Hugh Laurie está de volta à telinha… Bom, na verdade, não posso afirmar que o ator abandonou essa mídia já que Laurie tem um papel recorrente em Veep e marcou ponto como o vilão em The Night Manager, trabalho que lhe rendeu uma indicação ao Emmy este ano. Então, vou recomeçar: Hugh Laurie está de volta à telinha como um médico em Chance, nova série do Hulu que estreou no dia 19 de outubro.
Se você espera alguma semelhança entre House e o novo drama, spoiler alert: as coincidências terminam aqui. As duas séries carregam o sobrenome de seus protagonistas no título, mas Dr. Eldon Chance é muito diferente de Gregory House, personagem que Laurie interprertou por oito anos no drama médico da NBC. Chance é um neuropisiquiatra que trabalha como um consultor, ele não trata seus pacientes, mas avalia alguns casos e escreve relatórios sobre essas pessoas. Uma característica muito forte do piloto é a voz do personagem em voice over lendo seus laudos enquanto os espectadores acompanham os traumas que o médido descreve. Fique avisado, Chance não economiza em detalhes das lesões cerebrais, doenças neurológicas e suas possíveis consequências.
Outro aspecto importante para a série criada por Kem Nunn, autor do livro homônimo na qual a série é inspirada, e Alexandra Cunningham (Desperate Housewives e Prime Suspect) é que sua identidade é moldada com a de seu protagonista. Apesar de ser a estrela do show, Eldon não é o protagonista típico de uma drama como esse. O psicoterapeuta não parece confortável em sua própria pele e vaga em sua própria história como se estivesse a assistindo de fora.
Um exemplo de como isso acontece na trama é que temos poucas informações sobre a vida pessoal do médico. Ele é recém divorciado e tem uma filha desse casamento com a qual ele tem uma relação aparentemente normal, porém o fato que toma mais tempo de tela é a venda de uma mesa Art Deco que ele quer adicionar alguns detalhes em metal para aumentar o preço. Assim como nos casos que o médico avalia, Chance não parece ter o controle ou consciência da sua própria existência e a venda da mesa é a um dos poucos momentos em que ele decide agir.
Mas esse não é a única situação que muda a perspectiva de Eldon. Entre os casos que conhecemos, o de Jaclyn Blackstone (Gretchen Mol) se destaca e involve Chance mais do que o habitual. Jaclyn chega ao consultório do psicoterapeuta procurando ajuda para lidar com perda de memória e problemas para se concentrar resultado de dupla personalidade. O que chama a atenção é que Jaclyn tem um histórico de violência doméstica e ao notar a gravidade do problema que a paciente se encontra, Eldon percebe que sessões de terapia não serão suficiente para salvar a vida dela e portanto, ele pode e deve fazer mais para ajudá-la.
Os problemas de Chance são menos urgentes que os de seus pacientes, mas ainda assim um pouco preocupantes. Uma das coisas que me incomodou bastante é que os diálogos parecem literários demais para o estilo sombrio e realista que a série propõe, mas essa marca proposta também nunca se afirma da forma que deveria. The Summer of Love, nome do primeiro episódio que é dirido por Lenny Abrahamson (Room e Frank), tenta deixar o espectador em constante tensão esperando por um momento chocante e explosivo, mas esse clímax nunca é alcançado.
Chance é uma série com potencial, um cast excelente e com material para se diferenciar de outros dramas médicos que aparecem todos os anos na Fall Season, mas ela nunca atinge o nível que pode e assim como seu protagonista, parece que não tem total consciência de sua identidade.
Já conferiu a série? Vai investir em mais um drama com Hugh Laurie? Me conte suas impressões e acompanhe as reviews da série aqui.