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The Walking Dead – 7×12 Say Yes

Por: em 7 de março de 2017

The Walking Dead – 7×12 Say Yes

Por: em

“Não é mais sobre nós. É sobre o futuro.” (Rick Grimes, episódio 7×12 Say Yes)

Em todas as temporadas de The Walking Dead sempre existe um episódio que é apontado como “filler”, significando que apenas existe para preencher os vazios da história. Enquanto Say Yes pode ser considerado um desses episódios, ele preenche os vazios tão perfeitamente que se tornou um dos melhores episódios desta temporada. Se há algo que incomodou o público na primeira metade da sétima temporada é que a presença de Rick e os outros personagens que acompanhávamos desde o início foi reduzida drasticamente. Felizmente, isso foi resolvido nos últimos episódios. Em Say Yes, em particular, nós vemos Rick e Michonne finalmente conseguirem o espaço necessário – longe de todo o caos, violência e sofrimento que os acompanha praticamente desde que eles começaram a namorar – para apresentar ao público de forma clara como é a dinâmica deste relacionamento. O episódio é um respiro bem vindo da tensão causada por Negan, e também a calmaria antes da tempestade.

Insistir em traduzir os quadrinhos para a tela certamente não fez o efeito esperado, considerando que a temporada mais criticada, é também a adaptação mais fiel. Enquanto muito do que a série apresentou de melhor até hoje, foram desvios da obra original. O casal Rick e Michonne, sem dúvida, foi a melhor alteração feita para a série de TV. Neste episódio, que em basicamente nada se assemelha aos quadrinhos, vimos alguns dos diálogos mais honestos e comoventes da temporada. Além, é claro, da boa e velha matança de zumbis que foi muito bem executada (o que era esperado já que o episódio foi dirigido por Greg Nicotero).

No último episódio, Rick e Michonne saem em busca de armas para selar o acordo feito com Jadis, a líder do grupo do ferro-velho. Este breve resumo nos remente ao episódio 3×12, Clear, que é considerado por muitos o episódio em que Rick e Michonne começaram a se tornar um casal. Naquele episódio, segundo relatos dos atores e roteiristas, as pessoas presentes em cena se perguntaram se Rick e Michonne ficariam juntos. Um dos motivos foi porque depois da morte de Shane, Rick se tornou um personagem muito mais soturno, mas em Clear, além da troca de olhares ele até tentou fazer algumas piadas com Michonne. Toda essa digressão, indo até o episódio Clear, é para mostrar que desde o início, Michonne evocava em Rick uma dose de alegria, de contentamento. Muitas das vezes que vimos Rick sorrir durante a série, foi para Michonne, Carl e Judith. Um dos pontos mais interessantes do último episódio foi o quanto Rick e Michonne, dois personagens tão trágicos e sérios, simplesmente não paravam de sorrir. Isso é relevante porque o público sequer conhecia o som da gargalhada de Rick antes deste episódio.

Rick (e Carl), por outro lado, consegue trazer à tona o lado vulnerável de Michonne. É preciso abrir um parêntese para falar de representação feminina e sobre a percepção da sociedade com a mulher negra: Muitas vezes, as mulheres precisam ser fortes para serem aceitas como uma boa personagem feminina. As mulheres negras, em específico, costumam cair em uma série de estereótipos que se ancoram na idéia de que as mulheres negras são menos femininas, são mais fortes e raivosas. Coisas que, como fã da Michonne, eu tenho lido ao longo de anos. As pessoas passam por cima dos momentos em que Michonne foi a voz da razão, em que ela trouxe paz aos conflitos ou os momentos em que a Michonne chorou emocionada, para desumanizá-la. Ao dizer que ela não precisa de um relacionamento amoroso ou que ela não é uma pessoa emotiva, as pessoas estão deixando-se levar por uma faceta do racismo que exclui as mulheres negras das experiências humanas mais básicas. Todo o arco de construção da personagem gira em torno de uma pessoa que se fechou para o mundo por causa do luto de seu filho – E fechar-se dessa forma é um dos mecanismos de defesa mais comuns que existem – e que, aos poucos, vai se permitindo participar de um grupo, criar laços profundos e amar novamente. Say Yes é o ápice do desenvolvimento desta personagem até aqui.

