“A única coisa que separa mulheres de cor de qualquer outra pessoa é oportunidade. Você não pode ganhar um Emmy por papeis que simplesmente não existem”.

Essa triste – e verdadeira – constatação foi feita por Viola Davis, em seu discurso ao receber o Emmy de melhor atriz de série dramática. Viola foi a primeira mulher negra a ganhar esse prêmio. Dá para imaginar tamanha emoção? Depois de uma vida tão difícil, de tantos obstáculos, trabalhar com o que ama e ser reconhecida por isso – sendo mulher e negra.

Esses obstáculos começaram a aparecer bem cedo em sua vida. Nascida na Carolina do Sul, Viola foi criada na pequena cidade de Central Falls, Rhode Island. Sua família era muito pobre e foi a primeira família de negros da cidade; o que, obviamente, foi muito difícil para eles. Viola era perseguida, agredida – verbal e fisicamente – e, como consequência, era uma menina assustada que fazia xixi na cama durante as noites. Em uma entrevista ao News 8  ela conta que a semente para seu sucesso foi plantada ali, naquele ambiente. Viola assistia a muitos filmes – talvez como uma forma de fuga –, e foi na atuação de sua grande inspiração Cicely Tyson, em A autobiografia de Jane Pittman, que encontrou sua vocação. Ela começou a atuar ainda em Rhode Island, na escola, e depois na Rhode Island College. Com a ajuda de um programa preparatório para universidades, voltado a crianças em situação de pobreza, Viola conseguiu entrar para a famosa e badalada Juilliard, onde se formou.

A atriz começou a carreira profissional nos palcos da Broadway, na comédia Seven Guitars em 96. Sua primeira tentativa na TV foi na série City of Angeles, em 2000. Ela fez algumas aparições em outras séries, como Law & Order: SVU. Mas foi em 2008 que começou a marcar seu nome na história. No longa Doubt (Dúvida, 2008), a atriz interpreta a mãe de um menino que, ao que tudo indicava, havia sido violentado pelo padre da escola (Phillip Seymour Hoffman, maravilhoso nesse papel) e contracena com a – também incrível – Meryl Streep. Seu papel lhe rendeu uma indicação de atriz coadjuvante ao Oscar.

O outro grande papel (na telona) foi como Aibileen Clark na adaptação do livro de Kathryn Stockett, The Help (Histórias Cruzadas, 2011). A atriz interpreta uma doméstica que enfrentava a dureza de ser negra no sul dos Estados Unidos na década de 60. A história é pesada, triste, de cortar o coração, mas a atuação de Viola embeleza. É impecável, coisa linda de ver. Por esse papel, ela recebeu indicações de melhor atriz ao Globo de Ouro e ao Oscar.

Viola mantém sua vida pessoal bem reservada, longe dos holofotes. Ela é casada com o ator e produtor Julius Tennon há mais de 10 anos e juntos adotaram uma menina, Genesis, em 2011. Os dois têm uma produtora cujo objetivo é ajudar atores de cor a contar histórias que não são ouvidas – como as de minorias. Lindos, né? <3

Houve diversos outros papeis na trajetória da atriz, como em Ender’s Game – O Jogo do Exterminador, de 2013, e Get on Up (2014) sobre a vida de James Brown, mas o próximo grande papel de Viola foi (é) sem dúvida o atual: Annalise Keating.

Personagem: Annalise Keating

Que personagem maravilhosa é Annalise Keating. Com ela, quase nada é o que parece. Quando achamos que estamos entendendo algo sobre sua história, sua personalidade, ela nos surpreende. Não farei juízo de valor sobre How to Get Away With Murder, pois independente de estar boa ou não, o papel de Viola é único e sua interpretação primorosa.

Pouco sabemos sobre a personagem. Com o decorrer da série vamos descobrindo coisas sobre sua vida, mas, assim como Viola, Annalise é muito reservada (só os motivos que são um pouco diferentes, né? hahah). Por sua mãe descobrimos algumas coisas como, por exemplo, que seu nome de batismo é Anna Mae Harkness e que sua infância não foi nada fácil.

Também como a atriz, a professora de direito criminal cresceu em um ambiente de extrema pobreza, enfrentou abusos na infância – no caso da personagem, foram abusos sexuais, cometidos por um tio – e atingiu o sucesso profissional. Annalise se formou em direito em Harvard e tornou-se uma famosa e requisitada advogada criminalista. Ela defende os indefensáveis, digamos assim (ou os culpados, se preferir) e não tem limites para fazê-lo.

Annalise é inescrupulosa, manipuladora, adúltera e mentirosa. O que ela quer, ela consegue. Para ganhar um caso ela faz qualquer negócio, até ‘curvar’ as leis. Tem um marido meia boca, mas se satisfaz com um amante para lá de quente (e não sabemos bem as intenções dela nesse relacionamento). É uma filha ausente que parece querer esquecer do passado.

Por outro lado, é brilhante, fonte de inspiração para seus alunos, linda, sexy, elegante e carismática. Ela faz de tudo por seus pupilos (e também os faz sofrer um pouquinho heheh). Em alguns episódios vemos o respeito e amor que nutre pela mãe. E, com o tempo, descobrimos suas fragilidades, seu lado humano e delicado.

Annalise brinca na linha entre a vilania e anti-heroísmo. Amamos odiá-la, odiamos amá-la. Não é bem por aí?

Não importa o que faça, continuaremos querendo ver mais, saber mais sobre essa personagem fascinante.

Para finalizar: ‘todas ama’ Viola Davis! <3
Para finalizar II: Annalise também tem um caso com a Jean Grey, gente! How cool is that? 😛