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Vinyl – Vale cada minuto?

Por: em 13 de junho de 2016

Vinyl – Vale cada minuto?

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers pesados,

siga por sua conta e risco.

Queria fazer um Vale Cada Minuto sobre Vinyl, mas, quando sentei para escrever, comecei a duvidar: vale mesmo? A série é boa, tem momentos muito bons, mas dizer que vale cada minuto pode ser um exagero. Por isso, resolvi fazer uma análise geral da primeira temporada e deixar você decidir. Vem comigo! 😉

VinylCriada por Martin Scorsese, Mick Jagger, Terence Winter e Rich Cohen, Vinyl retrata a indústria fonográfica na Nova Iorque dos anos 70. A série é contada pela perspectiva de Richie Finestra (Bobby Cannavale), sócio da American Century Records.

Para começar, preciso falar de motivações muito pessoais que, por assim serem, podem não ecoar aí – em você -, mas que acho importante para situar minha opinião. Poucas coisas me impedem de ver algo com clareza, uma delas é a música. Se um filme ou série tem boa música, já é meio caminho andado para eu gostar (ok, não é exatamente assim, mas dificilmente deixarei de assistir). Esse é o caso de Nashville que, embora não seja uma maravilha em termos de roteiro e atuações, continua em minha lista de séries atualizadas (não abandonadas) e, provavelmente, será o caso de Vinyl. A série é apoiada não apenas em música, mas especificamente em Rock – que calha de ser meu gênero preferido. São muitas referências a bandas e cantores que fizeram parte da trilha sonora da minha (e da sua) vida e, assim, de forma natural vai acontecendo um envolvimento entre telespectador e série, um entrelace entre o que vemos e ao que aquelas músicas nos remetem.

Vinyl - PilotSurge então o primeiro problema: a música não deveria ter mais destaque, além de trilha? Na minha opinião, sim, sem dúvida. No piloto há o único grande momento de contemplação musical da temporada quando, depois de se entorpecer de álcool e cocaína, Finestra assiste extasiado à performance dos New York Dolls. Sobre essa cena em particular cabe parênteses:

Finestra assiste aos New York Dolls dando tudo de si no palco, enquanto uma plateia elétrica pulsa embalada pela música. Toda aquela intensidade é traduzida pelo rachar da estrutura do prédio que, depois de algum tempo, não resiste e vai abaixo. O protagonista ressurge dos escombros, praticamente ileso, para dar uma guinada em sua vida (na vida de sua gravadora, melhor dizendo). Confesso que, a primeira vista, o absurdo dessa cena me irritou. Tudo surreal demais. Bizarro demais. No entanto, há alguns grandes simbolismos ali.

O Mercer Arts Center realmente desmoronou no início da década de 70. O prédio, que datava de 1800 e poucos, havia abrigado um dos mais luxuosos hotéis daquele século, o Grand Central e, ao longo do tempo, foi decaindo. Durante a II Guerra Mundial mudou o tipo de serviço e passou a se chamar Broadway Central. Depois, após se reinventar na década de 60, ganhou o nome de University Hotel até que, finalmente, na década de 70 foi remodelado e transformado em teatro/galeria/cabaré/casa de show. Um de seus espaços era o Mercer Arts Center, que, segundo relatos, tinha em sua programação do dia 3 de agosto de 73 uma apresentação do grupo New York Dolls. A apresentação não ocorreu, pois o prédio que abrigava o Mercer desmoronou por inteiro no final daquela tarde.

Richie FinestraA série não retrata exatamente o que aconteceu, mas pincela o fato histórico com um simbolismo: a música não morre; show must go on.

Fecha parênteses.

Música mesmo, apresentações que nos envolvam, causem arrepios, não há.

Retornando a Finestra, explicito dois problemas: um de ordem pessoal, o outro não. A nota pessoal é com relação ao ator, infelizmente, mesmo depois de tantos personagens (em Nurse Jackie, Boardwalk Empire e em diversos filmes) Cannavale será eternamente Vince (Will and Grace) para mim – mas aí é um problema meu, claro. O segundo ponto é quanto ao personagem em si. Somos apresentados a esse cara fodão (desculpe o termo), que sabe o que está fazendo e que os outros (inclusive nós) devem comprar. Só que não compro.

Vinyl - Richie FinestraA premissa que nos é dada é de que Richie Finestra é “o cara”, mas não vemos isso. Isso não se mostra verdade ao longo da temporada. Tudo dá errado para Finestra. Todos são melhores que ele, todos pensam uma jogada à frente. Nada que ele faz tem um efeito positivo. Então, como pode ser o cara? Não faz sentido. E, veja bem, o problema não está em ser anti-herói, muito pelo contrário. Don Draper era um excelente anti-herói: péssimo marido, péssimo pai, alcoólatra, não muito justo com seus funcionários e colegas de trabalho. O porém? Ele era o cara. Ele entregava. Draper sabia o que estava fazendo e aproveitava-se disso. Ele era inteligente, eloquente, criativo e, de quebra, tinha um soft spot pela Peggy – o que amenizava seu papel de anti-herói. Richie não tem nada que justifique a premissa que nos foi enfiada goela abaixo.

