Colorida ao ofuscante, leve e divertida com assuntos sociais sérios e passíveis de discussão, Unbreakable Kimmy Schmidt (UKS) é uma grata surpresa original da Netflix, trazida ao mundo a fim de torná-lo mais feliz e otimista mesmo nas piores situações. Criada por Robert Carlock e Tina Fey, repetindo a parceria de sucesso de 30 Rock e Saturday Nigth Live, tem como premissa a história de uma jovem que se encontrava no cenário perfeito para se tornar traumatizada e negativa com a vida, mas, ao contrário do que se esperava, decide dar a ela uma continuidade planejada quando a mesma foi interrompida, numa saga brilhante e otimista ao extremo da maneira que sempre quis: na grande cidade de New York.

A premissa inicial da série de maneira alguma denuncia a sua comicidade. Sequestrada ainda na adolescência por um sociopata pastor apocalíptico e mantida num bunker, na companhia de mais três jovens durante 15 anos, em que sofreram diversos tipos de abusos, a vida de Kimmy Schmidt (Ellie Kemper) ganha novos ares quando ela e suas companheiras são resgatadas e trazidas de volta para o mundo que acreditavam ter acabado. Todo o cenário trágico envolto a situação é visto pela melhor ótica por Kimmy, que munida com uma razoável quantia em dinheiro, ganho pela publicidade em cima do seu confinamento e resgate, muita coragem e vontade de viver a vida bruscamente pausada, se muda e dá início ao seu futuro.

Titus Andromedon (Tituss Burgess), aspirante ator de musicais da Broadway, é a melhor parceria que Kimmy poderia encontrar em NY. Um personagem que é a cara da cidade, sobrevivendo em um trabalho medíocre enquanto não realiza o seu sonho; Titus e Kimmy se complementam, o primeiro é esperto e pretensioso, já a outra é de uma ingenuidade e integridade difíceis de comprar a primeira vista. Enfim, Andromedon é um acontecimento, suas aparições são um prenúncio de muitas loucuras e risadas.

Ao decorrer dos episódios somos agraciados com Kimmy seguindo com a sua vida e construindo relações. Conseguindo um emprego como babá do filho da inacreditável Jacqueline White (Jane Krakowski), socialite de meia idade que exala a riqueza do marido, não possui nenhuma habilidade ou relação próxima com a própria prole, em alguns momentos chega a soar nonsense, forçada e artificial, mas que acabamos nos acostumando após algum tempo. Lilian (Carol Kane) é uma comicidade a parte, dona do apartamento que Titus e Kimmy dividem, a senhora já de idade é autêntica e zelosa pela vizinhança em que vive há muito tempo, desde que tudo era tomado pela criminalidade e bastante perigoso, por esse motivo é relutante em aceitar as novidades do mundo moderno, os modismos, naquela região.

O formato da série é um ponto interessante, como os próprios nomes dos episódios sugerem, em cada capítulo a personagem que dá nome ao show é encorpada a alguma situação rotineira, ou não, como encontros românticos, construção de amizades, enfim. O verdadeiro atrativo da série é a própria Kimmy verdadeiramente inquebrável, que nem de tudo é ingênua, sendo a questionadora das ”topeiras”, desconfiando das atitudes e ideários falsos do pastor, a personagem é ótima, seu otimismo e senso de justiça são contagiantes, assim como sua felicidade com os prazeres mais simples. Outro ponto forte são as referências, já que, a moça passou 15 anos presa e perdeu muita coisa, vê-la apegada a modas/utensílios antigos e se surpreendendo com as tecnologias atuais é impagável.

Unbreakable Kimmy Schmidt entra para o rol das ”novas comédias” aquelas que não se limitam mais ao confortável que são garantia de risadas, mas sim, das que conseguem satirizar as piores e mais pesadas situações possíveis, já imaginou perder anos da sua vida em cárcere privado e descobrir que tudo não passava de uma enorme mentira, e ainda assim ”vomitar arco-íris” como Kimmy faz? UKS tira ouro de pedra, diverte, emociona, e dá de brinde uma dose de otimismo tão escasso nestes dias.

Com vocês a promo mais representativa da série. Estrelando, Titus Andromedon em Peeno Noir:

Por fim, o melhor theme song de todos os tempos: