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The Affair – 2×02 – Episode 2 / 2×03 Episode 3

Por: em 22 de outubro de 2015

The Affair – 2×02 – Episode 2 / 2×03 Episode 3

Por: em

The Affair permanece, na maior parte do tempo, na contramão da maioria das narrativas televisivas que instauram uma ditadura do audiovisual, impondo explosões e grandes efeitos de sonoplastia. Cheia de silêncios, de pausas nos diálogos: mesmo quando a lógica comercial da TV não permite silêncios em sua plenitude, a trilha incidental é suave e cumpre bem sua função de não se sobressair. O ritmo, embora mais ágil que da primeira temporada, continua lento, seguindo a temporalidade, muitas vezes, da vida. São raros os cortes abruptos ou sequências rápidas. Os diálogos continuam afiados e realistas, cheios de um amargor que nasce no seio da traição.

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Os dois últimos episódios de The Affair são sobre a solidão. A traição e os casos são subterfúgios e consequências para a solidão que os personagens, todos quebrados pela vida, sofrem em Episode 2. A solidão em Episode 3 decorre dos segredos. Num dos (pra variar) belos diálogos entre Alisson e Robert, ele fala sobre como, mesmo pessoas que nos amam, nunca podem nos compreender em plenitude. Sempre haverão segredos, de ordem maior ou menor. Sempre, em maior ou menor proporção, estaremos sozinhos com nossos segredos, ainda que dentro de um casamento, família ou amizade. Os relacionamentos não ignoram a solidão inerente à condição humana.

Dando continuidade a season premiere, Episode 2 insere novos fragmentos dessa história. Os eventos são mostrados, dessa vez, sob o ponto de vista de Alisson e Cole.  Alisson, frágil e resentida, recebe a visita de Cole na cabana, para entregar seus pertences. Em sua versão dos fatos há medo em seu olhar e ex-marido parece mais truculento e forte do que nunca. Sob a perspectiva de Cole, tudo é mais brando: decidido a levar os pertences de sua antiga esposa, ele é mais frágil do que nunca, o olhar abatido e cansado. Sua saída é amarga e oferece algo que a primeira metade do episódio não tem, afinal, lá a despedida é abrupta e marcada por violência. Sinto como se ele fosse eximido de alguma espécie de culpa ao receber o abraço de Alisson e fechar seus olhos, tentando criar uma lembrança sobre os cabelos dela.

Tão interessante quanto os eventos que levam ao acontecimento principal do episódio, o encontro na cabana, são os caminhos que os levaram ali. Continuando em sua miniatura de Éden, Noah e Alisson vivem de favor numa cabana de hóspedes. Como a própria alegoria sugere, a personagem de Ruth Wilson, que continua magistral e precisa, assim como Eva, se cansa da monotonia e da sujeição ao marido. Após conhecer a cidade, visita Yvone e Robert, o casal da propriedade no qual a  cabana se encontra, acaba se tornando enfermeira deles, para a insatisfação de Noah.

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Cole, do outro lado, trabalha como motorista por horas a fio, sem descansar. Sua vida é caótica e bagunçada como seu trailer. Viciado em drogas para permanecer acordar, seu olhar desolado e suas olheiras são os sintomas de um problema muito maior. A presença de Scott nesse episódio é de causar inquietação, como um prenúncio.

Episode 3 começa uma semana após seu anterior e é marcado pela ironia. Nele, o casal de protagonistas tem sua relação com os “donos da casa” estreitada. Noah precisa lidar com muitas coisas, até então, escondidas sob o tapete: a tentativa de suicídio e o caso de sua esposa com Roger, que acabam sufocando Alisson. É engraçado como o tom do episódio permanece irônico, beirando o cinismo, no encontro entre Noah e Max e no modo como eles falam de Helen.  Mal sabe o amigo que tem. Ao doar um pequeno montante ao amigo, Max revela sua natureza covarde, que não é muita diferente da nossa. Afinal, quantas vezes não cumprimos pequenas indulgências para justificar a nós mesmos? Num sacrifício digno do Antigo Testamento, os 500 mil doados à Noah são o preço que Max enxerga em seu melhor amigo e em sua traição.

Quem aparece de novo e causa bons momentos é Whitney, um personagem facilmente odiável e tremendamente complexo. Ela surge de supetão, sem avisar e acaba atrapalhando o jantar de seu pai com os donos da casa. Sem menores cerimônias, ameaça contar à mãe que o pai manteve o caso com Alisson, xinga a garçonete de poucas e boas e ainda sugere querer morar com o pai.

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Tanto Episode 2 quanto Episode 3 acabam no mesmo ponto: Scott. O final do segundo acontece num tribunal, onde as acusações contra Noah são reveladas. O modo como ele e Cole encaram, cheios de rancor e satisfação indicam que existem perguntas sem respostas. O terceiro termina de maneira mais branda, num aconselhamento entre o escritor e seu advogado e deixa uma pergunta no ar: Se o assassino de Scott não é Noah, quem então é responsável pelo crime?

Antes de acabar

– A dinâmica entre Alisson/Noah e Yvone/Robert é muito boa. Bons diálogos podem surgir desses encontros.

– O machismo tem ramificações bizarras e seria engraçado, se não fosse trágico, o modo como Whitney ama (ou acha que ama) Scott. Para ela é impossível perceber o quão babaca esse cara é.

– Genial as citações sobre os escritores. É quase metalinguagem e uma pegadinha uma série onde um dos protagonistas é um autor escritor como diversas versões da realidade podem ser narradas, principalmente na cena do jantar onde Alisson e Noah contam como se conheceram.

– Max é realmente um babaca. Dava pra ver pela cara de sofrimento da Helen. Esperando o caldo entornar.


Daniel Matos

Ex-gordo, fã de televisão e da Palmirinha.

Belo Horizonte

Série Favorita: The Good Wife

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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