The Night of terminou em um episódio tenso, coerente, emocionante e com todas as respostas que precisavam ser dadas. O ritmo foi muito mais acelerado que o do restante da série, e em muitos momentos foi inevitável se perguntar “como vão resolver isso?”. Mas resolveram. Sem obviedades, sem finais felizes e nem grandes tragédias. Um desfecho agridoce para uma série que sempre gostou das zonas cinzentas.
O julgamento foi muito bem conduzido por Chandra. Ela foi escolhida para o caso por uma mera questão racial, mas depois de um primeiro dia difícil, dominou o processo, foi bem nas investigações, nos interrogatórios e fez as perguntas certas àqueles que poderiam ter sido suspeitos, se a polícia não tivesse se apressado tanto em incriminar Naz. Ironicamente, nenhum deles foi o real culpado pela morte de Andrea, mas poderiam ser. E se não fossem suspeitos no mínimo razoáveis, o júri não teria chegado a um impasse – e Naz não teria saído da prisão.
Muito da eficiência de Chandra veio da fé e dos sentimentos que ela nutria por Naz. Ela acreditava na sua inocência e fez uma sua defesa baseada nisso, e não em subterfúgios, atenuantes e acordos para reduzir a sua culpa. Ao mesmo tempo, essa paixão a levou a cometer uma série de erros gravíssimos. Erros que acabaram com a sua carreira e poderiam acabar com a sua vida também, se Naz não tivesse a proteção de Freddy. Quando ela decidiu que Naz iria depor, já bateu um desespero e uma certeza de que aquilo terminaria mal. Quando ela comprou a camisinha para transportar a droga, a minha vontade era de chutar a televisão. Inacreditável. Como ela fez uma coisa daquelas? Como eles resolveriam um problema desses em um episódio?
Para a sorte da advogada, a gravação das drogas ficou sob os cuidados de Freddy, e a única imagem vazada foi a do beijo que ela trocou com Naz alguns dias antes. O que já foi o suficiente para tira-la do comando do caso, fazê-la perder o emprego e ser denunciada por conduta antiética. O julgamento, inclusive, chegou perto de ser anulado, mas o juiz acreditou que tudo poderia ser uma manobra da defesa e resolveu seguir em frente com os procedimentos formais. Era impossível saber, até o último instante, qual seria a decisão final, e quais seriam as consequências disso.
Ser interrogado no tribunal acendeu um sinal na cabeça de Box. Ele estava acostumado a repetir os mesmos padrões e, na maioria das vezes, aquilo que parece, é. Mas aquele caso era diferente, e quando foi confrontado com tantas pontas soltas, novos pontos de vista e possibilidades, ele não se conformou em encerrar a carreira jogando golfe e correr o risco de ter condenado um inocente. Dennis foi atrás da verdade, e em algum momento ele deve ter percebido que a verdade era muito mais incômoda que ele imaginava, principalmente porque ela estava escondida em um lugar a que ele teve acesso desde o início. Box foi extremamente cuidadoso ao traçar a linha do tempo da noite de Naz, mas não se preocupou em fazer o mesmo para entender a noite de Andrea.
O mistério que rondou a série o tempo inteiro finalmente foi esclarecido. Andrea entrou no táxi de Naz e se recusou a sair pelo motivo mais óbvio para uma mulher andando sozinha à noite: ela estava sendo perseguida, e teve medo. O namorado, que nunca tinha aparecido até então, roubou uma quantia significativa de dinheiro, discutiu com ela e depois a perseguiu. Como o perito da defesa apontou, não era possível ver a cozinha – e Naz – de outros pontos da casa. Ele acreditou que Andrea estava sozinha e a assassinou. Acho que todo mundo esperava um flashback mostrando a cena do crime, mas também foi uma solução interessante fugir do óbvio, do explícito, e deixar essas peças posicionadas para que o espectador encaixasse sozinho.
