“Pessoas assustadas fazem coisas que você não acreditaria”.
Medo. Essa emoção que se infiltra em nossa corrente sanguínea, nos faz abandonar qualquer racionalidade e agir de formas nunca antes imaginadas. Esse sentimento que motiva ou paralisa, que é capaz de despertar o que há de melhor ou pior em você, que pode ser superado ou se tornar sua ruína. Medo que, como ficou claro nesse episódio, é o principal mote da reta final de Teen Wolf.
Após as inúmeras situações macabras e criaturas monstruosas que aterrorizaram Beacon Hills nos últimos anos, não é difícil entender de onde vem todo esse pavor. Especialmente depois de demonstrações tão públicas e ameaçadaoras da existência de um mundo sobrenatural (já estava mesmo na hora da galera dessa cidade parar de fazer de cega, né?). Sobre isso, o escritor de terror H.P. Lovecraft disse uma vez que “a emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos eles é o medo do desconhecido“. A citação se encaixa bem nesse contexto, uma vez que a descoberta de seres, que deveriam fazer parte apenas do nosso imaginário, tem gerado o pânico e, com isso, uma série de hostilidades, ataques e massacres. É da natureza humana, afinal, tentar aniquilar seus demônios.
O medo, no entanto, também foi um sentimento que moveu as tramas de Scott e Lydia. A perspectiva de estarem lidando novamente com caçadores foi suficiente para fazer o alfa se apavorar e reviver alguns de seus piores momentos. Acredito, entretanto, que a simples perspectiva de ter Chris – alguém que, de certa forma, assumiu um papel de figura paterna em sua vida – envolvido novamente na caça de seres sobrenaturais tornava tudo pior. No fim, descobrimos que o Papai Argent estava apenas vendendo suas armas e, se havia alguma dúvida sobre a identidade do comprador misterioso, é bem provável que todas as suspeitas agora apontem para Gerard, que está de volta e continua com a ideia fixa de acabar com os lobinhos e seus amigos.
Lydia, por sua vez, teve que enfrentar seus demônios ao retornar a Eichen House, para salvar Parrish. Perceber o pavor da menina em se ver novamente naquele lugar – onde foi tão violentada – foi algo importante, afinal, após tudo o que ela passou ali, seria absurdo que não desenvolvesse qualquer tipo de trauma. Além disso, essa pequena cena ajuda a criar uma ideia de consequência na narrativa, algo que, algumas vezes, sinto falta em Teen Wolf. Na maior parte do tempo, o problema é rapidamente resolvido e superado, sem grandes impactos físicos, psicológicos ou emocionais. A própria morte de Allison se enquadra nesse cenário, uma vez que a série nunca deu realmente tempo aos personagens para sofrer a perda a amiga, isso para não mencionar o tom quase cômico adotado pela quarta temporada.
Medos e traumas, no entanto, não foram tudo o que vimos aqui. Raw Talent foi também um episódio sobre recordações. Seguindo a linha nostálgica da temporada, tivemos breves flashbacks, que contextualizavam os pavores de Scott e Lydia, além de nos lembrar da vida de Chris como um caçador impiedoso e da Eichen House como uma prisão para criatura sobrenaturais. Outro ponto que merece destaque está no retorno de Brett – que quase acabou partindo dessa para uma melhor – e na menção ao Transtorno Explosivo Intermitente de Liam, algo extremamente importante para a construção do personagem e sua falta de controle como lobisomem, mas que não era citado há temporadas.
Seguindo a lógica insana que regula minha cabeça, nem se dê ao trabalho de tentar entender, deixei para falar sobre a cena inicial por último. Logo na abertura do episódios nos deparamos como nosso velho amigo Theo Raeken em uma situação digna de pena. A solidão do rapaz era quase palpável, mas foi rapidamente ameaçada pela chegada de um grupo determinado a acabar com sua vida. Ainda assim, não acredito que o garoto tenha realmente morrido, afinal vaso ruim não quebra tão fácil. Além disso, acho difícil que trouxessem o ator de volta apenas para despertar a pena nos corações mais fracos – como o meu – e insinuar sua morte. Tudo isso em menos de cinco minutos.
Após todas essas divagações, preciso confessar que ainda não sei exatamente o que achei desse episódio. Raw Talent certamente teve seus pontos interessantes e relevantes para o desenvolvimento da trama, entretanto, a sensação de que boa parte disso poderia ter sido resolvida de forma mais ágil está comigo desde que o assisti. Faltando oito episódios para o desfecho da série é necessário que a história flua mais rápido e o roteiro gaste mais tempo com os personagens que amamos e menos tempo criando a atmosfera para o plot principal. A essa altura do campeonato, dois episódios de contexto e soa quase como um desperdício de tempo.
Observações:
— Aquele sofrimento de saber que a senha do Chris é Allison. Aliás, Allison sendo usada como senha desde a primeira temporada quando Scott resolveu iniciar a tendência;
— Não tivemos Stiles nesse episódio e para mim isso é um motivo de tristeza;
— Scott e Malia estão cada vez mais próximos e confesso que adoro a ideia dos dois como um casal, porque Tyler Posey e Shelley Hennig têm uma química absurda;
— Por que as pessoas dessa série ainda insistem em ir a Eichen House? Não tem uma vez que pisam nesse lugar que alguém não sai machucado ou quase morto. Se fosse eu não passava nem na porta.
— A trilha sonora de Teen Wolf é sempre maravilhosa, mas nesse episódio merece destaque por ter se encaixado como uma luva nas cenas.