O terceiro episódio de The Crown começa nos lembrando da linha de sucessão. O pai de Elizabeth, Rei George VI, assume o cargo, após seu irmão, Príncipe Edward abdicar o trono pela sua amada, a Sra. Simpson. Essa primeira cena define o tom de todo o episódio. Elizabeth é colocada no papel de Rainha da mesma forma que fora colocada na linha de sucessão, abruptamente e sem estar preparada. A Rainha assume o comando em 1952, com apenas 25 anos. E sua vida privada passa agora a ser discutida entre assessores políticos. Seu nome, onde ela vai morar, isso se torna questão de Estado.
Claro, que Edward, o Duke the Windsor, volta do seu exílio para o enterro do irmão e para garantir a sua mesada, após a morte do mesmo. Interpretado por Alex Jennings, que faz carreira com príncipes impopulares (lembram do filme A Rainha?), apresenta um personagem desagradável na medida certa. Ele é imaturo, quer ser manipulador, mas tem algo no seu tom cômico e real que me faz gostar do personagem. Ele é um dos poucos ali que realmente fala o que pensa. E tem a melhor fala da série até então “Com essa família, quando você está dentro, você não tem muita certeza de estar, mas quando você está fora, eles não deixam dúvidas”. Na série, o príncipe também tem os seus admiradores, inclusive Churchill.
A Rainha, que chega ao posto tão crua que convida Churchill para sentar e tomar um chá (um pecado, avisa ele), deve aprender que o reinado vem em primeiro lugar. Acima de tudo, inclusive do casamento, da família e de velhas brigas. A personagem ainda é muito resignada, parece aceitar tudo, é a mulher que prometeu obedecer o marido em seu casamento. Por outro lado, devemos lembrar, ela também fez o casamento acontecer contra tudo e todos, levou Phillip a abdicar de seu trabalho, apagar seus antepassados. Existe força na sua calma. Elizabeth escolhe muito bem as batalhas que quer comprar e então não mede esforços.
Em Windsor, a Rainha tem que escolher que batalha comprar, entre Phillip e Churchill. Entre o casamento e a Nação. Ela pode atender aos pedidos do marido, de mudar o nome e manter-se na casa do casal, as custas de popularidade e poder político; ou atender aos conselhos do primeiro ministro. Os dois personagens tem suas particularidades aqui, Phillip sempre com olhar irônico, um sorriso no rosto me lembra dos tempos em que Matt Smith era aquele Doctor Who divertido e cheio de flertes, mas o personagem vai se desenvolvendo para aprender a lidar (nem sempre bem) com seu papel perante a esposa. Churchill por outro lado, entra na série causando, mas no fundo, tenta manter-se no poder também para ajudar a solidificar uma família real desestruturada e despreparada.
Falando em Churchill, eu achei a escolha de John Lithgow equivocada. Não que o ator seja ruim, mas ele já tem o rosto tão marcado por inúmeros filmes e muitas comédias. Não consigo não franzir o rosto toda vez que dão um close nele. Apesar da caracterização, algo parece errado. Será que não havia mais nenhum ator inglês que servisse para o papel? Em meio aos maravilhosos palácios e cenários, Lithgow destoa demais da pompa inglesa. Na verdade fiquei imaginando que Hugh Boneville (Sir Robert Crawley, de Dowtown Abbey), apesar de novo para o papel, ficaria bem parecido com Churchill.
Nesta história a gente já sabe o final, mas ainda assim, ela vale cada minuto. Netflix nos preparou uma jornada maravilhosa. The Crown tem política, intriga, tem até amores proibidos, amantes e traições, mas tudo isso da maneira mais digna possível. Estamos falando da família real britânica, afinal. Apesar de ter tido sua boa parte de escândalos ao longos dos anos, tem a pompa e reserva um lugar especial no nosso imaginário. Com muitos olhares atravessados e palavras não ditas, no melhor estilo britânico, ela vem recontar os bastidores da vida da jovem Rainha Elizabeth II.
