Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Primeiras Impressões: The X Factor Brasil

Por: em 30 de agosto de 2016

Primeiras Impressões: The X Factor Brasil

Por: em

Vou começar esse texto de forma bastante pessoal – e nada mais “pessoal” que o programa que estamos analisando. Eu AMO o The X Factor. Na verdade, sou muito fã e defensor de realities musicais como ideia, mas The X Factor é de longe minha franquia favorita e eu tenho meus motivos. Os mais proeminentes deles seriam a coerência entre o programa e a realidade do mercado fonográfico, uma trama muito bem amarrada cujo protagonismo oscila entre painel de jurados e candidatos com fluidez de dar inveja a muito showrunner, e as doses cavalares de emoção que o programa usa com maestria. Na minha erma pré-juventude, quando as responsabilidades do sistema ainda não tinham caído sobre mim e consumido todo o meu tempo, passava horas a fio assistindo episódios e episódios de X Factor’s ao redor do mundo. Sou bastante crítico a certos aspectos do programa – em especial o uso excessivo de joke acts, nome que a imprensa gringa dá aos candidatos que claramente não têm talento, mas são colocados como alívio cômico na edição -, mas eles não afetam a ideia do programa como um todo no meu ponto de vista.

Então, meu caro colega leitor, imagine só a emoção deste reviewer quando descobriu que a TV aberta brasileira tinha comprado os direitos da franquia para o Brasil (se quiser ir além de imaginar, é só ler os meus tweets do dia que isso aconteceu). E as expectativas também foram lá na estratosfera, não preciso nem falar nada. Mas, vou tentar deixar o meu lado superfã de lado e, com doses de sobriedade, analisar a tentativa da Band de emplacar mais um reality na TV brasileira. Primeiro, o momento didático do texto (que aliás também rolou no programa): o The X Factor Brasil vai seguir mais ou menos o mesmo formato da estado atual da versão britânica (ou pelo menos, da temporada de 2015), com as devidas traduções; se você não vê a versão britânica, não viu a americana, e não faz ideia do que se trata, a gente explica. Os primeiros episódio são as Audições, onde os candidatos se apresentam na frente dos jurados e de uma plateia na esperança de receber pelo menos 3 “sins” e seguir em frente na competição. Depois vem o Centro de Treinamento, onde os candidatos são divididos nas quatro categorias: Homens, Mulheres, Adultos (acima dos 25 anos) e Grupos, cada uma delas mentorada por um dos jurados. No Centro de Treinamento, rola um montão de provas, um montão de cortes e os sobreviventes passam pelo Desafio das Cadieras, em que disputam uma das vagas nos Shows Ao Vivo, onde o público semanalmente vota nos seus candidatos favoritos. Ainda não se sabe quantas vagas por categoria, nem quantos vão disputa-las, mas acho que deu pra ter uma boa ideia.

The X Factor Brasil - Estreia (Destaque)

Antes de analisar o que vimos na TV, é bom lembrarmos do que antecedeu o programa e gerou o buzz que a Band precisava (ou não). A maior “notícia” relacionada ao programa foi a falta de organização e o descaso com os candidatos no dia da primeira audição, que rolou lá na Arena Corinthians, em SP. Os principais relatos foram de filas gigantescas, grosseria dos produtores e incoerência nas avaliações. O primeiro problema já começa no fato de que a coisa toda foi meio mal planejada: as audições aconteceram pouco mais de um mês antes da estreia, não rolou nenhuma pré-seleção online (???) e certamente não havia recursos nem pessoal para dar o suporte que 10 mil inscritos + convidados precisavam. Além disso, não rolou nenhuma desculpa oficial, e logicamente a edição botou só gente feliz e sorridente no episódio, ainda que esses VTs não tenham sido nem de perto tão animados quanto costuma ser na maioria das versões. Lógico que, pensando friamente, esse fuá todo não aparece no episódio e teria pouco impacto na impressão do programa como um todo, mas MUITA gente reclamou da mesma coisa, a imprensa noticiou, e, se a primeira impressão é a que fica, a da programa ficou bastante manchada.

