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Shadowhunters – 2×04 Day of Wrath

Por: em 27 de janeiro de 2017

Shadowhunters – 2×04 Day of Wrath

Por: em

“Seu pai pegou o pássaro, agora manso e de confiança, nas mãos e quebrou o seu pescoço. ‘Eu lhe disse para torná-lo obediente. […] Ao invés disso, você o ensinou a amá-lo. […] Este pássaro não foi domado; ele foi arruinado.’ Mais tarde, quanto o pai o deixou, o garoto chorou em cima do seu animal, até que eventualmente seu pai enviou um empregado para pegar o corpo da ave e enterrá-la. O menino nunca mais chorou, e nunca se esqueceu o que aprendeu: que amar é destruir e ser amado é ser destruído.”  — Cidade dos Ossos, Cassandra Clare

O trecho acima é provavelmente um dos mais marcantes de Cidades dos Ossos, primeiro livro da saga que serve de inspiração para a série. Além do impacto que as palavras trazem, há algo ali que diz muito sobre Jace Wayland, sua personalidade, sua forma de encarar o mundo e especialmente a relação que mantinha com o pai. A história do falcão, arruinado pelo amor, é determinante para a construção do personagem, sendo assim, fiquei extremamente empolgada ao ver alguma referência a ela. Você, no entanto, pode estar se questionando o motivo de eu ter resolvido iniciar esse texto fazendo menção a algo que teve um espaço tão pequeno, podendo ser visto por alguns apenas como um ótimo easter egg. Na minha concepção, entretanto, essa referência fala muito sobre o que vimos em Day of Wrath e evidência uma das principais questões do episódio.

No instante em que o falcão foi mencionado, o trecho em destaque me veio imediatamente a mente e o “amar é destruir, e ser amado é ser destruído” ficou martelando em minha cabeça até o fim do episódio. Fato que me fez perceber que, de certa forma, era justamente isso que estávamos vendo em tela. Se em Parabatai Lost, Shadowhunters fez  uma verdadeira exaltação ao amor e aos laços afetivos que regulam nossas vidas, essa semana a série se voltou para a capacidade – ainda que não intencional – dessas relações causarem danos.

Jace é provavelmente o maior exemplo disso. Seus sentimentos nada fraternais por Clary o atormentam e assombram seu piores pesadelos. Ainda assim, independente do quanto tente lutar contra, eles permanecem fortes, o obrigando a se afastar de uma das poucas pessoas com quem conseguiu abaixar a guarda e se permitiu amar. Além disso, a relação com o pai é outro ponto vulnerável e extremamente confuso para o rapaz. Há a lembrança do homem que o criou, contrastando com a figura vilanesca que ele atualmente representa. Há a convicção de que os métodos utilizados por Valentine são errados, mas a certeza de que a Clave é ineficaz e está longe da perfeição. Em meio a tudo isso, há ainda uma mãe, que ele não conheceu, que tentou matá-lo e a noção de que o pai – algo que volto a frisar por ser uma figura central para o garoto – fez experimentos com ele e o transformou em algo potencialmente demoníaco.

Em resumo, as relações afetivas de Jace, com exceção de Alec e Isabelle, estão em frangalhos e ele vive um momento marcado pelos conflitos internos. Amar – ou ter amado em algum ponto – o pai e amar Clary são coisas que destroem, aquele que adora passar a imagem de indestrutível, por dentro. Isso, no entanto, tem sido extremamente positivo para o personagem, que finalmente mostra alguma complexidade. Nesse ponto, já bato palmas para Day of Wrath por conseguir contrastar a teimosia e orgulho de Jace, que se recusa a dobrar mesmo preso na Cidade dos Ossos,  com seu lado mais frágil e vulnerável, me lembrando porque amo tanto esse personagem nos livros e me fazendo começar a simpatizar com sua versão na série.

Outro que teve que lidar com sentimentos controversos o corroendo foi Magnus Bane. Embora saiba que Camille está longe de ser santa – muito pelo contrário –, o Alto Feiticeiro do Brooklyn ainda nutre sentimentos (não necessariamente românticos) por ela, algo que tornou extremamente difícil a missão de entregá-la para Clave. Independente de qualquer coisa, os dois se amaram e foram companheiros ao longo dos séculos. Esquecer tudo isso e negar a importância que a vampira teve em sua vida é impossível. Sendo assim, a cena em que os dois se confrontam poderia – na verdade, deveria – ter tido um grande apelo dramático, mas infelizmente as atuações, especialmente de Kaitlyn Leeb, fizeram boa do peso se perder.