Há dois momentos em que a força do relacionamento destes dois personagens se torna evidente em cena. O primeiro, é o diálogo no qual Michonne sugere a Rick que ele deveria liderar uma possível organização entre as comunidades após o fim da guerra contra Negan. Rick, entretanto, sugere que eles façam isso juntos. A cena em si, o pequeno jantar pós-apocalíptico à luz de velas soa quase como um encontro romântico. Mas a forma como o diálogo foi escrito soa como uma proposta de casamento. Provavelmente é o mais perto de “quero dividir uma vida com você” que veremos entre eles.

O segundo momento é quando Michonne acredita que Rick morreu e sua reação é deixar a espada cair, significando que ela estava a ponto de desistir da própria vida. Enquanto para alguns isso pareceu uma descaracterização da personagem, é preciso dizer que até então, nós nunca tínhamos visto Michonne perder alguém que amava. Ao ver o quanto o momento mexeu com Michonne, Rick decide falar com ela sobre a perda de Glenn. Ele explica que os dois precisam se preparar para perder as pessoas próximas e até mesmo um ao outro. É claro que eles sentirão enormemente a perda, mas o que está em jogo é maior do que eles, é a garantia do futuro para as novas gerações. Rick conclui esclarecendo o papel de Michonne na guerra contra os saviors, ao dizer que se ele não sobreviver, ela é a pessoa mais apta para liderar a guerra.

A história principal só caminhou um pouco nos últimos momentos do episódio quando Tara decidiu contar para Rick sobre Oceanside, uma vez que Jadis disse que a quantidade de armas que Rick e Michonne encontraram não era o suficiente. Mas também quando Rosita e Sasha fecham um acordo para matar Negan, o que provavelmente colocará as engrenagens da guerra em movimento antes da hora. Rosita tem sido uma personagem difícil de acompanhar nesta temporada, mas muito realista em seu luto. Assim como Michonne na terceira temporada e Sasha na quinta, Rosita se fechou e está tentando afastar todas as pessoas de si. É compreensível porque é o mecanismo de defesa mais primário que existe. Entretanto, possivelmente ter perdido Abraham quando os dois não estavam em bons termos, depois de ter sido trocada por Sasha e, em seguida ter também perdido Spencer (a quem ela começava a se apegar), fizeram com que Rosita se tornasse suicida. O que Rosita vem passando é uma questão de saúde mental. E uma das coisas importantes para se entender sobre o suicídio é que a pessoa com tendências suicidas tem uma perspectiva diferente da realidade. Por exemplo, um pensamento comum é achar que as pessoas que o suicida ama estariam melhor sem ele. Rosita está fazendo essas distorções. Ela disse que o planejamento de Rick e Michonne são apenas “mais desculpas” para não agir. Sasha e Rosita estão agindo movidas não pelo futuro, mas por vingança. Entretanto, as ações de Rosita apontam para a necessidade de morrer. Acho possível esperar que pelo menos uma das duas não sobreviva ao final da temporada.


  • Como eu já falei aqui antes, eu sou uma Richonner de carteirinha. Os roteiristas estão fazendo um trabalho fantástico com este casal.
  • Eu ri muito da Tara finalmente contando sobre Oceanside… para a Judith.
  • Aliás, a Judith está enorme!
  • O que está acontecendo com os efeitos especiais de The Walking Dead? Os zumbis continuam incríveis, mas o que foi aquele cervo?
  • Parece que a Carol estará de volta no próximo episódio! Já estou ansiosa, eu amo essa personagem!

Gizelli Sousa

Arquiteta, feminista, prefere uma noite de maratona de séries do que sair para a balada.

Brasília/DF

Série Favorita: The Walking Dead

Não assiste de jeito nenhum: Gilmore Girls, The O.C., One Tree Hill, Girls, Love

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