Mas tudo isso foi descoberto tarde demais, quando a defesa já tinha encerrado, não havia mais espaço para apresentar novas evidências e só o que faltava era a apresentação dos argumentos finais. Não era mais responsabilidade do detetive. Estava nas mãos da promotoria, e Helen preferiu apostar no suspeito que tinha mais provas pesando contra ele. No que era mais fácil. No que renderia estatísticas melhores. Só quando ela viu Box deixando o tribunal e começou a narrar o crime em detalhes, ela percebeu que o que estava em jogo era muito maior que uma condenação a mais para Nova Iorque. Que eram vidas em jogo ali. Naz estava destruído, Andrea nunca teria justiça pela sua morte e um assassino continuaria à solta, pronto para matar novamente com aquele grau de brutalidade. Mais uma vez, a burocracia a deixou de mãos atadas, mas talvez a sua hesitação ao pronunciar as últimas palavras tenham sido o argumento decisivo para convencer metade do júri de que ele era inocente. Sendo assim, ela pôde tomar a única decisão ética e justa: retirar as acusações, libertar Naz, ir atrás do verdadeiro assassino.
O fim do julgamento não livrou Naz das marcas e dos fardos pelos quais ele sempre será lembrado dentro da sua comunidade e da memória do país. Afinal, é uma sociedade xenofóbica que deve achar bem mais “lógico” culpar o paquistanês muçulmano que o rapaz branco com cara de galã, independente de quem os tribunais condenam ou absolvem. Ele vai conviver para sempre com o que foi obrigado a fazer na cadeia – e com o que fez porque quis também. Vai ter que lidar com o vício em drogas e com uma relação familiar, principalmente com a mãe, que jamais será a mesma. Vai ter que ajudar a reconstruir um lar despedaçado, mesmo que ele próprio esteja mais destruído que qualquer um. Que tipo de futuro resta para Nasir Khan?
Um dos trunfos do episódio foi dar destaque em algum momento a todos os personagens, mas é claro que ninguém conseguiu brilhar mais que Stone. Ele foi a grande força de The Night of desde o piloto, e nenhum outro personagem teve uma construção tão cuidadosa e tão completa quanto a dele. Jack passou por uma montanha russa nesta season finale. Ele colocou moral no padrasto de Andrea avisando que não é lá muito sarado, mas tem amigos que podem compensar esse pequeno detalhe, mas desabou completamente ao receber a responsabilidade de fazer os argumentos finais no lugar de Chandra, quando dava como certa a anulação do julgamento.
Ele procurava reconhecimento, respeito, fugir da fama de advogado barato de porta de cadeia assumindo um grande caso de repercussão nacional. Passou todo o processo agindo pelos bastidores, com uma atuação importantíssima, mas pouco destaque público. Justo no momento em que os holofotes se voltaram para ele, Stone desabou. Sua insegurança aflorou literalmente pelos poros, cada crítica que recebeu durante toda a vida deve ter brotado de volta em forma de micose, e o gran finale acabou virando mais um episódio de humilhação pública. Mas ele fez uma apresentação belíssima, emocionante e usou como ponto central aquilo que ele sempre dizia ser irrelevante em um tribunal: a verdade. Ele foi honesto sobre as suas impressões pessoais, suas motivações, sobre os dados estatísticos relativos a crimes como aquele e foi honesto nas lágrimas que tinha nos olhos ao cumprir a missão e deixar a decisão final para aquelas pessoas. A hesitação de Helen foi importante, mas a honestidade de Jack foi fundamental.
Box, ainda que tenha sido decisivo para o destino de Naz, sempre vai carregar o peso de ter incriminado a pessoa errada no último caso da carreira. Chandra poderia ter sido uma advogada brilhante, mas vai lidar com um fim precoce dos seus planos. Os Khan podem ter se livrado de grandes problemas, mas ainda têm muitas questões para enfrentar juntos. Stone teve seu grande momento, mas o prestígio e a fama não vieram instantaneamente – só a alergia. Freddy perdeu Naz, mas pode ter ganhado um substituto quase à altura para assumir os negócios. Andrea continua morta, mas seu gatinho está de volta ao novo lar.
O que achou do final de The Night of? Muito obrigada a todos que acompanharam e comentaram as reviews. Foi uma série brilhante em muitos aspectos, e com um final extremamente satisfatório considerando tudo o que foi apresentado. Aproveite a última chance para deixar seu comentário e até a próxima!
