Homeland engrenou em um ritmo tão acelerado que piscar na hora errada pode te fazer perder algum fato importante sobre a trama. Praticamente todos os personagens participam de todos os episódios, e até os figurantes de luxo têm sido fundamentais para o andamento da história. É um roteiro quase perfeito, só falta um pouco de alma.
Assistindo a Better Call Saul e vendo as peças se encaixando com tamanha precisão, eu fiquei me perguntando o motivo de a quinta temporada não ter me fisgado como as outras. A tensão está ali, a protagonista superpoderosa também, as conspirações estão mais presentes do que nunca e a política internacional nunca esteve tão bem retratada, com um olhar tão crítico, autocrítico e multidimensional como nessa temporada. A única coisa que não tem, talvez por falta de tempo, talvez por uma decisão dos roteiristas, é o lado humano que sempre fez Homeland ser tão diferente das outras séries de espionagem.
Nas primeiras temporadas, esse lado foi suprido pela relação de Carrie e Brody e pela eterna dualidade do Marine. No ano passado, os dramas pessoais de Ayan, Saul e Quinn foram os responsáveis por trazer à tona esse elemento. Esta temporada, no entanto, preferiu mostrar que esses personagens são apenas peças da enorme engrenagem política que faz o mundo funcionar – ou não funcionar. As DRs de Saul e Mira se transformaram numa única frase em que ele conta que se divorciou. Carrie, Quinn e Jonas tentam se salvar mutuamente, e o triângulo amoroso só aparece brevemente em uma expressão de desgosto do advogado ao ver a namorada sendo abraçada. A misteriosa amizade de Adal e Saul foi corroída por dentro, através da ação de uma Alisson bem mais relutante que se podia imaginar no episódio passado.
Não tem como dizer que isso é um erro. A gente tenta apagar da memória, mas as cenas de Dana insistem em continuar lá, mostrando que nem sempre humanizar é a saída. Por outro lado, de que adianta criar algo tão duro que perca completamente a alma de uma boa série para se tornar uma hora de bastidores falsos do que vemos nos telejornais? Eu não tenho dúvidas de que a temporada vai funcionar. Não tenho dúvidas que as pontas vão se unir, que tudo vai fazer sentido (aliás, já fez), que veremos nosso dream team unido novamente contra os russos e contra a CIA, enquanto a CIA estiver representada por Alisson e Adal. Mas será que o quinto ano será tão memorável quanto os outros daqui a algum tempo? Talvez seja uma análise precipitada depois de uma pequena sequência de episódios mais “secos”, já que as temporadas de Homeland costumam decolar e explodir (já vi isso em algum lugar?) do meio para o fim.
Bem, como citei anteriormente, Alisson me pareceu neste episódio muito mais relutante que eu imaginava. Pode ser que estejam tentando não pinta-la como uma vilã caricata, manipuladora e que age de má fé sem nenhum tipo de remorso, como Tasneem na quarta temporada. Ou ela é um ser humano normal, que é sim capaz de ordenar e orquestrar movimentos cruéis para alcançar seus objetivos, mas não sem sofrer por isso – assim como Carrie, que bombardeava casamentos com os drones para caçar
terroristas – ou ela está sendo influenciada e até mesmo forçada por outra pessoa a fazer tudo aquilo. Mandar matar Carrie, dormir com Saul, coloca-lo contra Adal.
Um grande mistério é o conteúdo dos documentos que não foram divulgados por Laura. Pelo andar da carruagem, eu apostaria em algo relacionado ao golpe na Síria, mas é claro que sempre pode ser algo ainda pior. As pessoas que agora protestam pela liberdade de expressão e pelos “mártires” que foram vítimas dos russos não fazem ideia do quanto mais teriam para protestar se soubessem de tudo o que anda acontecendo.
Algumas observações:
– A vida de Quinn sendo salva por um árabe religioso. Que irônico.
– Será que se eu entrar na cozinha de um hotel/restaurante/whatever vou poder andar por lá e ninguém vai falar nada? Isso sempre acontece na TV.
– Alguém faz o favor de tacar fogo naquela peruca da Carrie?
– Astrid e Jonas poderiam ficar juntos e liberarem o caminho para vocês-sabem-quem.
– Repararam que a série está em abril de 2016? Será que teremos um cliffhanger doido no final da temporada e aí ano que vem vão voltar do mesmo ponto, sem passagem de tempo?
– Sim, o título do episódio é uma clara referência a Breaking Bad e seu spin-off. But who cares?
Homeland tem uma tradição de focar sempre o sexto episódio em alguma virada para Saul. Apesar do nome sugestivo do episódio desta semana, ele não teve tanto destaque assim, mas considerando que agora a parceria com Carrie vai voltar a todo vapor, é possível que a tradição se mantenha. Estão curtindo a temporada? O que acham que vem por aí? Deixem seus comentários e até semana que vem!