Vinyl - DevonEm contrapartida, gosto muito de Devon (Olivia Wilde). Sua história convence. Aspirante a atriz, a mulher de Finestra abandona a carreira para cuidar da família. Para ficar mais claro, Devon abandona a carreira, o álcool, as drogas, as festas e a vida social. Ela tenta o que muitas pessoas já tentaram/tentam: apagar o que uma vez foi, em nome de uma noção idealizada de família. E, como na maioria desses casos, tal decisão faz de Devon uma mulher frustrada. Quando Richie quebra o acordo implícito – se eu não faço, você também não faz -, e perde-se nas drogas novamente, ela resolve voltar para o que era. Muda-se para o Chelsea Hotel, lar de criatividade e liberdade. Só que ela tem as crianças, não é mais a mesma. Não é uma típica dona de casa-mãe de família, tampouco um espírito livre como já foi. Esse conflito, além de interessante, é fidedigno. Tem um grande pé na realidade. E a atuação de Olivia Wilde ajuda bastante (e ela em cena também não dói nadinha aos olhos :P).

Outro ponto positivo é o alívio cômico. Já disse algumas vezes e repito: uma pitada de humor é fundamental (para mim). Isso fica, sobretudo, a cargo dos sócios de Richie: Zak Yankovich (Ray Romano), Skip Fontaine (J.C. MacKenzie) e Scott Levitt (P.J. Byrne). Scott é sempre uma figura, é o advogado do time, meio peixe fora d’água. Os demais tornam-se engraçados quando juntos, é a interação dos quatro que costuma render momentos divertidos.

E volto para um ponto negativo. Nesse grupo citado acima há um personagem que foi completamente descaracterizado ao longo da temporada (e isso é triste): Zak Yankovich. Nos primeiros episódios, ficou bastante claro que Zak poderia ser a base do grupo. O sujeito com os pés no chão, equilibrado, que serviria de norte para o destemperado protagonista. Então, de repente, sem motivo ou razão, ele passa a ter atitudes questionáveis e burras, além de cometer erros difíceis de engolir. Um cara que parecia muito razoável, que condenava as atitudes do amigo (Richie), de repente se vê drogado ao ponto de não lembrar de acontecimentos, em um ménage com duas desconhecidas e, possivelmente, sendo roubado por elas. Depois descobrimos que foi armação de Richie, mas o ponto não é esse. Mesmo que o erro tenha sido de Richie, o que interessa é que, dentro daquele contexto, poderia ter sido de Zak. E isso descaracteriza o personagem da forma que foi primeiramente apresentado.

Vinyl - JamieHouve uma pequena descaracterização de outro personagem, na minha opinião. Jamie Vine (June Temple), assistente na American Century Records, começa como uma mulher determinada, que tem um bom tino para aquele negócio. Ela, teoricamente, descobre os Nasty Bits e, com isso, é promovida à equipe de Arte e Repertório (A&R). Parece ser focada, determinada e profissional. Mas então se envolve com o vocalista da banda (filho do Mick Jagger e, sim, isso é tudo que ele merece de descrição) e não dá certo, para resolver ela se deixa levar por uma noite com ele e outro membro da banda. Deu mais errado ainda. E não fez o menor sentido enquanto narrativa. Não que o arco narrativo seja de todo ruim, não é, mas só teria valor se explorado apropriadamente, se fosse construído cuidadosamente, ao longo de alguns episódios. Sem enfraquecer a personagem, sem fazê-la parecer uma menina que nada sabe.

E no caldeirão das queixas acrescento mais uma, relacionada ao que disse acima: são muitos arcos e todos são pouco (ou mal) desenvolvidos. O tanto de coisa que apresentaram nessa primeira temporada poderia, facilmente, ser distribuído ao longo de várias. Tornaria as personagens mais complexas, o enredo mais profundo e nosso entrosamento com a série maior.

E para terminar, vamos falar de só de coisa boa!

Vinyl - Andrea e LeesterA personagem de Annie Parisse, Andrea Zito, é maravilhosa. Ela é o que Finestra deveria ser. Uma RP fodona, que entende a indústria fonográfica, tem excelentes contatos, sabe como navegar no meio e é segura de si. Andrea sabe o que precisa ser feito e, também por isso, deveria comandar a American Century Records (ou pelo menos a nova label, Alibi). O personagem de Ato Essandoh, Leester Grimes, também é excelente. Ele é quem mais sofre com a canalhice de Finestra e, por sua causa, vê sua carreira acabada. Sua história é triste e serve para ilustrar a falta de escrúpulos do protagonista. Ele parece começar a achar seu caminho de volta à música, mesmo que de outra forma, e esse caminho pode ser também um de vingança. Espero que na próxima temporada Leester ganhe mais destaque.

Viinyl-PhotographyA fotografia de Vinyl é outro ponto forte, assim como os cenários e figurinos. A estética da série é muito bonita e toda a ambientação convence enquanto década de 70. Há uma predominância de tons quentes, uma paleta que vai do marrom ao amarelo, o que ajuda a dar essa ideia de passado.

E por último, mas não menos importante: Nova Iorque. Quem pode se cansar da cidade mais filmada do mundo? Na década de 70, a cidade fervia em termos de arte e música. Das grandes gravadoras aos badalados clubes, tudo acontecia ali. Vinyl tem feito um bom trabalho ao mostrar a NY daquela época.


Apesar dos pontos negativos, Vinyl tem ótimos personagens, excelentes referências do mundo da música, uma bela fotografia e ambientação, é passada na maravilhosa cidade de Nova Iorque e, claro, tem muito sexo, drogas e rock and roll. E aí, vale cada minuto?


Fernanda Faria

Adora fazer nada, mas faz tudo ao mesmo tempo. Viciada em séries de tudo quanto é tipo, guarda um espacinho maior no coração para as de temática transgressora. Precisa de uma bela pitada de humor pra viver.

São Paulo - SP

Série Favorita: Breaking Bad

Não assiste de jeito nenhum: Supernatural

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