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Sherlock – 4×02 The Lying Detective

Por: em 15 de janeiro de 2017

Sherlock – 4×02 The Lying Detective

Por: em

“Qual a pior coisa que você pode fazer para o seu melhor amigo?”, pergunta Culverton Smith, vilão de The Lying Detective, em uma reunião macabra com seus amigos, parceiros e filha. A questão nunca é respondida por nenhum outro personagem de Sherlock, mas se ela fosse proposta no início do episódio a John Watson, provavelmente, ouviríamos algo próximo a “matar a mulher da minha vida”.

Para Culverton Smith, que é interpretado pelo brilhante Toby Jones como se ele pertencesse ao universo da série há uns sete anos, a pior coisa que você pode fazer para um amigo é confessar seu segredo mais sombrio. Porque se você contar e eles decidirem que não querem saber, você não pode voltar atrás ou desdizer o que já foi compartilhado. Por isso, Smith, que tem um segredo sombrio e precisa confessá-lo, toma medidas para garantir que ninguém daquela reunião lembre do que foi dito. Ele injeta um remédio chamado TD12 que corrompe a sua memória. “Ignorância é uma benção”, afirma Faith, filha de Culverton, com hesito e medo. Ela não quer participar da reunião do pai e, muito menos, ouvir o segredo que ele quer compartilhar para tê-lo arrancado de sua cabeça em instantes.

Mas Culverton Smith não é o único que está guardando segregos em The Lying Detective. Watson, por exemplo, tenta esconder que ainda conversa com Mary. Não com a verdadeira Mary, é claro. Mas com um fragmento da sua imaginação que é muito consciente da sua não existência e, mais importante, entende porque ainda está presente na vida de John. Com a presença da Mary imaginária, a série dá toques de humor e leveza ao luto enquanto mantém o caráter melancólico que o tema exige. Assim como a esposa real, a que é apenas uma alucinação do médico é engraçada, inteligente, sensível e, como é uma parte da mente de Watson, sabe o que ele precisa fazer e dizer em momentos importantes. John descobre, antes de qualquer um, que os irmãos Holmes têm um irmão – calma, farei a correção devidamente necessária nos próximos parágrafos – secreto, deduz o aniversário de Sherlock e exige que ele use o maldito chapéu.

Se a Mary imaginária dá as dicas que John precisa para agir e consegue fazer a narrativa fluir, a Mary real deixa uma herança capaz de criar o conflito perfeito para unir os parceiros novamente. Em The Six Thatchersassistimos um trecho do vídeo que a Sra. Watson deixa a Sherlock e pede para ele salvar John. Porém, a série guardou para esse segundo episódio como ela queria que o amigo resolvesse esse “caso”. “John Watson nunca aceita ajuda, de ninguém, nunca, mas ele nunca a recusa. Então, aqui o que você vai fazer: vá ao inferno, Sherlock“, ela diz. Logo, Sherlock decide que deve ir ao inferno, mesmo com poucas garantias que ele conseguiria voltar a tempo.

O plano não é nada simples. O detetive descobre que Smith é um assassino em série quando Faith – calma, também farei a correção devidamente necessária no próximo parágrafo – vai até Baker Street e pede para ele desvendar quem o pai planejava matar há três anos quando ela participou de uma de suas sessões com TD12. Então, para gravar uma confissão do assassino, Sherlock tem que chamar atenção do milionário, deixar sua vida em risco e torcer para John salvá-lo no último segundo.

Não é uma missão impossível para o grande Sherlock Holmes, no entanto devo mencionar que Sherlock não está nos seus melhores dias. Ele está tão mal que a Sra. Hudson o coloca no porta-malas do seu carro e o arrasta para encontrar John. Tão mal, que quando Molly o examina, ela conclui que ele poderia morrer em algumas semanas se ele continuasse com seus hábitos. Tão mal, que depois que a filha de Culverton Smith afirma que nunca o viu na vida, ele assume que a mulher com quem ele comeu batatas fritas foi uma projeção de sua imaginação e não consegue perceber que aquela mulher – que se revela a John como Eurus, a irmã Holmes malígna – estava fingindo ser outra pessoa.

A série não deixa claro qual parte da interação entre Sherlock e Culverton é parte do plano do detetive e quando as coisas fogem do seu controle. E talvez essa seja a intenção: colocá-lo em uma posição vulnerável, questionar sua genialidade e deixá-lo mais “humano”. Essa tática me parece um pouco maniqueísta pois não deixa o protagonista simplesmente assumir seus próprios defeitos. Sherlock já abordou o uso de drogas de seu personagem título diversas vezes e de diferentes formas, mas essa seria a primeira vez que o veríamos perdendo controle da situação e é uma pena que a série não tenha seguido essa ideia até o final.

Sherlock não precisa estar a frente de tudo e todos sempre, afinal o elemento mais importante e sagrado para essa série continuar é manter o relacionamento entre Holmes e Watson e isso, a série consegue com sucesso. “Não é um pensamento agradável, John. Mas eu tenho um sentimento terrível – ocasionalmente – que nós todos podemos ser apenas humanos”, afirma o detetive. Segundos antes, Sherlock e John compartilharam um longo abraço. E minutos antes, ao conversar com sua falecida esposa, John confessou que a traiu trocando mensagens com E., a moça que ele conheceu no ônibus e que – pasmem! – também é Eurus, a irmã Holmes malígna.

Mas a maior qualidade de The Lying Detective não está em resgatar a relação de Holmes e Watson. O episódio consegue entregar vários momentos prazerosos com personagens secundários – Mrs. Hudson e seu impressionante carro e Mycroft ganhando um surpreendente interesse amoroso, por exemplo – com um roteiro consistente e uma edição sublime. The Lying Detective também resgata o clima aventuresco deixado de lado no último episódio e nos prepara para a season finale (ou uma series finale) com um ótimo gancho.

Outros comentários:

– The Lying Detective é inspirado em The Adventure of the Dying Detective (traduzido para: O Detetive Agonizante).

“O Grande Irmão está te observando.” Além de referências a obra de George Orwell, antecipa o conhecimento da irmã – que até então era apenas Faith – na vida de Sherlock.

– Será que veremos Irene Adler em algum outro momento?

– Eu acho que secretamente Mark Gatiss e Steven Moffat gostam de torturar Watson. Nem crédito pelo próprio blog que ele escreve, ele consegue.


Nathani Mota

Jornalista, nerd e feminista. Melhor amiga da Mindy Kaling, mesmo que ela não saiba disso.

Salto / São Paulo

Série Favorita: Sherlock

Não assiste de jeito nenhum: Two and Half Men

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