De qualquer modo, esse não foi o principal problema do programa. Como eu disse ali em cima, um dos principais argumentos do The X Factor é a capacidade de emocionar; não só “emocionar” no sentido de lacrimejar ou qualquer coisa do tipo, mas na ideia de SENTIR as emoções que os “personagens” daquela “trama” nos devem transmitir. E, a princípio, isso ficou muito em dívida. Ainda que, em teoria, o programa brasileiro segue quase à risca a fórmula do original, aparentemente ainda não encontrou o mesmo tom que o britânico tem e que nos convence de tudo aquilo. Muito provavelmente a resposta disso é um conjunto de edição just ok, jurados just ok, e apresentação just ok. Eu só não sei se just ok é suficiente, mas (segura o chavão) é o tempo que dirá.

The X Factor Brasil - Estreia (Di Ferrero)

No painel de jurados, tivemos uma combinação pouco ortodoxa entre o axé de Alinne Rosa, o swag (?) de Di Ferrero, a experiência de Paulo Miklos e o know-how de Rick Bonadio. Em teoria, essa bancada é um trem descarrilado rumo a uma mina cheia de dinamites: um desastre em potencial. Na prática, foi só… just ok. Não rolou uma química espontânea, a interação toda entre eles parecia bastante artificial, e as participações individuais foram pouco empolgantes. Alinne Rosa está fazendo a linha tresloucada que parece reservada para as mulheres no mundo dos realities musicais no Brasil, porém faltou um pouquinho da espontaneidade que minha pesquisa sobre ela provou que ela tem de sobra. Miklos estava meio morno, em média assertivo mas sem muita expressividade. Rick, que já teve que dividir o papel de bad judge com Marco Camargo no falecido Ídolos, se provou muito menos bad judge que poderia e acabou sendo apenas.. chato. Se tivéssemos que escolher um elo fraco, certamente seria Di Ferrero, que estava investidérrimo na carreira de mosca morta e, quando resolveu falar, foi bem mais ou menos.

The X Factor Brasil - Estreia (Fe Paes Leme)

Outro elo fraco, por assim dizer, foi Fê Paes Leme. Não que ela tenha feito um trabalho ruim, mas ela acabou subutilizada e ficou tudo por isso mesmo. Ali naquela ceninha que rola na “coxia” enquanto o candidato se apresenta, ela se resumiu a narrar os momentos surpreendentes que eventualmente aconteciam no palco, e a função dela não era bem essa. Ela se provou uma apresentadora consideravelmente boa na primeira temporada do SuperStar, então nada mais justo que esperar bastante dela nos Shows Ao Vivo, quando ela, mais do que a edição, tem a função de dar ritmo ao programa.

O último problema desse primeiro episódio, e talvez o mais sério de todos, foi o nível das apresentações. Não sei como foi o processo de escolha das audições que iriam pro ar (e muito menos a ordem), mas a impressão média é que o nível de exigência foi baixo, já que pouco ou quase nada se salvou da baguncinha vocal que foi esse primeiro episódio. Não dá pra saber ainda até que ponto o público se convenceu junto com os jurados de que certas apresentações foram o suprassumo do talento vocal, mas se eu tivesse que apostar eu aposto que a recepção foi média. E, considerando o altíssimo nível de exigência que os relatos sobre as audições relatavam, é muito difícil de acreditar que esses foram os melhores cantores entre os 10 mil que apareceram lá (e pode segurar que já vão vir as teorias da conspiração que já tava tudo marcado e que o programa tem até vencedor).

The X Factor Br - Estreia (Alessandro Maia)

Entre as audições, talvez as que mais se destacaram tenham sido a de Luan Lacerda e sua versão gospel de Trem das Onze, a primeira boyband do programa, Slow, que investiu nas raízes e foi de Backstreet Boys e One Direction  e a cota sertateen genérico-arrumadinho de Alessandro Maia e a interpretação de Cê Que Sabe. Todas escolhas bastante, hm, justas. Luan certamente exagerou no vocal numa música que se justifica pela emoção na letra, mas emocionou o painel (?) e todo mundo e passou com louros e glórias. A bandinha desafinou que só a misericórdia (Rick Bonadio nos deu a honra de perceber isso) mas parece ter um pouco de potencial – a mini acapella de Story Of My Life serviu pra isso -, e a categoria dos Grupos não foi criada à toa. Sobre Alessandro, já esqueci inteiramente da performance dele, mas seria estupidez subestimar o poder de um sertateen em pleno 2016.

