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This Is Us – 2×10 Number Three

Por: em 30 de novembro de 2017

This Is Us – 2×10 Number Three

Por: em

“Eu explicaria que eu não era nenhuma ameaça. Que eu só gostaria de fazer parte da sua vida, da maneira que eles achassem mais confortável… Mas aí eu vi as bicicletas e fiquei supondo qual seria a sua; imaginei que você tinha um apelido, que eu não sabia qual era, de uma vida com a qual eu não tinha nenhum elo. E foi assim que eu percebi que tinha acabado. Quantas voltas você teria dado naquela bicicleta, quantas aventuras você teria vivido com os seus irmãos? E quem era eu para lutar contra os desejos da sua mãe?”

Quis começar essa review com essa frase de William porque acho que ela resume muito o dilema interno que Randall viveu em Number Three. O filho número três, o mais inteligente, amoroso, bondoso, compreensível. O que enfrentou questões completamente desconhecidas pelos pais. O que falou e andou ao mesmo tempo. O que sempre buscou aprovação. O que gosta de previsibilidade e metas. E, se a vida é mesmo como um Pac Man (gente, como eu amei essa comparação) e nós só pegamos caminhos diferentes para enfrentar os mesmos fantasmas, era mais do que certo que nosso personagem mais amado tivesse que lidar, mais cedo ou mais tarde, com algumas questões bem recorrentes em sua vida.

Uma delas diz respeito às escolhas e encaixe, a ter e perceber o seu lugar no mundo. Acompanhamos a saga de Randall rumo à Howard, uma famosa universidade HBCU (Historically Black Colleges and Universities), localizada em Washington. Para Jack e Rebecca era mais que óbvio que o filho prodígio em matemática e ciências iria preferir Harvard, mas ao longo do dia que passaram na universidade, Jack foi percebendo que não. Randall estava encantado com o lugar, com os novos amigos, com as meninas, a biblioteca, mas especialmente, com o fato de sentir-em em equilíbrio, dentro de um campus de esmagadora maioria negra.

Reprodução/NBC

Ao contrário do que viveu durante toda a sua vida. Howard era o local onde Randall se sentia completo, igual, a vontade. Howard não dava a sensação de desequilíbrio, ou não pertencimento, que ele confessou ter sentido durante toda a sua trajetória acadêmica e pessoal. Howard era enfim, o seu lugar. E, mesmo não conseguindo disfarçar muito a sua surpresa/desapontamento com essa escolha, Jack rapidamente e com toda a sensibilidade que lhe é característica, captou a necessidade do filho e vestiu também essa camisa. E, ainda que soubesse que jamais conseguirá estar no lugar do filho e sentir suas dores, tentou compartilhar com ele uma vivência em que também se sentiu desconectado e à parte do resto do mundo.

Desde o início do dia, antes mesmo de pisar pela primeira vez naquele campus, Randall já havia feito sua escolha. Mas, ele não seria Randall se não precisasse de toda a compreensão e aval dos pais. Afinal, o garoto que nunca decepcionou ninguém e surta só de cogitar essa possibilidade, só estaria em paz, se os seus pais também estivessem. Por um momento, torci para Jack ser contra, tentar impor sua visão, só para ver o Randall se rebelar e, pela primeira vez em sua vida, tomar uma decisão pensando apenas em si próprio. Mas, aí caí na real que se isso tivesse acontecido não estaríamos falando do nosso Jack, muito menos do nosso Randall. Aquela relação é amorosa, verdadeira e intensa exatamente por todo esse respeito, carinho e orgulho de ambos os lados. Jack e Becca confiam e amam plenamente Randall, independente de qualquer coisa. E isso é a coisa mais linda e tocante de This Is Us.

Divulgação/NBC

“Eu tinha 25 anos quando fui para o Vietnã. Eu não falo muito sobre isso, eu sei. Nem sua mãe sabe muito do que eu fiz, o que eu vi. Foi muito difícil para todos nós que estávamos lá. Muito difícil. E quando eu voltei, eu também estava desequilibrado. Sem lugar, independente do lugar que eu fosse. Você vai achar seu equilíbrio, Randall e depois vai perdê-lo, e então, achá-lo de novo. E você vai fazer muitas escolhas, mas todas que fizer serão espetaculares, porque você é espetacular. Aproprie-se disso.”

