Há alguns meses, durante uma breve viagem à São Paulo, estava tentando lembrar de algumas séries sobre investigação para indicar para meu pai. Ele tinha acabado de maratonar a primeira temporada de True Detective e começado Sherlock (depois de muita insistência). Já desanimada com a segunda temporada da série do Nic Pizzolatto, a minha teoria era que há séries de detetives melhores nesse grande mundo da televisão. Fargo era uma das minhas sugestões, mas após assistir Before The Law e The Myth of Sisyphus, percebi que posso estar errada. O foco de Fargo não é a investigação, mas a vida e destino de seus personagens que estão conectados à um crime. Mas mais do que isso, essa temporada de Fargo é sobre família.
O desenrolar da investigação está nas mãos de Lou e Hank, mas apesar de todo o esforço dos policiais, as descobertas e os insigths mais importantes até agora foram feitos por Betsy. Em Before The Law, Betsy e Molly vão com Lou à cena do crime e a mãe acaba achando acidentalmente a arma escondida entre os arbustos. “Your mom is doing daddy job again”, explica Lou à Molly quando ela pergunta o que ele está segurando. Lou rapidamente reconhece a importância do objeto, as impressões digitais são os únicos elementos que podem conectar Rye e, consequentemente toda a família Gerhardt, aos assassinatos.
No episódio seguinte, é Betsy que consegue decifrar o que aconteceu com o Rye. A teoria que consegue explicar o desaparecimento do assassino é eliminada por Hank, depois do comentário de Peggy, pela improbabilidade de alguém atropelar outro alguém e não fazer nada a respeito. “All I’m saying is maybe rather than look for a man, you should be looking for a car”, Betsy conclui.
Em Fargo, investigação não é só parte do trabalho dos policiais, é negócio de família. Betsy acabada incluída em todo o processo por simplesmente ter espaço para estar presente e falar o que pensa. É algo simples, mas importante. O papel da mulher é um tema recorrente na série, e se a iniciativa de uma mulher era importante em 2006, quando o primeiro ano da série se passa, isso ganha relevância em 1979.
Dessa forma, a série consegue também se conectar ao primeiro ano, não só repetindo elementos de roteiro e direção, que estão sendo bem utilizados até então, mas explicando Molly. Está ficando cada vez mais óbvio a origem da protagonista da primeira temporada, Lou é enérgico, mas Betsy é sábia na arte de resolver crimes.
Por falar na energia de Lou, ver o policial trabalhar é um grande exercício de expectativa e realidade. Lou se impõe mais do que era de se esperar. A cena na casa dos Gerhardts e depois na loja de máquinas, mostra que ele não recua facilmente e nem se deixa ser enganado.
Mas se a participação feminina é valorizada e natural na casa dos Solversons, essa questão é mostrada de forma mais complexa com os Gerhardts. Desde o primeiro episódio, a liderança de Floyd vem sendo desacreditada. O plano da série parece um pouco óbvio, duvidar para depois comprovar que a matriarca pode governar os negócios da família. Logo, é importante mostrar que essa dúvida vem de dentro da família também. “I’m oldest. I’m boss. End of story”, argumenta Dodd para a mãe. Ele foi criado para liderar, logo parece óbvio que ele – o homem mais velho da família – assuma essa posição com a doença do pai.
Sentado em frente a mãe, a história ganha nuances. Floyd consegue se impor sobre Dodd, porque o filho não tem intelecto ou experiência para debater com ela. Então, o silêncio diante das ordens da mãe não é de consentimento. Para ele, o diálogo não compensa. Com a filha, no fim de The Myth of Sisyphus, Dodd também não argumenta, ele bate e tenta silenciar. O jeito de Dodd é a violência.
É importante para Dodd também ter apoio de outros membros da família. Assim, ironicamente, Rye se torna importante para Dodd. Mas a caçada pelo irmão mais novo está fadada à derrota e ao sangue.
Na tentativa de apagar qualquer relação com o assassinato, Ed limpou todas as marcas de seu crime, queimou os objetos e moeu o corpo de Rye. No episódio seguinte, Peggy sugere que eles finjam um acidente com o carro para chamar o seguro e se livrar da última prova.
No entanto, apagar o material não significa se livrar do crime. Peggy e Ed ainda podem conectá-los com a morte de Rye. Apagar o trauma é um desafio maior e claramente, não está sendo fácil para os dois. O casal tenta lidar com isso de formas diferentes. Ed parece anestesiado e Peggy procura outros assuntos para evitar o que aconteceu. De qualquer forma, as duas maneiras parecem muito para o casal aguentar.
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