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Second Chance – A Temporada até aqui

Por: em 18 de fevereiro de 2016

Second Chance – A Temporada até aqui

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers pesados,

siga por sua conta e risco.

Bem, após problemas com o notebook, as reviews sobre Second Chance retornam. E, ao que parece, o carnaval não faz bem só aos brasileiros. O seriado manteve seu ritmo acelerado de apresentação de fatos bombásticos, e isso não tem sido problema até agora. Muito pelo contrário.

Se a Primeira Impressão foi um tanto quanto negativa sobre a possibilidade de se manter qualidade com tamanha velocidade, essa review traz um espírito positivo acerca dos acontecimentos. O segundo episódio, “One More Notch”, pode ter tido um clima meio brega, e mais próximo ao piloto, com todo esse lance de “meio-irmão”. No entanto, teve sua importância para o desenvolvimento da história. A aproximação entre Pritchard e Mary é algo previsível, e lançarem a empresária/cientista no meio das aventuras do xerife é algo que não dialoga muito com a racionalidade. Porém, terminou por valorizar um pouco a personagem, evitou o clichê da aproximação pela doença logo de cara, e nos poupou da polarização Pritchard-Duval. Foi interessante também ver como o protagonista tem todo um carinho especial com crianças, apesar de ser apresentado como um pai ausente e um avô não muito convencional. Talvez a parte do avô não convencional seja a mais charmosa. Ensinar os netos a fazer um drink é bem estiloso, apesar de não ser recomendado. Me lembrou Don Draper com a filha.

O terceiro episódio, “From Darkness, The Sun”, se apresenta como a virada do seriado. Um episódio com uma textura mais firme e um recheio bastante agradável. Gira entorno do teste de DNA realizado por Duval, no qual ele descobre a relação genética, mas também que Pritchard é uma evolução da Biogenética, o que leva a alguns questionamentos naturais. A prensa que nosso agente do FBI dá em Otto nos faz perceber o quanto o jovem nerd não sabe das malandragens da vida. Ele não é um “x9”, ele é, perceptivelmente, alguém que não lida bem com o social. No entanto, é a ação do episódio que empolgou. A descoberta, e jogo de perseguição, do garoto psicopata é interessante, o modus operanti do rapaz é infantilmente divertido, Pritchard chapado na festa é sensacional… e temos uma Katana. É, meus amigos, uma Katana. Nada fica ruim quando há uma Katana, cortes violentos e o primeiro oponente digno de machucar bastante nosso protagonista. Além disso tudo, temos uma namorada deslumbrada para atirar na direção de Duval, fazendo com que o Xerife se jogue na frente. Rola um frenesi? Sim. Obvio que você sabe que o protagonista será salvo, isso aqui não é Game of Thrones, mas o estilo cafajeste anos 70 do protagonista é muito cativante, fazendo com que se crie uma torcida pra ele não se lascar tanto.

SECOND CHANCE: Rob Kazinsky in the "From Darkness, The Sun" episode of SECOND CHANCE airing Wednesday, Jan. 27 (9:00-10:00 PM ET/PT) on FOX. ©2016 Fox Broadcasting Company. Cr: Ed Araquel/FOX

