Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

A lenta aceleração de Mr. Mercedes

Por: em 16 de outubro de 2017

A lenta aceleração de Mr. Mercedes

Por: em

O primeiro episódio de Mr. Mercedes começou acelerado, atingiu seu ápice logo nos primeiros minutos e foi reduzindo o ritmo gradativamente até o fim – um caminho atípico. A temporada inteira, por sua vez, seguiu o padrão mais comum e cozinhou a trama em banho-maria por bastante tempo até entrar em ebulição nos últimos três episódios. Mr. Mercedes foi de 0 a 100 km/h… em dez semanas.

Para uma temporada de dez episódios, eles até que demoraram bastante para esquentar os motores, deixando a sensação de que a história poderia ser mais bem contada em oito episódios, talvez. É claro que algumas tramas ajudaram a dar solidez e mostrar as motivações e vulnerabilidades dos personagens, mas muita coisa ali pareceu dispensável, tanto no ambiente orbitando Bill, quanto no ambiente orbitando Brady.

Reprodução Audience Network

Do lado de Bill, Janey foi fundamental para reconectar o detetive ao caso do Mercedes, para introduzir Holly à trama e, com a sua morte inesperada, iniciar a caçada que tornou os últimos episódios muito melhores que os primeiros. Mas a personagem em si não era interessante, seu romance com Hodges não tinha muita química e o triângulo amoroso com Ida foi bem desnecessário. Jerome era carismático, inteligente e fez uma dupla incrível com Holly, mas poderiam ter economizado um pouco no drama de ele fazer ou não fazer parte da investigação.

O próprio Hodges passou a maior parte da temporada como um hamster correndo na rodinha sem sair do lugar. Brady tinha uma vantagem absurda sobre o detetive e controlou o jogo completamente até a morte de Janey – o grande ponto de virada para Bill, que voltou a ter credibilidade com a polícia e conseguiu retomar o caso. Sua relação problemática com a filha ajudou a construir a frustração e amargura do personagem, mas o flashback e a visita em que eles se encontraram também pareceram dispensáveis.

Do lado de Brady, antes de qualquer coisa, faltou uma boa dose de camuflagem ao vilão. Se não tivesse falecido, Anton Yelchin seria o intérprete do Mr. Mercedes, e possivelmente uma escolha bem mais adequada para o papel. Brady não deveria ser o tipo de pessoa que você olha e imediatamente percebe que é perturbado das ideias. O cara vende sorvete para criancinhas no subúrbio e é o técnico favorito das idosas que não sabem mexer no computador. Ele deveria parecer inofensivo e acima de qualquer suspeita, e não ostentar aquele olhar maníaco o tempo inteiro.

Reprodução Audience Network

A relação doentia com a mãe incomodava muito, mas era extremamente necessária para entendermos o quão distorcida era a moral de Brady, e como ele vivia em um mundo próprio. Debbie era uma personagem difícil, que transitava o tempo inteiro entre a linha de vítima e algoz, entre a mãe deprimida, abandonada, alcoólatra, e a abusadora possessiva. Sua morte acabou tendo pouco impacto porque já era óbvio o que iria acontecer no instante em que Brady guardou a carne envenenada no congelador, mas a vibe Bates Motel de quando ele a manteve morta no quarto continuou sendo bem perturbadora.

A promoção frustrada de Brady, a demissão de Lou e o assassinato do cliente nazi foram pontos facilmente descartáveis na trama de Brady. Eles fazem sentido, mas não acrescentaram nada tão significativo à série e, sem eles, a temporada poderia ter fluído melhor.

Mas vamos falar sobre o que deu certo, porque muita coisa funcionou também. Holly. Que acerto enorme foi essa personagem, que fôlego ela deu à segunda metade da temporada, que leveza ela levou para a série! Holly destoava de todos os outros personagens, porque seus processos mentais e sua forma de agir eram extremamente singulares. Ao mesmo tempo, ela foi a melhor parceira de cena para Hodges, tanto como peça fundamental para investigar o caso do Mr. Mercedes, quanto para suprir a necessidade que ele tinha de cuidar de alguém como filha. Sabe todos aqueles personagens e plots que eu disse que foram desnecessários? Podiam transformar todos eles em cenas para a Holly.

Lou também deu muito certo trazendo algum resquício de humanidade, ainda que temporária, para Brady, e equilibrando o clima dos episódios com seu humor ácido e irreverente. É muito comum em histórias de psicopatas criarem aquele personagem que é muito próximo a ele e não desconfia de nada. Também é muito comum que esse personagem seja tão estúpido que o público fique torcendo para ele quebrar a cara quando descobrir. Lou ocupava esse espaço, mas foi tão boa que dificilmente alguém torceria para ela se dar mal no fim.

Reprodução Audience Network

Para ser justa, houve um episódio antes da morte de Janey que me deu fôlego para não abandonar a série: The Suicide Hour. Foi uma das poucas vezes em que vimos Bill e Brady interagindo e se provocando em “tempo real”, e uma das poucas vezes em que Hodges ganhou alguma vantagem sobre Hartsfield, mostrando que ainda tinha um bom detetive escondido ali em algum lugar. Deviam ter usado um pouco mais desse artifício.

Os últimos três episódios mostraram Bill e Brady chegando aos seus limites emocionais à medida que se aproximavam dos seus objetivos. Os dois sofreram perdas significativas – embora Brady não seja afetado pela morte da mãe de uma maneira tradicional – e os dois passaram a agir de forma muito mais impulsiva porque o tempo estava acabando. O jogo de gato e rato tinha acabado, ambos se tornaram leões.

Brady chegou muito perto de completar sua obra-prima, conseguiu despistar a polícia na sua casa, ganhar tempo enquanto acreditavam que ele estava morto e entrar pela porta da frente de um evento com bombas até os dentes e fotos suas espalhadas por todos os lados. Bill teve bons instintos para desviar a rota da feira de empregos para o lugar em que ele realente deveria atacar, mas também contou com a sorte de estar perto de onde Lou foi ferida para ouvi-la pedindo ajuda. No fim das contas, foi Holly que teve seu grande momento como heroína, aniquilando com as próprias mãos – e uma estátua de buldogue – o homem que destruiu sua família.

O desfecho da temporada foi tão agradável que a notícia da renovação de Mr. Mercedes caiu como um balde de água fria. É claro que sempre existe a possibilidade de sair algo bom, mas as chances de esticarem a trama desnecessariamente são muito maiores, principalmente no cenário em que as coisas terminaram. Com uma trama bem planejada, eles conseguiram fazer quatro ótimos episódios e seis episódios medianos, qual será a qualidade do novo arco?

Reprodução Audience Network

E você, o que achou da primeira temporada de Mr. Mercedes? Acredita que a segunda temporada pode manter o nível ou a história ficaria melhor se encerrando por aqui? Deixe seu comentário e até a próxima!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

×