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Chance – 1×06 The Unflinching Spark

Por: em 28 de novembro de 2016

Chance – 1×06 The Unflinching Spark

Por: em

The Unflinching Spark tem vários momentos importantes e talvez a trama sobre a filha de Eldon apresente o menos significativo deles, mas a história de Nicole nesse episódio tem o desfecho mais interessante para a série.

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Na manhã seguinte da “invasão” de D a casa de massagem e da batida do carro, Eldon é acordado pela ex-esposa que conta que Nic tinha um namorado por cinco meses e que agora os pais do menino a descreveram como uma stalker porque apesar do término do relacionamento, ela continua mandando mensagens e ligando para o garoto, além de visitas indesejadas a casa da família. Quando é perguntada sobre isso pelo pai, Nicole simplesmente responde que eles estão reagindo excessivamente a suas atitudes e muda o foco da conversa ao fazer uma análise neuropsiquiatra do ex-namorado. Segundo a menina, John sempre foi tratado como “bebê milagre” e por isso, ele é super dramático e confuso e que os pais dele estão a culpando pelo comportamento do filho.

Bom, acontece que as atitudes de Nicole não são um problema de ponto de vista como ela descreveu e as mensagens, telefonemas e visitas eram realmente excessivas. Eldon só nota isso quando os pais do menino descrevem o que Nic vem fazendo e não consegue ver nenhuma desculpa para o comportamento da filha. O silêncio do pai diante da verdade e as lágrimas que seguem essa reação inicial são tocantes, mas a cena do restaurante quando Nicole consegue enganar o pai é tão importante quanto.

Nicole entende que só pode mudar a situação se disser algo que o pai entende. Ele é um neuropsiquiatra, então ela traça um diagnóstico de John assim como o médico escreve sobre seus pacientes – e que aliás, ele estava fazendo mentalmente sobre a própria filha enquanto eles conversavam. A garota envolve e conquista o pai em uma armadilha que ela sabia que funcionaria. Dessa forma, a perspectiva de John perde a importância e acredito que a de Nicole também se torna irrelevante naquele momento. Eldon se interessa pelo que a filha tem a dizer porque é algo que ele quer ouvir.

O protagonista de Chance só enxerga o que está diante de seus olhos quando lhe é conveniente, quando os objetos completam a narrativa que ele já construiu em sua mente. É triste ver Nicole repetir os erros do pai – mesmo que em uma escala menor do que aquela que o levou a internação 20 anos atrás – mas essa é a forma que a série encontrou para revelar a Eldon o que já era óbvio aos espectadores há muito tempo: a sua dama não é a mulher em perigo que precisa ser salva.

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A outra maneira que o drama encontra para nos mostrar que a visão de Eldon pode estar errada é a abordagem das cenas “românticas” entre o personagem e Jaclyn. É evidente que é estranho que os dois se deixem levar pelos instintos – se é que posso chamar isso de instintos – e saiam por São Francisco se amando e ignorando a simples existência de Blackstone. Então, enquanto eles leem romances, tomam vinho, andam de mãos entrelaçadas e trasam; a trilha que sempre gera um sentimento de tensão não nos deixa embarcar no clima que está afetando o casal.

Infelizmente, Eldon não pôde ouvir a mesma música que nós e só vai notar que a versão de Jaclyn também está errada quando invade o apartamento de Blackstone e vê o perfume dela e a peça de xadrez que ela disse que comprou pensando nele.

Aliás, é interessante como Chance mantém sua atenção em objetos e momentos pequenos e não se estressa com demonstrações significativas de violência de seu mentor. Apesar da descrição perturbadora dos danos colaterais da invasão da casa de massagem, Eldon consegue manter a compostura.

Outra infelicidade do episódio é que o drama não pode se sustentar apenas com insights de seu protagonista e como qualquer episódio “forte”, The Unflinching Spark também tem seus OMFG moments e cliffhangers. Eldon tem o apartamente invadido e D aparece desacordado ao final do episódio. Chance tem cenas chocantes, mas é nos detalhes da composição de seus personagens que a série consegue impressionar.


Nathani Mota

Jornalista, nerd e feminista. Melhor amiga da Mindy Kaling, mesmo que ela não saiba disso.

Salto / São Paulo

Série Favorita: Sherlock

Não assiste de jeito nenhum: Two and Half Men

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