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Switched at Birth – 5×01 The Call/ 5×02 This Has to Do With Me

Por: em 20 de fevereiro de 2017

Switched at Birth – 5×01 The Call/ 5×02 This Has to Do With Me

Por: em

Após um longo e doloroso hiatus – 14 meses, 14 fucking meses, você está fazendo um jogo comigo Freeform? –, Switched at Birth está de volta para sua temporada final. Todo esse contexto, somado ao fato desse ser um dos meus dramas adolescentes favoritos, faziam com que minhas expectativas estivessem nas alturas. Mas, como sabemos, quanto maior a expectativa, maior a decepção e isso se encaixa perfeitamente aqui.

Bastaram dois episódios para que uma única questão se instaurasse em minha mente: o que diabos está acontecendo com Switched at Birth? A série parece ter selecionado um milhão de situações aleatórias, as jogado em um liquidificador e batido tudo. O resultado foi, no mínimo, estranho, deslocado e fora do tom. Os minutos iniciais de The Call só podem ser descritos como os mais “what the fuck?” que eu já vi nesse seriado. Do nada vemos uma Daphne desesperada, buscando ajuda para a irmã que passava muito mal. Descobrimos, então, que Bay teve encefalite, o que poderia tê-la matado, a vemos se curar e, após essa breve experiência de quase morte, ter uma epifania que a faz desejar permanecer na China e convencer Daphne a fazer o mesmo. Tudo isso em menos de cinco minutos.

Esse plot, embora bem longe da originalidade, poderia até ter funcionado, se houvesse sido bem executado, porém, não foi o caso. Tudo soou artificial e forçado, quase como se a série nos obrigasse a engolir qualquer desculpa esfarrapada para aceitar o ano sabático das swisters. Além disso, desde quando é tão fácil se mudar para outro país, encontrar um emprego e ainda conseguir que o crush também embarque nessa loucura? De qualquer forma, Bay, Daphne e Travis curtiam loucamente suas vidas na China, até que uma ligação inesperada os obrigou a voltar para casa. Desde o fim da temporada passada, especulei bastante sobre qual seria o conteúdo do telefonema recebido por Bay, mas em momento algum cheguei a cogitar que isso poderia envolver Emmett. Sendo assim, gostei o elemento surpresa.

A depressão do rapaz, por outro lado, me deixou dividida. Gosto da iniciativa da série ao colocar essa questão em pauta. A depressão, assim como vários outras doenças mentais, é um problema sério de saúde, que atinge milhares de pessoas no mundo inteiro, mas, em pleno 2017,  se mantém como um tabu. As pessoas que possuem esse tipo de doença são constantemente invisibilizadas e sofrem um grande preconceito. Sendo assim, é extremamente importante falarmos sobre depressão. A forma como esse plot foi tratado, contudo, me incomodou um pouco.

Switched at Birth é conhecida pelo modo simples, sensível e sem preconceitos como aborda inúmeras questões. A depressão de Emmett, no entanto, foi simplesmente jogada no episódio. Faltou desenvolvimento – quão incrível seria termos acompanhado o personagem nesse momento tão delicado e ir percebendo como a doença se manifesta e vai afetando a vida diária? – faltou emoção, faltou um roteiro que gerasse empatia e evidenciasse a gravidade daquela situação.

Fora isso, The Call também buscou nos apresentar o contexto no qual o restante dos personagens se encontra, e mostrar como Daphne e Bay  se readaptavam à Kansas City. Talvez tenha sido muito conteúdo para um único episódio, talvez tenha sido culpa do roteiro corrido, talvez o elenco estivesse no piloto automático, talvez seja uma soma de todos esses fatores, a verdade é esse foi um retorno maçante e que em nenhum momento verdadeiramente emociona ou sensibiliza.

This Has to Do with Me, por sua vez, foi um pouco melhor, embora não esteja livres de cenas que causam vergonha alheia – o que foi Bay gritando em mandarim com os garotos que queriam assaltar o estúdio de tatuagem? – e o ritmo continue um problema. O episódio, de toda forma, funciona por focar em uma discussão extremamente importante e, infelizmente, ainda atual: o racismo. Switched acerta ao colocar Mingo e Daphne no centro da agressão. Sabemos que os dois são, na medida do possível,  pessoas boas e decentes. Ainda assim, os dois são brancos e, por isso, se encontram em uma posição de privilégio que os impede de enxergar opressões diárias enfrentadas por outros grupos étnicos, nesse caso, os negros.

O racismo é um problema sistêmico que se estende por todas as esferas sociais. Nossa cultura é racista, nossa educação é racista – basta pensar no que aprendemos sobre o continente Africano, por exemplo, ou em quantos negros e negras influentes em suas  áreas estudamos –, nossa mídia é racista, nossos padrões estéticos são racistas, nosso mercado de trabalho é racista, enfim, somos socializados de um modo racista. É claro que isso não exime ninguém da culpa, mas foi bom ver a série colocando o dedo na ferida e evidenciando que ser uma pessoa legal, pertencer a outras minorias ou ter amigos negros não impede ninguém de ser ter atitudes preconceituosas.