De qualquer forma, é importante comentar como fica cada vez mais evidente a fragilidade e a busca por conexão do feiticeiro. Na semana passada, Simon começava a se dar conta do que a imortalidade poderia significar, em Day of Wrath, Magnus falou abertamente sobre como a vida eterna pode ser solitária e vazia. Isso é certamente o que o faz se apegar a outras criaturas do Submundo, como Raphael e agora Simon, e provavelmente tornava o dilema de entregar ou não a antiga amada maior. Tendo isso em mente, fica impossível não pensar em Alec e torcer ainda mais para que os dois se acertem de uma vez.


Por fim, e deixando a polêmica para o final, temos Clary. A menina também sofre por Jace, especialmente pela distância que ele tenta desesperadamente impor entre eles, no entanto, é sua relação com a mãe que recebe destaque aqui. Nos primeiros três episódios vimos como o relacionamento entre as duas andava estremecido. Anos de mentiras, somados a formas distintas de encarar a vida e as mesmas situações, acabaram causando vários conflitos entre elas. Nesse capítulo, entretanto, havia uma promessa de conciliação e recomeço, algo que foi completamente subvertido, após um demônio se infiltrar no Instituto e acabar causando a morte de Jocelyn. Fechamos o episódio, então, em um cenário no qual Clary é mais uma pessoa retorcida e destruída pelo amor, nesse caso, por perder outra pessoa que ama. Mais do que isso, por perder a pessoa que amava acima de todas as outras.

Dito isso, não é segredo pra ninguém que eu detesto Jocelyn Fairchild e estou desejando seu desaparecimento desde o instante em que ela abriu os olhos. Ainda assim, sua morte me deixou bem incomodada. Bem ou mal, a mulher tinha – ou pelo menos deveria ter – um papel dentro da trama, porém, desde o princípio, isso foi completamente ignorado. Toda existência da personagem se resumiu a fazer com que Clary se movesse. Foi o fato de estar adormecida que fez com que a filha descobrisse todo um novo universo e entrasse em uma aventura, e sua morte agora promete dar motivação a garota para continuar seu treinamento, se vingar ou qualquer outra coisa.

O completo desperdício de uma personagem, que poderia ter acrescentando questões interessantes a trama, se houvesse sido minimamente desenvolvida, me irrita bastante. De toda forma, não tenho muitos outros problemas com Day of Wrath. De um modo geral, esse foi um bom episódio e conseguiu trabalhar bem a tensão, encerrar alguns plots e dar início a outros. A morte de Jocelyn e o retorno de Jace ao Instituto, após provar definitivamente sua lealdade à Clave, devem movimentar as coisas nas próximas semanas e estou começando a acreditar que a série conseguirá se manter estável. Espero apenas não estar me precipitando!

Observações:

— No geral, Shadowhunters está melhorando, mas às vezes ainda acho que estou assistindo a Power Rangers durante algumas cenas de luta;

— Simon segue furando com a mãe. Vamos ver no que isso vai dar;

— Falando em mães, Izzy comentou sobre como a mãe nem se esforça para resolver os problemas com os filhos e fiquei morrendo de pena. Os Lightwood precisam urgentemente de uma terapia em família;

— Alec e Maguns marcando um encontro e eu morrendo amores! Quero mais Malec nessa série

— “Ninguém em Idris vai te ensinar a lutar usando um salto 15” Izzy rainha! Embora eu ainda ache que um salto 15 é dispensável na hora de uma luta;

— Achei a cena do julgamento do Jace meio pombo. Sei lá, esperava algo mais solene e impactante, mas vida que segue;

— Valentine já tem dois dos três Instrumentos Mortais: o cálice e a espada. Isso vai dar ruim!

— Luke vai ficar devastado quando descobrir sobre a morte da Jocelyn;

— Hodge voltou apenas pra morrer. Mais um personagem interessante que foi reduzido a nada pela série;

— R.I.P. Jocelyn;

— R.I.P Hodge.


Thais Medeiros

Uma fangirl desastrada, melodramática e indecisa, tentando (sem muito sucesso) sobreviver ao mundo dos adultos. Louca dos signos e das fanfics e convicta de que a Lufa-Lufa é a melhor casa de Hogwarts. Se pudesse viveria de açaí e pão de queijo.

Paracatu/ MG

Série Favorita: My Mad Fat Diary

Não assiste de jeito nenhum: Revenge

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