira abaixo. Nunca morri de amores por Samantha (Kim Cattrall), mas me recuso a acreditar que uma mulher de negócios importante como ela se comportaria daquela forma sendo convidada por um sheik a estar em seu país. É rude, grosseiro e até mesmo estúpido. Liberdade sexual, sempre, mas sem deixar de lado o respeito pela cultura e pelos costumes alheios. Principalmente estando num CEP que não é o seu.

Quase torci pra que Samantha fosse mesmo pra prisão, e quem sabe lá não se juntasse as prisioneiras para cantarolar algum hit da Madonna? Quem assistiu Bridget Jones – No Limite da Razão deve lembrar do que estou falando, e essa com certeza não é uma boa comparação.

É até difícil escolher qual seria o pior momento do filme. Samantha sendo humilhada em pleno mercado de Abu Dhabi, ajoelhada recolhendo seus pertences e suas variadas camisinhas, ou as quatro indo parar num clube do livro regado à burcas e Prada? Não foram só Carrie, Miranda e Charlotte que morreram de vergonha em Abu Dhabi por Samantha, nós tivemos que enfrentar pelo menos 10 minutos de profunda vergonha pelas quatro e sua falta de noção de realidade.

Com certeza melhor teria sido pra todos nós se elas nunca tivessem deixado New York. E se era pra criar um personagem simpático, porém superficial e idêntico a outro do primeiro filme, porque ao invés de inventarem o mordomo Guarau, simplesmente não trouxeram de volta Louise, da Louisiana?

______________________________________

Saldo final? Um filme nostálgico e engraçado na sua primeira hora e pouco inspirado em todo o resto… E olha que são quase duas horas e meia de projeção! Faltou coragem para arriscar e criar um roteiro que efetivamente fizesse alguma diferença na vida dessas mulheres. Muitos fãs ficariam irados? Com certeza. Mas provavelmente não deixariam o cinema com a sensação de vazio que fica ao ver personagens tão queridas passeando pela tela por tanto tempo sem nada de significante lhes acontecer.

É sempre bom voltar a acompanhar a vida de Carrie e cia., mas se elas realmente quiserem ser levadas a sério também no cinema, vão ter que demonstrar um pouco mais de maturidade.

E não deixe de conferir o nosso especial sobre a série: Sex and the City – Das Telinhas para as Telonas.


Cristal Bittencourt

Soteropolitana, blogueira, social media, advogada, apaixonada por séries, cinéfila, geek, nerd e feminista com muito orgulho. Fundadora do Apaixonados por Séries.

Salvador / BA

Série Favorita: Anos Incríveis

Não assiste de jeito nenhum: Procedurais

×