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Second Chance – 1×08 / 1×09 When You Have to Go There, They Have to Take You In

Por: em 13 de março de 2016

Second Chance – 1×08 / 1×09 When You Have to Go There, They Have to Take You In

Por: em

Finalmente recebemos mais informações sobre os antigos “vacilos” de nosso querido Xerife James Pritchard. Se antes estávamos cientes apenas das provas forjadas, agora sabemos de um dos motivos que geraram problemas entre a mãe de Duval e Jimmy: infidelidade. O melhor de tudo é que Jimmy não só foi infiel, mas encobriu o assassinato do marido de sua amante. Esse seriado sabe dar um “climinha” tragicômico.

Mas é algo que não dá para se julgar. Obviamente, os mais puritanos vão criticar a atitude antiética do xerife. É muito simples jogar um falso moralismo, ainda mais sendo um brasileiro nos tempos atuais. E se existe algo que realmente atrapalha o raciocínio, é o afeto. Dinheiro dá aquela mexida, mas afeto garante o vacilo completo. E, pelo que nos apresentam no episódio May old acquaintance be forgot, o afeto existiu, e foi muito além de encobrir rastros de assassinato. Ele afetou a vida da Srª Pritchard e de seu filho. A crise da meia-idade bateu forte, como o próprio protagonista nos confirma, e dá mais um motivo para os moralistas de plantão desenvolverem alguma consciência de que ele é “tão real” quanto nós mesmos. Pois julgar o próximo cometendo os mesmos erros é mais antiético do que o ato objeto, e a justiça é injusta se realizada apenas para um dos lados. “Tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida em que eles se desigualam” é algo básico que vem sendo esquecido em inúmeras esferas da ignorância, e isso diz muito sobre como anda a mentalidade.

Se, na coluna de Primeiras Impressões que fiz de Second Chance, disse que esse seriado abordava mais temas sobre ética do que dava a entender, o oitavo episódio deixa isso as claras para quem deseja ver. E, sendo toda a realidade a “caverna de Platão”, ou, numa releitura contemporânea, a Matrix, o universo dos seriados, novelas e desenhos não fogem da realidade da escrita e da leitura. Pois há uma geração que é definitivamente hipócrita no seu conservadorismo, e deveria gerar uma preocupação pela atual geração copiar tal cinismo. Um dos pontos mais louváveis desse episódio é a autocrítica de James, e o perdão de Duval. Pode-se abordar isso de forma leve por ter sido uma falha masculina. Quantas mulheres não foram repudiadas e abandonadas por uma falha tão humana quanto essa, a falha do peso de seu próprio viver? Feliz é aquele que nunca sentiu o temor do passar dos anos.

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O episódio seguinte é um tanto quanto mais leve. Focado em tirar um pouco mais Connor das sombras, nos dá a dimensão do verdadeiro vilão da temporada (ou de todo o seriado?). Aparentemente, sua empresa está um pouco mais avançada na tecnologia de rejuvenescimento e manipulação genética, possuindo, pelo que nos foi apresentado, duas cobaias. Temos Alexa, a secretária de Mary, e sua motivação para salvar o marido, fato que já foi discutido em outra review, e uma outra personagem, uma versão de Pritchard asiática(aparentemente chinês) e bem mais forte. Do episódio 7 para cá, o tema da fidelidade tem sido uma constante, e nos faz pensar até onde isso é saudável, no caso de Alexa. Sem entrar no mérito do certo ou errado, novamente, em termos de paixão, deve-se cair mais para a questão da maturação da ideia de mortalidade presente em nela.

O problema é que ainda não nos foi apresentada por completo a maneira que Alexa terminou por receber a dádiva do rejuvenescimento. Sabemos que foi graças a Connor, sabemos que há chantagem no meio, mas isso é pouco para formar uma ideia estruturada. Existe o problema de cair na “romantização” dessa fixação de Alexa pela vida, algo completamente compreensível, já que nenhuma alma jovem gostaria de pensar na possibilidade de morrer. No entanto, é possível perceber a dicotomia entre ela e seu marido no que tange ao fim da existência. E isso, além de ser um problema para o desenrolar dos atos, já que ela se apresenta capaz de tudo, é também problemático para a própria relação deles. Não será estranho se George fizer algo que vá contra os planos de Alexa, e isso pode ser percebido em seu curto diálogo com ela no episódio.

Sobre ir contra planos, Otto está sendo peça fácil nos planos de Connor contra Mary, e tem demonstrado que Second Chance não é tão previsível assim. A promessa de ficarem sempre juntos foi levada ao extremo, ao que parece, de forma que Otto permite relações sexuais sem algum tipo de relação mais profunda. No entanto, percebendo que Pritchard fomentou em sua irmã algo que Connor não criava, criou-se a idéia de separação que antes sequer passava por sua cabeça. A crise de infantilidade pode ser vista em seus movimentos ao final do seriado. Otto se apresenta como uma definitiva criança a cada episódio, e a reclusão em suas memórias apenas nos apresentou sua verdadeira face. Sendo a “Travessia da fantasia” um processo demorado, fica a dúvida sobre quanto tempo levará para Otto vencer o trauma de infância e superar a dependência de uma promessa verdadeira, porém mal interpretada.

E vocês? Qual a visão que tens sobre a superação das próprias falhas?


Vinicius Scoralick

Historiador, cinéfilo e psicanalista de séries. Duelista profissional de Yu-gi-oh!. O nerd que você jamais imaginou. Uma mistura de Zizek com Schopenhauer.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Black Mirror

Não assiste de jeito nenhum: Shonda Rhimes

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