Admissions”, o quarto episódio, foi  um back-to-back de problemas psiquiátricos. Ele se inicia com Duval tendo que lidar com a realidade de Pritchard ser mesmo seu pai. Conhece a réplica do apartamento do “coroa”, sofre com uma enxurrada de velhos vícios de linguagem e ainda se depara com um caso bastante similar a um de seus antigos. Porém, tem que rolar aquele estado de negação inicial, pra ter algum texto, coisa básica. Novamente, há essa pressa em apresentar logo os fatos que poderiam muito bem encaixar num final de temporada, mas já aceitei que é esse o ritmo do seriado e, aparentemente, eles estão conseguindo lidar bem com toda essa velocidade, já que os episódios estão bem interessantes. Dessa vez, lidam com jovens que estão morrendo de overdose de Heroína. Flashbacks mostram como Duval já possuía dúvidas sobre um jovem estudante, gênio, que morreu dessa forma e foi taxado como um viciado. Ao pedir ajuda ao seu pai na época, esse duvidou do caso e não foi muito útil. No entanto, agora, com a percepção de um padrão, nosso Xerife tenta aproveitar para ser mais presente, útil, e provar ao filho de que ele retornou mesmo a vida. Os casos poderiam se prolongar mais, podendo levar 2 ou mais episódios em cada, mas compreendo esse desejo de sempre apresentar algo novo. A descoberta de que a psicóloga era a assassina foi bastante rápida, mas pelo menos nos deram o gostinho da dúvida ao apresentar um comparsa. Sempre bom ter essa segunda personalidade azucrinando um dos personagens no melhor estilo “Clube da Luta”. No final, o bacana mesmo é limpar o nome dos jovens superdotados.

O quinto episódio pode ser o episódio da “Práxis”. A união da Teoria e da Prática, o verdadeiro desenvolvimento científico. “Scracht That Glitch” aborda o problema de a Teoria não contar com problemas da prática. Os cálculos de Otto estavam corretos, mas para a prática não existe perfeição, existe apenas proximidade. A realidade é: o corpo de Pritchard está se modificando sozinho. Ele está morrendo. E sim, aperto no coração é permitido. Passou uma sensação de possibilidade da série não ir longe, devido a esse problema de Pritchard. Criaram possibilidades. E esse episódio trata também de responsabilidades, com o Xerife não ligando muito pra elas e deixando Mary de lado logo no que ela mais precisa, o tratamento de seu câncer. Primeiro por causa de jogos de azar, depois por causa de investigações e, finalmente, por causa de uma surra que toma, justamente por seu corpo estar se modificando. Como se não bastasse, o câncer de Mary vaza para a imprensa, o que gera alguns problemas econômicos e uma aposta sobre a data de sua morte bem para o dia da descoberta. Temos uma perseguição de paparazzi, temos funcionários não muito leais… e temos Otto com uma boa vontade gigantesca, mostrando o quanto se importa com sua irmã, mas que termina novamente com um desastre social. No entanto, essa humanização do rapaz robô é uma grata surpresa, pois o personagem era bem sem sal. O episódio também aborda um pouco mais da reaproximação de Duval e Pritchard, aprimorada desde o ultimo.

A cena final no qual Mary fala pra Otto que ambos deverão ficar tristes com a morte de Pritchard tem um clima fofo, mas não me faz esquecer o quão bom é esse episódio justamente pela questão da falha da teoria, porque esse é um ponto que muitas pessoas não entendem atualmente. Não é porque alguém teoriza cientificamente sobre algo que isso é totalmente correto ou apenas uma imaginação fértil. A teoria sem a prática é algo que deve ser valorizado nas suas devidas proporções, e Otto acaba por nos apresentar isso de forma grandiosa. Sua teoria não é um fracasso, é verdadeiramente espetacular, mas não haviam sido realizados testes com humanos antes, eliminando o fator da prática e, assim, inviabilizando a práxis. O saber se faz através da tentativa e do erro, através da adaptação. E é maravilhosamente irônico como o seriado nos apresenta isso tendo um “tanque de água” como parte preponderante da história. Lembrando Bruce Lee, a água, quando é posta em um copo, se torna o copo. Ela se adapta, como a teoria na prática. Faltou ao Otto ser como a água. Vamos ver como ele irá lidar com isso.

O que está achando da temporada de Second Chance? Deixe seu comentário e acompanhe nossas reviews a partir da próxima semana!


Vinicius Scoralick

Historiador, cinéfilo e psicanalista de séries. Duelista profissional de Yu-gi-oh!. O nerd que você jamais imaginou. Uma mistura de Zizek com Schopenhauer.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Black Mirror

Não assiste de jeito nenhum: Shonda Rhimes

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