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Show Me a Hero

Por: em 19 de agosto de 2015

Show Me a Hero

Por: em


Baseado no livro homônimo de Lisa Belkin, Show Me a Hero se passa na Yonkers da década de 80, uma das maiores cidades do Estado de Nova Iorque. Dirigida por Paul Haggs (Crash – No Limite) e David Simon (The Wire e Treme), a nova minissérie, exibida pela HBO em três episódios duplos, tem Nina Knoble (The Wire e Treme), Gail Muttix (Donnie Brasco) e Willian F. Zorzi (The Wire) como produtores executivos e é centrada na vida política local e as consequências para a sociedade da aplicação dos direitos civis.

Mais que uma série sobre política, Show me a Hero utiliza o impacto da construção de casas populares – após aprovação da corte federal – em uma área predominantemente branca, para tratar assuntos como a segregação racial e a violência, existentes na Yonkers oitentista. Já nos primeiros minutos do episódio duplo (E01 e 02) somos apresentados a uma cidade dividida. De um lado a maioria branca em suas varandas, cercas pintadas, gramados aparados e bandeiras a meio mastro. De outro, a maioria negra e latina, vivendo em casas em péssimas condições de conservação, apartamentos tomados pela pichação e o tráfico de drogas praticado ao ar livre.

A primeira parte do episódio nos apresenta o dia a dia da City Hall e de seus atuais representantes, no ano de 1987. O jovem policial e vereador Nick Wasicsko (Oscar IsaacStar Wars: Episódio VIII e X-Men: Apocalipse), Angelo R. Martinelli (Jim Belushi – According to Jim) atual Prefeito de Yonkers, Vinni Restiano (Winona Ryder), o oposicionista Henry J. Spallone (Alfred Molina – Law & Order: Los Angeles), Nicholas Long (Jim Bracchitta – Law & Order). Começamos a entender o quanto a decisão federal que obriga a construção de casas populares na cidade de Yonkers pode ter impactado negativamente a imagem do legislativo gerando um certo desgate junto à população, o que levou o partido a convidar Nick para concorrer à cadeira de prefeito – tendo como principal oponente Martinelli, candidato a reeleição para seu sétimo mandato – visando à oportunidade de renovar o debate político, tirando o foco das discussões em plenário sobre a construção do polêmico conjunto habitacional.

Além das disputas políticas e das sessões da Câmara, somos apresentados nesta primeira parte a outros importantes personagens dignos de nota. Mrs. Norma O’Neal (LaTanya Richardson Jackson – Blue Bloods), uma cuidadora de idosos, de 47 anos, moradora de um conjunto habitacional e que começa a apresentar problemas de saúde, afetando sua visão. Michael H. Sussman (Jon Bernthal – Demolidor e The Walking Dead), advogado e representante da NAACP – (National Association for the Advancement of Colored People) ou Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, uma das mais antigas e mais influentes instituições a favor dos direitos civis de uma minoria (principalmente de negros) nos Estados Unidos. Mary Dorman (Catherine Keener – Seinfield), uma dona de casa de East Yonkers contrária à construção das casas populares, Ilfenesh Hadera (Alma Febles) uma mãe solteira de Porto Rico tentando criar os três filhos em East Yonkers, e Doreen Henderson (Natalie Paul – Smash), jovem criada em um conjunto habitacional, mas que hoje vive com os pais em uma área mais valorizada e terá sua vida afetada drasticamente após se envolver emocionalmente com um traficante local.

A falta de “maturidade política” de Nick – em seu primeiro mandato como vereador – é vista o tempo todo. Seja na criação do slogan de sua campanha, na primeira estratégia de promoção ou na pressão exercida por grande parte do staff administrativo da Câmara, apoiadores do atual prefeito. Culminando com a alcunha dada pelo seu opositor Spallone, de Mr. Pampers! Uma exceção à regra? Nay Noe (Carla Quevedo – O Segredo dos Seus Olhos), secretária de Martinelli e futura Mrs. Wasicsko.

Motivado em vencer a corrida eleitoral, Nick passa a buscar pelo apoio popular e vai, literalmente, às ruas para buscá-la. Porém, sua sorte só começa a mudar quando se declara publicamente a favor do pedido de recurso, que tenta impedir ou ao menos protelar a construção das moradias populares. Fator determinante para que Nick vencesse as eleições de 87, se tornando o mais jovem prefeito na história de Yonkers.

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Surpreso e empolgado, Nick, parece não ter ideia da dimensão do problema que acaba de assumir, afinal, pouco tempo após sua posse recebe o parecer do judiciário informando que o pedido de recurso – parte da base de sua campanha eleitoral – foi negado e que a construção das casas deve começar o quanto antes, sob pena de multa diária dobrada a cada dia.

Se a primeira parte do episódio duplo foi responsável pela apresentação dos personagens e ambientação da série, a segunda garante sem dúvida os melhores momentos até agora. Mostrando as consequências pós-eleição, já em 88. Somos apresentados a um Nick que busca ainda pelo “lado bom” de ser prefeito, envolto a uma crise ainda maior que a do mandato anterior, ou em tentar motivar sua ex-colega de plenário, Vinni Restiano, que sofre ao se ver vivendo uma vida ordinariamente comum, sem a agitação e excitação do ativismo político.

A sociedade civil aumentou o tom das manifestações e já requer apoio policial mais severo por parte do legislativo, para que a ordem seja mantida. Se antes a especulação imobiliária era a justificativa para se juntarem às manifestações, a aparição de um dos manifestantes com os dizeres KKK, não foi utilizada inocentemente. Riqueza esta que a série traz ao retratar a evolução dos conflitos e dos personagens ao longo do tempo, evitando leituras óbvias ou frames do tipo “xis meses depois”. O que dizer então quando uma das melhores cenas é construída sem o uso de diálogos? O silêncio ensurdecedor do outro lado da linha mostra pessoas reais, tentando assumir seus papéis, fazer o que tem que ser feito e por quê não, repensar seu próprio conceito de verdade.

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O que se pode esperar para os outros episódios? Um crescimento exponencial de Wasicsko, graças à atuação excepcional de Oscar Isaac. Além do desenvolvimento dos conflitos dos outros personagens caminhando para uma linha de convergência ao ponto de que todos estarão interligados, cada qual como representante de uma ponta da sociedade. Como é levantado em um momento da série, não se trata de construir, buscar mártires ou heróis, mas sim, o de ter coragem pra fazer o que tem que ser feito!

E aí, animaram em começar a assistir? Depois passem por aqui e me contem quais foram suas primeiras impressões! Eu com certeza estou ansioso pelo próximo domingo.


Marcel Sampar

Paulista que puxa o erre pra falar, PHD em Análise do Drama pelas novelas mexicanas reprisadas no SBT e designer de homens palito. Com sérios problemas em se definir por aqui - sim, esta já é minha terceira tentativa em menos de um mês - mas que um dia chega lá!

Rio Preto/SP

Série Favorita: Sex and the City

Não assiste de jeito nenhum: Teen Wolf

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