Spoiler Alert!
Este texto contém spoilers leves,
nada que estrague a série ou a sua experiência.
Depois de brilhar como a contraditória Carmela (Sopranos), Edie Falco nos presenteou com uma das personagens femininas mais complexas e carismáticas dessa última década: Jackie Peyton (personagem que rendeu à atriz um Emmy e muitas indicações). Como indica o nome, Nurse Jackie é uma série centrada em sua personagem: seu trabalho, sua família e seu vício. Conhecemos Jackie como uma enfermeira durona – que sabe mais do que muitos dos médicos do hospital -, uma mãe e esposa dedicada e uma mulher que acha que tem o vício em drogas sob controle.
Jackie não é boazinha nem lá muito correta: é uma anti-heroína. E, como já falei aqui, costumamos nos apegar a esse tipo de personagem, não é mesmo? Não demora muito para estarmos completamente encantados por essa mulher de mil faces. Ela mente, rouba, trai, entope-se de pílulas, mente mais um pouco e ainda assim não desejamos seu mal.
Em sua vida estão Kevin (Dominic Fumusa), seu marido e pai de suas filhas Fiona (Mackenzie Aladjem) e Grace (Ruby Jerins); o amante Eddie (Paul Schulz) que trabalha com ela no Hospital, a médica e melhor amiga O’Hara (Eve Best) e a hilária enfermeira novata Zoey (Merritt Wever). Esse é o núcleo afetivo de Jackie e, por isso, o que mais sofre com suas ações.
Há outro núcleo que inclui pessoas que ela também se importa, como o enfermeiro Thor (Stephen Wallem), e outras que ela não é lá muito fã, como sua chefe Gloria Akalitus (Anna Deavere Smith) e o médico apalpador de peitos Cooper (Peter Facinelli). Com o avanço da série, entram outras personagens não muito queridas de Jackie, como o enfermeiro Sam (Arjun Gupta) – o primeiro a identificar seu vício – e a inexperiente médica Carrie Roman (Betty Gilpin).
Com o passar das temporadas, seu vício vai piorando, assim como suas atitudes. Jackie usa e descarta pessoas, não pensa nunca nas consequências de suas ações e se mete em situações absurdas para manter o vício (e esconde-lo). Mas, ao mesmo tempo, ama sua família, pacientes e amigos e faz – do seu jeito torto – tudo por eles. Ela é implacável, manipuladora, querida e amável.
As personagens são todas muito únicas e especiais. Zoey profere algumas das falas mais improváveis e engraçadas da série – e é uma fofura inocente -, o médico Cooper nos arranca gargalhadas com suas apalpadas (manifestação de uma doença que o faz cometer atos inapropriados quando nervoso) e trapalhadas; a dinâmica da relação de Jackie com O’Hara é, além de hilária, uma delícia de assistir. O amante cumpre uma função primordial para Jackie: mesmo sem saber, ele é uma de suas principais fontes de droga. Eddie é o farmacêutico do hospital. Bem cômodo, né? O marido faz tudo por ela e as filhas (e é um pouco boring) e as meninas são (mais ou menos) uma gracinha. Digo mais ou menos, pois a mais velha – Grace – é muito parecida com sua mãe. Quando começa a atingir a adolescência vemos uma bela transformação. Grace merecia um spin-off sobre ela!
A série é muito bem escrita, conta com diálogos excelentes, atuações impecáveis e, principalmente, um perfeito equilíbrio entre drama e comédia. Como Shameless, trata-se de uma dramédia politicamente incorreta, que alivia o peso do seu drama com situações e personagens divertidos.
Nurse Jackie já finalizou (lindamente, na minha opinião) e tem 7 incríveis temporadas para você maratonar. De verdade, não deixe de ver pois vale cada minuto!