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When We Rise – 1×02 Part II / Part III

Por: em 14 de março de 2017

When We Rise – 1×02 Part II / Part III

Por: em

Quando Dustin Black disse que When We Rise contaria a história do movimento LGBT, a promessa é que nada seria poupado e que tudo seria mostrado com a maior fidelidade possível, sem tentar proteger nenhum dos lados da batalha. É com o coração ferido, mas cheio de orgulho que devo dizer que ele cumpriu sua promessa com louvor, mesmo mostrando um dos momentos mais tristes para a comunidade e que ainda causam estigma nos dias de hoje.

Pela primeira vez o foca da narrativa muda, o que é bom para que possamos nos identificar e nos apegar aos outros protagonistas. Nós acompanhamos os eventos que antecedem a eleição de Harvey Milk pelo olhar de Roma Guy. O legislador conservador John Briggs quer aprovar a Proposition 6, lei que baniria gays, lésbicas e possivelmente qualquer pessoa que apoiasse os direitos LGBT de trabalharem em escolas públicas da Califórnia. Essa lei atingiria diretamente o Prédio das Mulheres, onde Roma (agora envolvida com Jean) e Diane ajudaram a instalar uma creche, assim como Richard (Sam Jaeger, de Parenthood), parceiro de Ken que mantém um casamento de fachada para manter seu emprego. Chega a ser deprimente acompanhar o que uma pessoa precisava fazer para manter as aparências para a sociedade. É óbvio que Ken é apaixonado por Richard, mas o medo dele é tão grande que ele não consegue se ver sem aquela vida o protegendo, e não é possível julgá-lo por isso.

A melhor alternativa para todos é se unirem politicamente e, juntos, elegerem um representante que pudesse derrubar essa lei. É muito bom acompanharmos a forma como Cleve consegue envolver Roma e Ken na campanha de Milk, principalmente pela resistência inicial ao apoio de um candidato homem. Mas são as pequenas conquistas pessoas as mais interessantes de acompanharmos, o momento em que Cleve consegue assinar o aluguel de seu primeiro apartamento com os amigos, ou quando Diane, após fazer uma inseminação artificial caseira descobre que está grávida, ou quando Ken assume publicamente que é homossexual durante a manifestação contra a Proposition 6 em homenagem a Richard. Milk ganha a eleição e a lei não é aprovada, mas a felicidade de todos dura pouco.

A noite após o assassinato de Harvey Milk ficou conhecida como White Nights. Quando seu assassino confesso, Dan White, não foi condenado por um júri de homens brancos cristãos, deu-se início ao White Night riots. A representação da revolta da população do Distrito de Castro foi sublime. A destruição que Cleve e seus companheiros cometeram não era apenas um ato de rebeldia, era um grito de desespero, um sinal da dor que sentiam pela perda de um irmão e o sentimento de ódio por saber que, não importa o quanto estivessem certos em suas lutas, eles jamais seriam vistos como iguais. A fuga de Roma não deve ser vista como perda de coragem, mas por aquela não ser sua luta, e ela saber respeitar a decisão de Cleve. E só assim ela pode juntar forças para voltar a lutar outra vez.

Quando a narrativa muda para o ponto de vista de Ken Jones, o tipo de luta também muda. Estamos em um cenário político um pouco mais favorável para os LGBT. São Francisco parece ser uma cidade um pouco mais receptiva e quem antes tinha medo de se assumir, agora pode viver suas vontades. E é por isso que disse que não pouparam nenhum lado para contar essa história. Durante o início da epidemia do HIV (que ainda não tinha esse nome e era conhecido como Sarcoma de Kaposi), um dos comportamentos que ajudou sua rápida propagação foi estilo de vida romântico mais aberto que casais gays tinham.

Na série, vemos Ken e Richard, que vivem juntos, mas frequentam saunas para terem relações extraconjugais, assim como Cleve e seus amigos, que não querem relacionamentos sérios, apenas se divertir com o maior número de pessoas possível. Quem tem um ponto de vista mais conservador vai julgá-los como promíscuos e merecedores de quaisquer mal que lhes ocorra. Em primeiro lugar: desejar o mal ao próximo não é nada cristão; segundo: cada pessoa deve ser dona de seu próprio corpo e seu relacionamento. Se Ken e Richard decidiram, em comum acordo, que podem dormir com outras pessoas, quem somos nós para julgá-los?

Bobbi Campbell (Kevin McHale, de Glee) é o primeiro paciente a ser oficialmente identificado com Sarcoma de Kaposi, e o modo como ele é tratado nos locais onde costumava frequentar, assim como as consequências da notícia são devastadoras. Se antes ele era amigo de todos, agora não passa de um pária, mas nem mesmo sua dor o impediu de ser um exemplo para que todos busquem ajuda e se testem. Gostei muito de Whoopi Goldberg como Pat Norman, funcionária do Departamento de Saúde de São Francisco, e entendo sua posição. Enquanto ela não tinha informações suficientes para passar a seus amigos, também não poderia assustá-los com o mínimo que sabia e que já era devastador.

Quando as mortes começam a acontecer é que sentimos que a batalha nunca será realmente vencida enquanto não conseguirmos erradicar essa doença e, junto com ela, o estigma de que apenas homens gays se infectam com HIV. Meu maior momento de tensão foi quando Diane se furou com uma agulha ao tentar colocar um cateter em um paciente em convulsão, mas ainda bem que não era na ala de infectados. Como ela bem disse, se a doença estivesse focada em um grupo de heterossexuais, o governo já teria redobrando esforços para tentar conter a contaminação.

A morte de Marvin me pegou totalmente despreparado. Enquanto estava me focando na confusão amorosa de Roma, na ajuda que Ken e Richard tentavam dar ao jovem Daniel, ou na tentativa de assassinato de Cleve, Marvin tem um grave caso de meningite decorrente do HIV e não sobrevive. O que vimos nessa segunda parte foi que, mesmo com uma visão de amor físico mais ampla, a visão de amor do grupo LGBT é a mesma de todos os outros, seja ele romântico ou fraterno, e eu acho que é nessa definição que a série tenta focar nossa batalha.

E o episódio termina com um sabor amargo. Enquanto Cleve encontra um novo amor, perde um grande amigo. Roma finalmente entende seus sentimentos e resolve se entregar à paixão de Diane, mas Ken e Richard descobrem que ambos são HIV positivos. Não é por que não sabem se sairão vitoriosos ao final que vão desistir da batalha. Ken e Richard enfrentarão seus futuros com as cabeças erguidas e juntos. Foi um final bem realista, mas muito deprimente, principalmente levando em conta que se passa no início da década de 80, onde a medicina ainda não havia desenvolvido medicamentos que prolongariam a vida de portadores de HIV como hoje.

Foi um belo episódio, com um final bem tocante. Minha única reclamação é que, no final de tudo isso, o Sam Jaeger não deu nem uma bitoca no Jonathan Majors. Quer dizer, se não queria dar beijo gay era melhor nem fazer a série! Tubo bem que ele apareceu sem camisa acariciando o cara, mas não foi o suficiente para acalmar meus ânimos de leitor Arlequim!


O que vocês têm achado de When We Rise? Deixem suas opiniões nos comentários!


Paulo Halliwell

Professor de idiomas com mais referências de Gilmore Girls na cabeça do que responsabilidade financeira. Fissurado em comics (Marvel e Image), Pokémon, Spice Girls e qualquer mangá das Clamp. Em busca da pessoa certa para fazer uma xícara de café pela manhã.

São Paulo / SP

Série Favorita: Gilmore Girls

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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