Spoiler Alert!
Este texto contém spoilers leves,
nada que estrague a série ou a sua experiência.
Não é de hoje que vem sendo apresentado ao público de séries mais daquilo que a gente já vê cotidianamente, já se tornaram escassas as produções que ousam navegar em mares desconhecidos e inovar em suas propostas, mais raras ainda são as que conseguem aliar o inexplorado a qualidade de fato. Somos saturados por reebots, remakes, adaptações, franquias, spin-offs, enfim, sem nenhum esforço notamos um padrão e a evidente falta de criatividade e originalidade. Levando isto em consideração, a discussão proposta se refere a perceptível hegemonia de alguns escritores/autores em determinados canais, estes exercem certa predominância na programação com as suas produções que geralmente seguem a mesma linha padrão de sucesso na premissa.
Na CW nós temos o trio de sucesso Marc Guggenheim, Greg Berlanti e Andrew Kreisberg, parceiros nas produções de Arrow, The Flash, Legends of Tomorrow e Supergirl, além de mais alguns filmes no mesmo universo. Na ABC as quintas feiras pertencem a ela mesma: Shonda Rhimes e a sua produtora ShondaLand, responsável por Grey’s Anatomy, seu finalizado spin-off Private Practice, Scandal , How To Get Away With Murder e a mais recente The Catch. O número de produções, com ao menos um dedo, de Dick Wolf impressionam, são mais de 40 em toda a sua carreira! Na NBC ele é especialista em procedurais, sendo o mesmo atualmente responsável por todas as franquias de Law and Order, Chicago Fire, Chicago PD, Chicago Med e Chicago Justice.
Para quem é fã dos limitados gêneros explorados pelo produtor as tramas passadas na cidade de Chicago são um prato cheio, Dick conseguiu o feito engatar uma franquia de quatro séries que se passam num limitado universo e ambiente, com histórias e/ou personagens que vez ou outra circulam entre as produções. Wolf obteve êxito em sua premissa, reciclando com sucesso mais do mesmo, transformando Chicago em uma mina de ouro.
Chicago Fire
A série mãe, originadora de todas as outras, Chicago Fire acompanha a vida e os atendimentos realizados pelos bombeiros e paramédicos do 51° Batalhão do Corpo de Bombeiros de Chicago. O drama narra as situações e dificuldades numa profissão tão desafiadora e complicada, em que os personagens estão passíveis a arriscar as próprias vidas para salvar a dos outros. Chicago Fire é um suma uma série inteligente e bem fechada, com personagens mais ou menos interessantes e histórias que prendem o telespectador, Dick apela para o lado emocional da coisa e transita em zonas seguras, sem arriscar muito, e alcança tanto sucesso que deriva mais três séries no mesmo universo.
Chicago PD
Primeiro spin-off da franquia, Chicago PD narra as ocorrências, investigações e o cotidiano do 21° Distrito do Departamento de Polícia de Chicago com enfoque maior na Unidade de Inteligência. Drama em que Wolf se atreveu a abordar temas mais pesados, como, o tráfico de drogas, assassinatos, crime organizado, entre outros, além do ambiente mais perigoso a vida pessoal dos policiais também é bem densa e cheia de tensões. Com personagens fortes, situações que questionam a moralidade e ética do homem, um alívio cômico aqui e acolá, e uns casais que torcemos para que fiquem juntos, Chicago PD cumpre muito bem a sua premissa, mantendo uma estabilidade invejável e necessária às outras séries da franquia.
Chicago Med
A mais recente produção ao longo dos seus 18 episódios ainda não mostrou a que veio, ambientada num hospital em Chicago acompanha os dia a dia da equipe de saúde, enfermeiros, médicos, enfim, que enquanto salvam vidas lidam com os seus próprios dramas pessoais. Apesar de ter tido uma temporada que oscilava entre o ruim e o mediano prevejo que a série possui capacidade para se tornar tão boa quanto as outras, considerando que possui alguns personagens e histórias interessantes a explorar e a audiência de um público que já foi fisgado pelas duas primeiras e se sente na obrigação de acompanhar mais uma derivação, só para não perder nenhum acontecimento.
Perceberam o padrão? Poucas alterações e adaptações são realizadas de uma série para a outra, todas seguem a mesma linha estrutural, a trama focada em determinado ambiente de trabalho que permite explorar as relações pessoais dos personagens, é receita pronta para pelo menos alcançar uma satisfação por parte do público, isso ainda sem contar as similaridades com uma outra franquia do mesmo produtor, e sem citar a próxima série ambientada em Chicago com a estreia prevista para os próximos meses, é a Chicago Justice, não é preciso nem explicar sobre o que se trata. Estaria a mina criativa de Dick Wolf finalmente se esgotando depois de tantas produções?
Eis que não, prezados leitores, o que ocorre é na verdade uma situação de conformismo e consumismo do próprio público alvo, aceitamos de bom grado mais do mesmo a cada summer season, somos receosos com o novo, com os cancelamentos e encerramentos repentinos e/ou claramente necessários, mesmo que a série já possua um número impressionante de temporadas e a história não tenha mais para onde ir. A hegemonia producional é outro ponto a ser levado em consideração, alguns canais possuem quase que metade da sua programação pertencente a dois ou três produtores, é o caso da CW, ABC e NBC, esta predominância acaba por causar uma diminuição na diversidade dos temas das séries, minando o aparecimento de novos talentos e sucessos de que tanto andamos necessitados nestes tempos.