Quando tudo que você acreditava como certo mostra-se errado, o que você faz? Desmorona.
E é isso que Alec está fazendo. Depois de descobrir que os pais faziam parte do Ciclo de Valentine, o mais velho dos irmãos Lightwood assumiu uma postura fria, autoritária e bem distante do Alec que a gente conheceu e aprendeu a amar. Eu vi muitos comentários internet afora (e até discuti com amigos do blog) criticando as atitudes (muitas vezes, sim, erradas) de Alexander neste episódio, mas não: Esse não é um texto criticando Alec, pelo contrário. Vou agora fazer as vezes de advogado de defesa. Peço pra todos aqueles que se colocaram contra Alexander neste episódio acompanhem meu raciocínio.
Você cresceu pressionado por seus pais. Precisa ser o melhor, precisa cuidar do nome da família, precisa ser responsável, precisa ser perfeito. Aí, do nada, você se descobre gay. E pior: Apaixonado por seu melhor amigo, seu parabatai, a pessoa a quem você jurou estar sempre do lado, até o fim da vida. E então você constrói uma armadura, assume o papel de irmão mais velho e segue a vida. Até que chega uma garota que coloca tudo que você vem lutando para manter em cheque. Uma garota que faz seu melhor amigo deixá-lo de lado. Uma garota que, de repente, começa a fazer todos quebrarem 256 regras que você cresceu aprendendo que não poderiam ser quebradas. E, pra completar o pacote, descobre que seus pais mentiram pra você a vida toda e que aquele nome que você devia manter, eles que sujaram. Qualquer ser humano normal entraria em curto com tanto peso nos ombros. E foi isso que aconteceu com Alec e que deu origem ao que o twitter carinhosamente chamou de Angry Alec. É claro que marcar casamento com Lydia, se colocar ao lado dela e agir como um membro da Clave são coisas que, sim, nos irritam. Mas, no fundo, eu entendo o que Alec está passado e acho que ele tem todos os motivos e direitos de se comportar assim. É ruim, é chato e ele vai se arrepender amargamente, mas é humano. E, como eu já disse, Alec é o personagem mais humano da série.
E é muito ruim acompanhar essa espiral de autodepreciação na qual ele entrou, afastando todos os que ama. A conversa com Magnus informando do casamento é dolorosa (e Magnus reagiu da forma mais Magnus possível: Soltando uma piada e fingindo que estava bem, quando na verdade, não estava), mas é seu confronto com Jace que mais machuca. Não só por terem partido pro lado físico da coisa, mas pela decepção estampada nos olhos do loiro ao ouvir a negativa de Alec em ir com ele. Se dá pra tirar algo de bom disso tudo, é que o confronto deixou claro que Jace sabe dos sentimentos que Alec nutre por ele e não dá a mínima. Pelo contrário. Como ele mesmo colocou, ele quer Alec ao seu lado pelo resto da vida. Resta a nós torcer para que Alec perceba logo que está entrando em um caminho sem volta.
Mas Alec não é o único a desmoronar. Transformado em vampiro, Simon também vê seu mundo virar de cabeça pra baixo e precisa lidar com todos os “detalhes” que sua nova vida traz. Mais uma vez – e já se torna repetitivo dizer -, Alberto Rosende deu um show e construiu sua atuação baseada em detalhes, como um olhar aterrorizado, um jeito de falar mais frágil… Nuances que mostram que a mudança, ao invés de fortalecê-lo, como pode parecer a olhos externos, apenas o quebrou. Vai demorar muito para que Simon consiga se acostumar a esse novo mundo, e acostumar todos ao seu redor (já tô imaginando qual desculpa ele vai dar a mãe para a mudança de casa), mas ele vai conseguir. Com a ajuda de Clary e, principalmente, de Raphael Santiago.
O chefe do clã dos vampiros até pode ter tido suas intenções egoístas ao levar Simon até Clary e Jace (afinal, nem adianta negar que seu interesse era provar que Camille quebrou os Acordos e destituí-la do poder que detinha), mas de uma maneira distorcida, ele parece se importar com Simon o suficiente para não deixá-lo desamparado nessa hora tão difícil. Pode sair algo bom dessa amizade forçada entre os dois – talvez até melhor do que a relação que eles tem nos livros.
E, nesse contexto, a aliança de última hora encabeçada por Clary entre as raças do submundo parece um plot promissor a longo prazo. Lydia e Alec foram exagerados no plano de levar Meliorn até a Cidade dos Ossos, mas Clary, Jace e Isabelle não foram nada cuidadosos ao resgatar o Seelie do seu destino, com a ajuda dos vampiros e dos lobisomens. Vai ser interessante ver como a Clave vai reagir não apenas ao fato de 3 caçadores de sombra jovens terem interferido em ordens de um superior, mas também na ousadia de Clary em propor uma trégua entre as diversas partes do submundo. Com a guerra contra Valentine vindo, isso com certeza pode fazer toda a diferença.
Outras observações:
– Uma das partes mais tocantes do episódio, pra mim, foi quando o Simon aceitou se juntar ao bando do Raphael para que ele aceitasse o acordo. Ele falando que precisa proteger o submundo porque agora “é o meu mundo também” foi bem bonito.
– O mesmo se pode dizer da conversa dos dois no Hotel, onde Clarissa confessa que pode ter escolhido transformá-lo por algum impulso em egoísta em mantê-lo na sua nova vida.
– Episódio que vem tem Corte Seelie! Galera que leu os livros, acho que vocês estão tão empolgados quanto eu.
– Eu nem quero ver a treta que vai dar nessa história do Magnus ter ajudado a roubar a estela do Alec. E o bruxo, mesmo sem namorar ainda o caçador de sombras, já virou uma espécie de faz-tudo do Instituto, né? Deu errado? Chama Magnus!
– Simon ficou estupidamente mais hot de vampiro. Isso me faz pensar como Alec ficaria transformado.
Fique com a promo de This World Inverted, o 10º (sim, já!) episódio, que vai ao ar semana que vem. Quarta-feira, na Netflix! 🙂
