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Bates Motel – 5×05 Dreams Dye First

Por: em 22 de março de 2017

Bates Motel – 5×05 Dreams Dye First

Por: em

– Você não precisa lidar com tudo isso sozinho, Norman.
– Eu não estou sozinho.
– Você ainda tem sua mãe?
– (PAUSA, seguida de murmúrio confirmando)
– Você se lembra do que te contei sobre ela?
– Às vezes, eu vejo Mother onde ela não está e às vezes eu me transformo nela.

Há uma frase, derivada de uma das linhas da psicanálise, que diz que “precisamos matar nossos pais” para completar nosso processo de amadurecimento e iniciar a descoberta de quem realmente somos. Se por um lado nosso garoto seguiu ao pé da letra o que era pra ser apenas uma metáfora sobre trilhar seu próprio caminho, por outro, ele andou na linha exatamente oposta, ao estabelecer como necessária a presença da mãe para existir.

Vivenciar essa dependência sempre me pareceu ser uma escolha consciente (desde que Norman decidiu interromper seu tratamento), que não traria crises ou dilemas. Acho que isso até seria possível se a vida dele fosse trilhada só sob o foco da loucura. A grande questão é que, na complexidade da sua doença, o personagem ainda precisa conviver com alguns momentos de estabilidade. São esses raros episódios de lucidez, em que Norman tem noção da extensão estarrecedora do seu distúrbio, que trazem sofrimento, desespero e angústia. E ele usa esse coquetel de sentimentos como munição para montar seu quebra-cabeças pós apagões.

Divulgação/A&E

Acontece que nada do que ele pudesse conseguir relembrar na vida com essa técnica, teria o efeito devastador de uma “consulta” totalmente inesperada, em um café, com seu antigo psiquiatra, Dr. Edwards (saudades das sessões de terapia dos dois).  Esse encontro providencial foi o gatilho que levou Norman a entender que, ao contrário do que disse ao médico, sua doença só piora e é cada vez mais insuportável para ele, lidar com seu cotidiano sendo ele mesmo.

Refazendo seu percurso da noite anterior, Norman se deu conta que assinou seu próprio atestado de óbito. Ao se entregar derradeiramente à sua parcela Mother e assumir para si até a orientação sexual da mãe, efetivamente se relacionando com um homem, o personagem pôs uma pedra em qualquer resquício de personalidade própria que ele possa ter almejado usufruir. Norma Louise vive plena, completa, inteira e não só na sua mente, ou dentro das paredes da sua casa, num contexto bagunçado e sombrio. Sua vida social existe, é intensa e descortinou para Norman outra faceta obscura da sua doença: é preciso ser Mother até para vivenciar o amor.  

Reprodução/A&E

O que nos leva a Madeleine. Se no início dessa temporada, eu tinha certeza que ela seria uma das primeiras a morrer, agora já não sei mais o que pensar. A personagem vem ganhando destaque na trama e tudo vem dando a entender que ela terá que dividir nossa atenção com Marion Crane (interpretada por Rihanna, musa como sempre!). A personagem mais esperada da quinta temporada finalmente deu as caras, em sequências muito similares às do filme Psicose. O que funcionou bem no episódio passado, nas cenas entre Greene e Norman no motel (em que pudemos identificar claramente tomadas e ângulos idênticos ao filme), em Dreams Dye First, não teve o mesmo resultado.

A sequência de Marion e Sam no hotel, a cena dela no escritório e as que se seguiram até sua chegada à White Pine Bay, teriam sido muito fieis ao original (considerando as devidas adaptações realizadas para adequá-las à época atual), se não fosse pela questão Sam Loomis. O namorado da Marion do filme é um cara divorciado, humilde e que não pode se casar com a amada por estar endividado e temporariamente sem condições de oferecer a ela uma vida à sua altura. Isso funcionou muito bem na década de 60, mas agora, com a presença da esposa de Sam na jogada, só contribuiu para transformar o personagem num homem canalha e desprezível. Ele mente para a esposa e para a amante, numa combinação que já nos provou em inúmeros outros seriados que pode ser explosiva. Resta saber se as diferenças entre filme e seriado param aí, ou se virão mais novidades pela frente. Confesso que achei Loomis tão fraco que nem ligaria se fosse ele o assassinado no lugar da Marion.

Reprodução/A&E

Enquanto isso, em Seattle,  Dylan e Emma finalmente decidiram fazer o que todo casal faz e … conversar sobre os fatos que os levaram a deixar White Pine Bay. Dylan, sempre fofo e certinho, errou feio ao esconder da esposa tudo que sabe/desconfia do irmão, mas ele transformou esse erro em uma catástrofe ao optar por não revelar especialmente episódios relacionados ao desaparecimento da mãe dela. Esse segredo foi a prova de que o coração do moço não está 100% ali. Dividido e culpado sobre o que acha e o que tem certeza das atitudes de Norman, Dylan não soube mensurar os efeitos dessa possível descoberta no seu casamento. Fato é que depois de um papo tenso e revelador, que levou Emma a descobrir o que aconteceu a Norma, podemos até não saber os rumos que o casamento vai tomar, mas temos certeza que vai ser difícil segurar o trio na cidade. O gerente do Bates Motel agora vai ter que se desdobrar para lidar com as suspeitas-quase-certezas da família e também com a xerife Greene, que ainda não desistiu de incomodá-lo.

Depois de um episódio mais morno na semana passada, Dreams Dye First chegou chegando e mostrando que a série ainda tem muito suspense e segredos a oferecer! E vocês, o que acharam?


Algumas curiosidades/observações:

  • Esse episódio foi dirigido pelo Nestor Carbonell, que interpreta o xerife Romero;
  • O produtor-executivo Carlton Cuse fez uma participação especial, interpretando o policial que para a Marion Crane na estrada;
  • Preciso aqui abrir um parênteses para falar sobre como o Norman mente bem. Toda vez que ele é pressionado e pego numa mentira, ele consegue invariavelmente reverter o quadro e deixar as pessoas com pena dele. Romero mesmo já foi vítima dessa tática inúmeras vezes. Sinto que Greene não vai se deixar enganar tão facilmente, mesmo sentindo que Norman corre perigo.

 


Renata Carneiro

Jornalista, amante de filmes e literalmente, apaixonada por séries. Não recusa: viagem, saidinha com amigos, um curso novo de atualização/aprendizado em qualquer coisa legal. Ama: família, amigos, a vida e seus desdobramentos muitas vezes tão loucos Tem preguiça: mimimi

Belo Horizonte/MG

Série Favorita: Breaking Bad

Não assiste de jeito nenhum: Two and a half Men

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