O conselho de Jack aconteceu há 20 anos atrás, mas senti que foi guiado por ele e também inspirado em sua própria vivência, que Randall enfrentou seu grande desafio atual: a decisão pela guarda de Deja. Sei que não acompanhamos a evolução e o estreitamento dos laços entre Deja e a família Pearson (e senti muita falta disso), mas as poucas cenas que vimos neste episódio, nos deram a certeza que isso efetivamente aconteceu. E é neste contexto de paz familiar e harmonia que somos surpreendidos pela chegada de … Shauna. Assim que ela apareceu na casa dos Pearson, querendo levar a filha embora, percebi que por mais que o Randall tivesse ameaçado lutar até o fim pela guarda da menina, ele não conseguiria levar isso adiante.

E não conseguiria muito mais pelos links que fez com o seu passado, do que por qualquer crença atual ou medo de que a menina pudesse ser infeliz. Ele passou por isso. E não teve escolha. Ele podia ter tido a oportunidade de conviver por toda a sua vida com o seu pai biológico, mas foi privado disso por uma decisão unilateral da sua mãe. Confesso que na conversa entre Randall, Beth e a assistente social, fiquei um pouco decepcionada com a postura irracional dele, totalmente contrária a de alguém que sentiu isso na pele. Simplesmente não estava “dando match” esse discurso ameaçador, encontro com advogado, Beth apoiando. Não, estava mesmo tudo errado.

Reprodução/NBC

Randall não é perfeito e, assim como todo mundo, ele precisava de um tempo para absorver a frustração de um projeto não ter tido o fim que ele planejou. E o processo dele percebendo isso foi muito … fofo. Não só pelo diálogo com o William (que abriu essa review), como pelas inúmeras recordações que isso trouxe. Randall sabia que nem ele, nem Beth, nem ninguém tinha o direito de interferir na relação entre Deja e sua mãe. De privá-las desse convívio. E sabia também que o vínculo de afinidade entre as duas era maior que qualquer coisa que ele, Beth e sua família perfeita podiam oferecer.

Ainda bem que, como disse a assistente social, esse tipo de decisão é tomada baseada no presente, porque se fosse diferente, partiríamos do princípio que as pessoas jamais mudam e não haveria segundas chances. E talvez muitas famílias seriam separadas por isso. Claro que deixar Deja com a mãe, que tem um histórico de problemas considerável, é uma decisão que envolve certo risco. Mas viver é isso aí. A menina não trocaria o conforto daquela “big house e fancy car” pela dádiva de compartilhar sua vida com a sua mãe. E ponto final. Para o bem ou para o mal, o lugar que ela se sente parte, que ela reconhece como seu é ao lado de Shauna. E foi muito, muito bacana Randall e Beth terem se dado conta disso antes de partir para algo mais sério e desgastante, como uma disputa judicial.

This Is Us vai dar uma pausa, assim como aconteceu na temporada 1 e volta em janeiro. Eu me despeço de vocês aqui, com um beijo de Feliz Natal e ótimo Ano Novo. Nos vemos em 2018!! Ah, não se esqueçam de me contar o que acharam de Number Three.


Observações:

  • Assim como o Randall, eu também passo mal no quanto Beth é liiinda!;
  • Não falei nada sobre a presença do Kevin no episódio porque detestei a condução das coisas. Mais uma vez, ele vai ser só o mimado irresponsável, que colocou a vida da sobrinha em risco;
  • Achei super pertinente o posicionamento firme de Shauna, recusando a ajuda de Randall. Acho que eu faria a mesma coisa.

Renata Carneiro

Jornalista, amante de filmes e literalmente, apaixonada por séries. Não recusa: viagem, saidinha com amigos, um curso novo de atualização/aprendizado em qualquer coisa legal. Ama: família, amigos, a vida e seus desdobramentos muitas vezes tão loucos Tem preguiça: mimimi

Belo Horizonte/MG

Série Favorita: Breaking Bad

Não assiste de jeito nenhum: Two and a half Men

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