Sendo assim, o comportamento de Mingo e Daphne durante todo o episódio me irritou bastante, uma vez que nenhum dos dois se preocupou em ouvir o que aquelas pessoas, que se sentiram ofendidas, têm a dizer. Brancos não determinam o que é ou não racista, e quando uma minoria afirma que sua atitude foi preconceituosa, o minimo que deve ser feito é pedir desculpas e não repetir a agressão. Os dois, contudo, preferiram se armar do discurso vazio “não, eu não sou racista” do que tentar compreender seu erro. O que se torna pior quando consideramos que Mingo é o representante do dormitórios. Se ele não consegue entender e ouvir as vozes de todos que residem ali, a quem ele representa?

Daphne também piorou tudo, tentando recorrer ao conceito de liberdade de expressão para defender o ex-namorado. Quando a menina diz que “poder ofender outras pessoas é o que nos torna americanos” senti o sangue ferver em minhas veias. Talvez não seja fácil perceber, mas o direito de uma pessoa acaba quando começa o de outra. A partir do momento em que seu discurso ofende, oprime e reforça um sistema que inferioriza outras pessoas, já não estamos falando de liberdade de expressão e sim de puro preconceito, explícito ou velado, e discurso de ódio.

Dessa forma, o desabafo de Iris, nos últimos minutos, acaba se tornando o ponto alto do episódio. A menina lista várias situações de opressão que vive diariamente e que Daphne, como branca, sequer percebe. Expressa o que é não se sentir segura, representada e não ter sua voz ouvida, especialmente em questões que lhe afetam diretamente. Nesse ponto, devo dizer que, embora ache interessante a construção do episódio, que evidencia como o privilégio branco que cega, gostaria que personagens negros tivessem tido mais espaço para expressar seus pontos de vista, afinal esse espaço de fala é deles.

É válido destacar também que, ainda que a iniciativa de falar sobre preconceito racial seja incrível, Switched at Birth nunca teve personagens negros em seu elenco principal. Além disso, Iris, uma das poucas negras na trama, jamais teve uma história própria. Seus sonhos, medos, planos, relacionamentos e personalidade nunca importaram, ela sempre esteve ali apenas para ser amiga de Daphne. Sendo assim, é necessário mencionar que falar sobre diversidade é sim importante, mas é sempre melhor quando conseguimos enxergá-la verdadeiramente em uma obra.

Dito tudo isso, ainda acho que The CallThis Has to Do With Me têm vários problemas, especialmente por inserirem inúmeros plots de uma só vez, sem deixar claro qual deles é o principal e desenvolver todos eles de forma abrupta e atropelada. Ainda assim, acredito que o maior problema esteja no fato de estarmos em uma temporada final – que contará com apenas 10 episódios – e tudo o que vimos até agora soar como fillers que não conseguem nos prender e emocionar. Switched at Birth pode e deve fazer melhor do que isso.

Observações:

— Durante muito tempo fui a maior defensora de Bemmett que você poderia encontrar. Agora, após todos os dramas envolvendo o casal, acho que esse ship está mais do que desgastado e dificilmente voltará a funcionar como antes. Gosto da ideia de Bay e Travis juntos, a série, no entanto, nem tenta dar uma chance ao casal, que acabou de acontecer, mas já começa a ser sobrecarregado de melodramas.

— Toda a história com Eric foi, graças a Deus, superada e Regina já partiu pra outra. Gostei da introdução de seu relacionamento com Lucas, mas ela, claramente, ainda precisa aceitar que não há problema algum em se relacionar com alguém mais jovem.

— Kathryn agora é uma mulher de negócios e conseguiu um emprego na Universidade, sendo inclusive a chefe de John. Amei e não foi pouco.

— Não falei muito sobre apropriação cultural ou fantasias estereotipadas, mas caso se interessem, ou tenham dúvidas sobre os motivos dessas atitudes serem problemáticas, recomendo esse texto.

— Peço um milhão de desculpas pela demora nas reviews. Último período da faculdade, TCC, formatura e outras questões pessoais atrapalharam, mas prometo que a review do 5×03 sai até amanhã e, após isso, os textos seguiram sua ordem regular.


Thais Medeiros

Uma fangirl desastrada, melodramática e indecisa, tentando (sem muito sucesso) sobreviver ao mundo dos adultos. Louca dos signos e das fanfics e convicta de que a Lufa-Lufa é a melhor casa de Hogwarts. Se pudesse viveria de açaí e pão de queijo.

Paracatu/ MG

Série Favorita: My Mad Fat Diary

Não assiste de jeito nenhum: Revenge

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