A tensão está tomando conta dos nossos protagonistas em Suits. O julgamento de Mike se aproxima e cada vez mais aumenta o número de pessoas envolvidas profissional e emocionalmente com essa confusão que ele e Harvey “ingenuamente” armaram no episódio piloto.
A primeira questão de Self Defense, como bem diz o título, é o desentendimento entre Harvey e Mike sobre quem vai representá-lo no tribunal. O pupilo do sócio da Pearson-Specter-Litt acredita que nada poderá provar que ele é um advogado mais do que ele ser o seu próprio procurador no tribunal. A questão toda é que Harvey, do alto da sua habitual arrogância, não acredita que ele seja capaz de enfrentar a inexorável Anita Gibs.
Para resolver esse impasse eles lançam mão de um recurso que já nos entregou bons momentos em outros tempos. Um juri simulado na frente de todo o corpo social do ameaçado escritório (uma ótima oportunidade para ver rostos de outros advogados, não?). E com isso começa uma desconcertante medição de forças entre Mike Ross e Harvey Specter, que se arma de todo o seu talento de ser o mais inclemente e implacável quando no exercício da sua função.
Quem me surpreendeu em todo esse contexto foi Rachel. Eu havia cantado a pedra que de que ela poderia ser o elo mais sensível, mas quando Harvey foi com tudo para cima dela, ela foi resignada e conseguiu provocar o chefe até ele apelar e expor a sua efêmera recaída com Logan Sanders, constrangendo ela e Mike diante de todos. Em paralelo à tudo isso, Ross sai atrás de testemunhas que ele pudesse utilizar que corroborassem com a sua história. Vimos que, surpreendentemente, algumas pessoas que nunca tiveram muito destaque na história o ajudaram.
Apesar de tudo, Mike é um bom moço, com grande coração e fez muito por várias pessoas desde que conseguiu de maneira torta praticar a advocacia – então não me espanta que pessoas como Harold e Benjamin não titubiam em prestar assistência à ele. Afinal, querendo ou não, ele é diferente de todos que já passaram pela Pearson-Specter-Litt. Eu fiquei com um pouco de pena de Harold, mas de fato ele não aguentaria um minuto sentado no banco das testemunhas. O que levou Mike direto para Jimmy, que sensatamente recusou a loucura proposta pelo ex-colega de trabalho – o que o deixou por um tempo apenas por conta da sua inteligência para tentar se livrar dessa acusação.
Se desde o retorno Suits tem focado em mostrar os reflexos da exposição da farsa que deu início a toda história que temos hoje, onde todos os personagens afirmaram e se posicionaram do lado do jovem e da Pearson-Specter-Litt, em Self Defense vimos que na prática a pressão da mentira pode ser muito mais poderosa que a lealdade que os nossos personagens tem entre si. Obviamente não estou falando de Jessica, que mais uma vez, deu um show de segurança, mesmo com tudo que ela lutou por toda sua vida estar se esvaindo entre seus dedos. Não duvido que ela se manterá firme e se necessário afundará junto com o barco se necessário.
Com toda a sua convicção, a Promotora consegue o adiantamento do julgamento pegando todos de calça curta, proporcionando o momento que todos nós esperávamos desde que a série estreou: Mike finalmente enfrentando as consequências de todo o conto de fadas que ele construiu. O primeiro a entrar na dança foi, sem surpresa, o ex-amigo Travis. Eu me surpreendi um pouco com a forma que ele vomitou a história (real) sem pestanejar. Não vi no rapaz um pingo de empatia por Mike e obviamente isso fez com que Harvey partisse com força total para cima do ex-traficante, deixando Gibbs um pouco desorientada com a perda da credibilidade da sua testemunha chave.
Como reação, ela chamou Donna e surpreendentemente – e, acho que pela primeira vez – vimos a ruiva se encolher diante de uma situação que exigia dela apenas continuar sendo Donna. Ao responder as perguntas de Gibbs, sem querer, ela conseguiu colocar o caráter de Mike em cheque ao revelar que ele se passou por outra pessoa para conseguir esgueirar-se para dentro da sala de entrevista de Harvey. Diante disso, quando finalmente ela é questionada sobre Havard ela faz uso da Quinta Emenda da Constituição dos Estados Unidos – recurso que, desde o começo, ninguém da Pearson-Specter-Litt cogitou utilizar. Como consequência, Donna sentiu como se um rolo compressor tivesse passado sobre ela e, ao procurar Mike para se desculpar, ela e Rachel tem juntas um momento em que realizam que pessoas como Gibbs e Harvey conseguem deixar a humanidade de lado em prol dos seus casos – algo que os fazem parecer pessoas odiosas.