Talvez os dois maiores destaques tenham vindo com as mulheres. Tamires Alves se apresentou uma performance de Listen e, bom, vamos lá. Uma das coisas que eu costumo dizer é que certas músicas e certos artistas você só canta num reality se você tiver a certeza de que você CANTA. Listen é com certeza uma delas. Nem todo mundo é Alexandra Burke, e certamente nem todo mundo é Beyoncé, então chegar numa primeira audição com uma performance de uma música DESSE tamanho pode ser sua coroação ou sua derrocada definitiva. O histórico de Listen é positivo (Sam Bailey, na pavorosa 10ª temporada do X Factor UK, cantou Listen na audição e acabou ganhando), mas é sempre um risco. Tamires assumiu esses risco, coerente com sua paixão pela música “internacional”, e fez uma performance até que boa. Foi muito genérico? Foi. Rolou uma desafinada aqui e ali? Aham. Mas considerando o patamar que o programa tinha estabelecido até ali, foi acima da média, digna da primeira (e única) levantada-da-cadeira-com-palmas-lentas até agora. E sim, Tamires sai daqui com potencial de final. Que Deus nos ilumine.

O outro destaque foi as The Sweet Dreamers, que foram responsáveis pela presença de um aspecto maravilhoso das franquias de X Factor mundo a fora: o DRAMA. A performance em si foi um pequeno desastre, com a combinação falta de harmonia + coreô basicona + música errada não favorecendo nem um pouco a dupla. Mas – e é nisso que o X Factor ganha de lavada de qualquer outro formato – o que estava por trás disso tudo dominou a edição, e tornou tudo mais interessante. A banda já vinha de um abandono, e a bancada forçou a dupla remanescente a cogitar um outro rompimento. As gatas são irmãs, caramba! Rolou aquela torta de climão saborosíssima e ainda por cima fomos presenteados com um gancho (a Band e as meninas já soltaram spoiler, mas a gente finge que não viu), que não é coisa das mais comuns no X Factor mas que aqui funcionou muito bem.

O resumo da ópera é o seguinte: foi morno. O programa tem muito arroz e feijão para comer se quiser se tornar um verdadeiro sucesso e, mais importante, criar novos grandes sucessos para a indústria fonográfica brasileira, que anda carente de diversidade – em termos de mainstream – e que faria bom uso de uma plataforma como essa. Além do que, apesar do ditado, nem sempre a primeira impressão é a que fica. Só ver pelo Masterchef, da mesma emissora, que teve uma recepção morna no início e hoje é um dos maiores fenômenos da história recente da TV. Então vamos todos dar as mãos e assistir o episódio de quarta-feira, nem que seja para dar boas risadas juntos no Twitter.

Bônus Batom Gótico Suave da Alinne Rosa: um salve pra fofa da Jéssica Passos, que trouxe sua arte pra vender no palco do programa e fez um trabalho legal com sua interpretação de Cazuza, mas por algum motivo não foi aprovada.

Bônus Batom Gótico Suave da Fernanda Paes Leme: Maurício Meirelles, ao contrário de sua amiga hostess, não foi subutilizado e meio que funcionou a tentativa de botar o falecido CQC no meio do programa. Só aquele Pré Factor (que nome péssimo) que não, né.

Bônus Pose de Apaixonado do Paulo Miklos: Ludmilla, Tiago Iorc, Péricles e Fernanda Abreu serão convidados do programa e auxiliarão os jurados na fase do Centro de Treinamento. Não é por nada, mas fiquei com a leve sensação de que os convidados dariam um painel melhor que o próprio painel.

Bônus Cala a Boca Bonadio: depois da apresentação de Tamires, Rick Bonadio disse que “nem a Beyoncé” fazia aquilo. Segue evidência de que ela realmente não faz aquilo, ela faz infinitamente melhor:

Bônus Anfiteatro da Escola: antes de mais nada a gente tem que agradecer a Band por não ter dado uma de Globo e suprimido os dois episódios semanais num só. Deus que me livre ter que votar correndo sem prestar atenção e todas as desgraças que acontecem no The Voice Brasil e seu derivado kids.

O The X Factor Brasil vai ao ar todas às segundas e quartas, às 22h30, na Band, com reprises às terças e quintas, às 20h30, na TNT.


Gustavo Soares

Estudante de Cinema, fanboy de televisão, apaixonado por realities musicais, novelões cheios de diálogos e planos sequência. Filho ilegítimo da família Carter-Knowles

São Paulo - SP

Série Favorita: Glee

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

×