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Série versus Livro – Orange is the new black

Por: em 3 de fevereiro de 2016

Série versus Livro – Orange is the new black

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers leves,

nada que estrague a série ou a sua experiência.

Uma das séries de maior sucesso dos últimos anos, Orange is the new black, produzida pelo Netflix, foi inspirada no livro homônimo e autobiográfico de Piper Kerman. A autora relatou sua experiência como detenta no Instituto Correcional Federal de Danbury, em Connecticut, após ser condenada a 15 meses de prisão por participação em um esquema internacional de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Mas o que há de diferente entre as duas obras? Quais foram as adaptações realizadas para transformar o livro em série? A conclusão que cheguei é que seria mais fácil procurar as similaridades. Livro e série são muito diferentes, o livro basicamente serviu como uma inspiração, mas a cada temporada a série se afasta mais dos eventos narrados no livro.

1 – Narrativa

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A série tem duas linhas narrativas. A narrativa do tempo real, na qual se mostra o dia-a-dia dentro de Litchfield, e outra que explora o passado das personagens, na maior parte das vezes exemplificando qual foi o seu delito. No livro, há apenas o tempo real. O livro explora as minúcias da vida na cadeia. Inclusive, é proibido perguntar a outras detentas sobre o seu delito. Imagino que esta norma sirva para preservar as relações dentro da cadeia e pouco se fala sobre o passado de outras mulheres. Esta é a maior adaptação e o maior mérito da série: Distribuir protagonismos, dar voz a todas as histórias. Isto permitiu que algumas das personagens que são brevemente mencionadas no livro pudessem crescer. Um ótimo exemplo é a Crazy Eyes que se tornou uma das personagens mais queridas e é brilhantemente interpretada pela premiada Uzo Aduba.

2- Piper Kerman x Piper Chapman

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O livro, portanto, é quase que completamente centrado nos dramas particulares de Piper. Isto não o torna uma leitura menos agradável, pois outra diferença crucial é a própria Piper. A Piper do livro em muito se diferencia da Piper da série. É verdade que ambas são mulheres de classe média alta, graduadas, dentro do padrão de beleza e que se envolveram com o tráfico para viver uma aventura e não por necessidade real de sobrevivência. Ambas se envolveram com Alex/Nora (No livro as personagens tem nomes diferentes). Mas a Piper do livro amadurece muito antes de vestir o macacão laranja pela primeira vez.

Do momento em que cometeu o crime até ser presa, decorreram quase 10 anos. Ela foi condenada, mas esperou a prisão em liberdade em troca do depoimento que ajudaria no processo contra o traficante que liderava o esquema. Todo este tempo, sua vida ficou em suspenso. Ela precisava de muito dinheiro para pagar os custos legais do seu processo, para isso trabalhava como diretora criativa de grandes empresas de telecomunicação e petrolíferas, clientes que seus amigos não gostavam de trabalhar. Todo este tempo deu a ela uma lição de humildade, deu a dimensão daquilo no que ela se envolveu. Não era uma “aventura”, era um crime federal. Se ela não tivesse um time jurídico de primeira (um dos muitos privilégios de ser uma mulher de classe média alta), ela certamente teria passado vários anos na prisão.

Piper é uma pessoa muito mais carismática e amável no livro. Ela é bem recebida e querida por todas na prisão. Algumas amizades perduram até hoje. Um dos motivos é que Piper se tornou uma espécie de faz-tudo na prisão, ela ajudava a todas com reparos e auxílio nas questões legais. Ela é muito solidária com as outras detentas. Essencialmente, a Piper da série está fazendo um caminho contrário, ganhando o respeito das detentas através de atitudes egoístas, fazendo com que muitas pessoas passem a gostar a cada dia menos da personagem.

3 – Relacionamentos com Alex/Nora e Larry

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Há uma inversão na série e nos livros. Na série, embora Larry seja noivo de Piper, o relacionamento é o que ela teve com Alex e que revive durante o cárcere. Entretanto, no livro, Larry não é apenas o noivo meio egocêntrico de Piper. Larry foi amigo de Piper por muito tempo, o relacionamento deles é muito sólido e cheio de companheirismo. Ele deu todo o suporte necessário para Piper enquanto ela esteve na prisão. Já Nora conquistou Piper por ser uma mulher misteriosa e mais velha, num momento em que ela queria ser parte da contracultura. Nora foi a promessa de uma aventura. O relacionamento delas chegou a um fim definitivo rapidamente. Na verdade, Nora não compartilhou o mesmo ambiente prisional que Piper, exceto por um breve período em que as duas foram relocadas para uma outra prisão para prestar o depoimento contra o traficante que chefiava a operação delas. Mesmo neste momento, as duas reataram apenas um laço de amizade. Aliás, em todo o livro, há muito menos romance entre mulheres do que na série e definitivamente, muito menos sexo.

4 – Situações parecidas, contextos diferentes

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Várias passagens do livro foram usadas como inspiração para tramas das série. Por exemplo, é verdade que Piper e Red/Pop tiveram um desentendimento logo que Piper entrou na cadeia, mas foi uma coisa bem menos agressiva. Red/Pop não se recusou a alimentar Piper porque ela criticou a sua comida, ela apenas insinuou que isso poderia ser considerado “incitação a motim” e que poderia ser motivo até de punição na Solitária. Contudo, Red/Pop acaba se tornando quase uma mãe para Piper, a relação entre as duas é de muita amizade, lealdade e companheirismo. Outro bom exemplo foi a ida de Nick/Nina para a prisão de segurança máxima, enquanto na série a personagem é levada como punição pelo envolvimento com heroína dentro da cadeia, no livro ela vai espontaneamente para entrar para um grupo de reabilitação e com isso diminuir sua pena.

5 – Menos conflito, mais solidariedade

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A prisão feminina retratada na série é cheia de disputas de poder entre as detentas. No livro, entretanto, está claro que o poder está nas mãos dos guardas. As detentas são muito solidárias, constroem amizades verdadeiras, vivem em relativa harmonia. Celebram as conquistas umas das outras e a soltura das amigas sempre deixa um sabor agridoce.


E você, leitor? Já leu o livro que deu origem à série? O que achou da adaptação?


Gizelli Sousa

Arquiteta, feminista, prefere uma noite de maratona de séries do que sair para a balada.

Brasília/DF

Série Favorita: The Walking Dead

Não assiste de jeito nenhum: Gilmore Girls, The O.C., One Tree Hill, Girls, Love

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