Jimmy aparece como o Messias no tribunal, contando um faz de conta super crível sobre sua época em Havard do lado de Mike, com direito à detalhes mitigados do cotidiano no campus da faculdade. Mas, mesmo nas melhores intenções, Gibbs conseguiu fazer com que ele tremesse na base e não fosse o ponto de virada esperado por Mike e Harvey.
Self Defense preparou o terreno para os dois últimos episódios da temporada, com o novo posicionamento de Harvey de que para Mike contornar toda a situação, ele deve se representar diante dos jurados. Isso vai alçar o personagem para o centro da reta final do quinto ano, pois pela primeira vez, Harvey não será capaz de salvar o dia e também corre o risco de sofrer uma dolorosa derrota vendo seu protegido quebrar diante de todos – os reflexos disso podem muito bem permear a 6ª temporada, onde eu aposto que iremos retomar a abordagem do lado emocional do advogado.
Ainda mais com o perigo iminente de Louis mudar de lado. Além de ser uma ameaça para Sheila, é impressionante como a Promotora consegue saber de todos os passos dos seus investigados, ficando fácil para ela ler o que está realmente acontecendo por trás da aparente confiança deles. Gibbs conseguiu tocar na ferida de Litt ao concluir como ele conseguiu o seu nome na parede e, gente, essa mulher realmente é diferenciada. Parece que ela assistiu Suits junto conosco, porque caramba, ela parece saber até mais que a gente que está a cinco anos acompanhando a série.
Suits consegue sempre ser interessante, agora desconstruindo seus heróis e colocando eles do outro lado da balança. Mas enquanto sentirmos a urgência de torcer por eles, sem odiá-los completamente, a trama prova ser complexa e uma delícia de assistir, brincando com as nuances de caráter dos seus protagonistas. O desafio agora é nos prepararmos para os próximos acontecimentos e para mais um longo (e doloroso) hiato.
Confira a promo de Tick Tock, que vai ao ar dia 24 de fevereiro:
E você? O julgamento de Mike começou como você esperava? Acha que ele conseguirá reverter a situação? Fique a vontade para comentar e complementar a resenha.
Observações:
– O episódio acabou em um momento ingrato, poderiam ter estendido ele em mais meia hora – não ia nem sentir.
– Será que Louis novamente vai ser o homem que colocará todos em risco? Pessoalmente eu gostaria que não, mas a promo da semana que vem… Mas, sei lá, tudo pode acontecer.
– Eu achei muito legal da parte de Jimmy aparecer para ajudar Mike, apesar de achar errada a forma como ele se aproximou do ex-colega para pedir ajuda.
– Harold bem que poderia ser o herói da história, né? Hahaha
– Como eu disse, Rachel me surpreendeu nesse episódio. Primeiro ao dizer que Mike deveria aceitar Harvey como seu advogado e depois, sua compreensão com Donna.
– Jessica poderia muito bem fazer dupla com a Beyoncé e comandar o mundo. Gostaria muito de vê-la como testemunha destruindo Gibbs.
– Patrick J. Adams fez um ótimo trabalho dirigindo esse episódio.
– A Quinta Emenda à Constituição dos Estados Unidos é parte da Carta dos Direitos dos Estados Unidos e institui garantias contra o abuso da autoridade estatal,como entre outras coisas, o direito de permanecer calado e evitar assim a auto-incriminação.
– Uma busca rápida no Google foi suficiente para saber que a Argentina e os Estados Unidos têm um tratado de extradição, então se Sheila for intimada, ela não ficaria em paz em nenhuma cidade de lá.
– Será que o Soloff vai aparecer como uma figura relevante nesse julgamento? Quero saber o segredo dele!
– “I don’t know if you’ve noticed this or not, but he’s kicking your ass.” – Jessica sobre Mike.
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