A segunda temporada de Masterchef Brasil acabou e deixará saudades. Em parte pela grande festa que acontecia semanalmente no twitter, onde o programa foi amplamente debatido e comentado. E principalmente porque todo reality show é uma surpresa. Algumas pessoas nos surpreenderam positivamente e outros nos decepcionaram. Vamos analisar a trajetória de alguns dos competidores?
Murilo e Carla foram dois participantes talentosos e com grande carisma que bem poderiam estar numa final do Masterchef. Tanto Carla quanto Murilo foram eliminados da mesma forma: tiveram uma boa idéia que acabou sendo mal executada. Na repescagem, Murilo ficou entre os melhores, mas não conseguiu voltar para o programa. É uma pena, pois a sensação que eles deixaram é que ainda tinham muito a oferecer. Com tantos competidores que saíram dos quais mal nos lembramos, estes dois conseguiram deixar sua marca no programa.
Aritana foi uma participante que logo no início da competição passava uma imagem forte, decidida (a abertura em que ela dividia um côco com um facão gigante se encaixou perfeitamente com sua personalidade!). Foi líder em uma das primeiras provas, perdeu e decidiu usar a vantagem a seu favor, mostrando que não estava ali para fazer amizades. Ela parecia uma grande jogadora e que chegaria longe no Masterchef. Entretanto, o grande diferencial do Masterchef em relação aos reality shows que são meramente sobre convivência é que no primeiro o talento é premiado. E infelizmente, embora a personalidade de Aritana seja impactante, faltou repertório culinário. A cada prova ela mostrava que não estava tão bem preparada quanto seus adversários, o que resultou em sua justa eliminação.
Raul é aquele cara que poderia ser seu amigo. Ele tem um sorriso fácil, que vez ou outra parece puro nervosismo. Chegou fazendo gracinha e levou uma bronca dos chefs: Cozinha é coisa séria. Entretanto, ele conseguiu chegar até a final passando despercebido nos radares. Não fosse a Jiang, que ofuscou a todos, suspeito que ele teria sido o participante mais popular da edição. Se ele é um ótimo cozinheiro, também demonstrou ser uma boa pessoa: mesmo disputando uma vaga nas semifinais, ele comemorou quando o Filé Wellington da Jiang ficou no ponto certo. A única manchinha na reputação dele foi o bromance com o Fernando, mas tudo bem, não chegou a atrapalhá-lo junto ao público.
Cristiano entrou no Masterchef com sua culinária baiana que deixou todo mundo com água na boca e a Paola Carosella emocionada. O problema é que ele se esqueceu que Masterchef é uma competição e bem, no fim, somente uma pessoa ganha. Óbvio que por ser considerado um dos mais fortes da competição, seus adversários ofereceriam dificuldades maiores para ele. Começou com o episódio em que a Iranete escolheu o ingrediente Tucupi, que ele nunca tinha usado antes. Pronto. Cristiano entrou em modo berserker. Azedou. Ficou rancoroso. A partir daí ele foi tragado pela paranóia da conspiração da falsiane, elegendo a cada episódio, alguém para odiar. Raul, Fernando, Izabel, não importa. Cristiano desceu vertiginosamente.
Jiang é uma “chinesa embaçada”, como disse o Raul! Se tem alguém que subiu até o topo, foi a Jiang. Ela já chegou mostrando que entendia muito de comida oriental e desde o início foi classificada por todos como uma das mais fortes competidoras. O que ninguém esperava é que ela ganharia o público e as redes sociais. Jiang se tornou a queridinha do Twitter, a rainha dos memes. Seja ensinando Tai Chi, derrubando ingredientes “para Deus”, ou tendo conversas hilárias com o chef Jacquin, Jiang ofuscou todo mundo. Devido a sua popularidade, mesmo saindo de cena como a terceira colocada, ela ganhou um contrato com a Band. Acho muito improvável que haja outro participante que reúna tanto carisma quanto Jiang nas próximas edições.
Fernando conseguiu unir um país todo. Contra ele. Apesar de ser um ótimo cozinheiro, desde o início ele se mostrou meio cabeça dura. O problema é que não parou por aí. Começamos a ver algo esquisito quando ele sugeriu que a Sabrina deveria servir os convidados porque era bonita. Fernando provavelmente não sabe, mas isso é machismo, é objetificação feminina. A Sabrina (e nenhuma cozinheira, chef ou garçonete) merecem ser tratada como um pedaço de carne para atrair clientes (e neste caso, votos). Depois, ele mostrou que como gerente de projetos ainda tem muito a aprender sobre liderança. Sua liderança é ultrapassada, da época em que assédio moral era sinônimo de boa gestão. E, para finalizar, desenvolveu o hábito de não ouvir a opinião de ninguém. Enfim, acabou levando algumas broncas muito necessárias dos Jurados e teve que dormir com a declaração do Jurado convidado que ninguém iria querer trabalhar com ele. Ser um Masterchef, afinal, também tem a ver com tratar as pessoas com educação e respeito.
Izabel teve uma trajetória cheia obstáculos, em uma subida bem íngreme, uma verdadeira escalada. Ainda na fase de seleção, quase foi reprovada. Não pela comida, mas pelo nervosismo. Acabou entrando no programa, mas a sua ansiedade foi sempre o seu pior inimigo. Ela chegou a ser eliminada fazendo uma receita com a qual era familiarizada, porque não conseguiu administrar suas emoções. Entretanto, retornou na repescagem, um pouco mais segura. Passou a se destacar positivamente, estando sempre entre os melhores. Num dos vídeos de entrevistas, ela disse que detesta se sentir rejeitada e deve ser por isso que ela cozinha, porque ela quer agradar. Achei muito corajoso da parte dela expor suas vulnerabilidades em rede nacional. Izabel expôs tudo o que ela tinha de melhor e pior. Por fim, Izabel ganhou (muito merecidamente) o Masterchef Brasil 2015.
Ana Paula Padrão é a apresentadora do Masterchef Brasil. Em primeiro lugar, em vários momentos faltou espontaneidade à Ana Paula. No episódio da eliminação da Sabrina, por exemplo, Ana Paula forçou a revelação da gravidez da moça de uma forma que deu até vergonha alheia, usando os piores clichês sobre gravidez (“você está mais sensível”) e agindo como se estivesse surpresa com as notícias. Mas nada se compara ao último episódio da temporada, onde a apresentadora tentou forjar uma tensão que não existia. Ana Paula aderiu à escola Brito Jr de apresentadores: onde a expectativa que poderia ter sido criada acabou se transformando em sensacionalismo e muito desconforto para o público.
Notas:
– Alguns participantes ficaram paradinhos durante toda a competição.
– O trio de jurados subiu, desceu, rodopiou e até deu uma sambadinha.
