Anna Muylaert, diretora de Que Horas ela volta? contou ao Metrópolis, da TV Cultura, o grande processo de reestruturação pelo qual o roteiro do filme passou. Numa das versões, Jessica, a filha da emprega Val, não consegue passar no vestibular e se torna manicure. A versão foi criticada por um de seus revisores: “Se você fosse filha de uma empregada, você encontraria um final melhor para ela.” Essa é a sensação que tenho ao final do episódio dessa semana: se os diretores ou roteiristas desse episódio fossem negros ou tivessem intimamente ligados às questões raciais, o final teria sido diferente.
The Good Wife já tematizou tantas vezes várias formas de preconceito, com tanta maestria, que é uma pena que o roteiro de Discovery escolha o caminha mais fácil para finalizar as tramas do episódio. É preciso também ressaltar qual o lugar de fala dos personagens protagonistas: exceto pela finada Kalinda, todos os protagonistas, que participaram de todos os episódios (e aqui Will e Kalinda entram, afinal, até suas respectivas saídas da série eles não haviam faltado uma vez sequer) são brancos. Ela era o contraponto. Por isso, mesmo que cheio de boas intenções, é irônico perceber o tom do discurso de Cary ao argumentar sobre a existência de preconceito reverso ou a própria Alicia debatendo, lá na temporada passada, a questão racial na cozinha do hotel. São lugares de fala privilegiados e que denotam a inexistência de experiências nesse sentido. Nenhum dos três relatará suas experiências de discriminação.
No episódio dessa semana, Monica Timons volta à Lockhart, Agos (sdds David Lee) cobrando um favor. O objetivo é processar a Chumhum (como amo a logo com o castor!) por racismo. Um aplicativo que mostra as regiões perigosas da cidade, inclui uma vizinhança negra, simplesmente pelo fato dela ser negra, o que acaba afetando um pequeno negócio local.
Mais uma vez, Alicia e Lucca fazem frente, junto com Canning, à Diane e Cary. Defendendo a Chumhum, o objetivo é provar que não há racismo nas escolhas automáticas do aplicativo, afinal, ele funciona a base de um algorítimo. A matemática não é passível de preconceitos. O mesmo não pode ser dito dos funcionários da empresa, que fazem as boas piadinhas inofensivas racistas além de um caso particularmente doloroso: um aplicativo, ao categorizar fotos, percebe as feições de uma mulher negra como de um animal e não um ser humano, colocando-a em uma seção diferente. A explicação dada pelos analistas e pela própria Lucca é a falta de vivência. Se a disparidade não está na matemática, nos dados, ela reside na interpretações deles. Essas pessoas não estão acostumadas a trabalhar com negros e simplesmente não percebem o preconceito como algo construído e o naturalizam.
Do lado de cá, fora dos tribunais, Ruth começa a se preocupar com a presença de Alicia na campanha de Peter e uma possibilidade de traição com Jason. Cabe a Eli investigar essa situação e certificar-se de que a boa esposa permanece sendo uma boa esposa. A postura complacente dela acabou me irritando: ser uma Florrick exige certas privações na vida pessoal. Esse é o ônus de ser a mulher de um candidato à presidência. E como sabemos, Alicia sempre fez questão de se beneficiar com essa situação. Muitos outros problemas teriam sido evitados se ela simplesmente abrisse mão do teatro conjugal.
Você percebe que a série está estranha quando não se pega torcendo pelo protagonista e sim por aqueles que estão lá para atrapalhar o caminho dele. A todo instante eu vibrei com os ataques de Diane e lamentei os acertos de Alicia. Por fim, lá está Eli Gold está aprontando (como sempre) mas dessa vez será que a possível candidatura de Alicia vinga? Talvez essa seja uma aposta para o final da série.
Falta um episódio para a mid season finale e contando.
